
Viralizou nas redes sociais uma página da Placar de dezembro de 1988 que explicava aos torcedores como comprar as camisas dos times. É completamente diferente dos três ou quatro cliques necessários hoje.
As negociações invariavelmente partiam dos próprios clubes, que enviavam pelo correio ou vendiam em seus estádios. Mas o que chamava a atenção era a influência clara de roupeiros nas negociações e até jogadores serem responsáveis pelo comércio, inclusive recebendo uniformes como parte do pagamento.
Comércio rústico
É por aí que começamos. Gigantes do futebol brasileiro como São Paulo, Corinthians e Palmeiras, que vendem mais de 2 milhões de camisas por ano, tinham um comércio bem mais rústico. Eram os roupeiros Tião (São Paulo), Miranda (Corinthians) e José Carlos (Palmeiras) os responsáveis pelas vendas.
Bastava ir aos centros de treinamentos e procurá-los. Para quem não estava em São Paulo, os clubes disponibiizavam suas caixas postais. Os interessados deveriam mandar uma correspondência já com o cheque nominal e aguardar o correio enviar.
Atletas negociavam
Outra curiosidade é que clubes da primeira divisão terceirizavam aos atletas a negociação dos materiais esportivos.
No Guarani, vice-campeão brasileiro de 1986, dois anos antes da edição da revista, era o lateral-esquerdo Hélcio (na revista, grafado Elcio) o "encarregado da venda depois dos jogos".
O jogador teve passagem no futebol gaúcho, fez parte do time do Grêmio campeão da Copa do Brasil de 1989 e rodou por Glória e Brasil de Pelotas. Em entrevista a ZH, o ex-jogador, que é educador físico em Curitiba, negou a história:
— Não sei, porque nunca participei disso e nem sabia que tinha essa história porque não participo de rede social. Nunca vendi camisa de clube. Quando joguei no Guarani, o único comércio que existia de venda de camisa era do próprio clube e da Adidas, que era a patrocinadora.

Santa Cruz e Portuguesa
Segundo a reportagem, outros dois clubes vendiam uniformes por meio dos atletas. Um deles era o Santa Cruz, com o lateral Lotti, já falecido. A Portuguesa também contava com o esse modelo. Mas, de acordo com a revista, cada jogador tinha direito a 10 camisas para negociar. Isso era uma forma de completar o salário. O goleiro Waldir Peres, titular da Seleção na Copa de 1982, era o "presidente da caixinha".
Grêmio e Inter
A dupla Gre-Nal tinha lojas próprias, além da correspondência. No Beira-Rio, os produtos eram vendidos na Inter Shop; no Olímpico, na Mosqueteiro.
Os colorados compravam, em média, 90 camisas por mês. E aí, mais uma curiosidade: a mais procurda era a de Taffarel. A Umbro fornecia os uniformes, que custavam 11,5 mil cruzados a de goleiro e 9 mil a de linha. Em valores atualizados pelo INPC, que considera troca de moeda e inflação, equivale a R$ 250 e R$ 195.
Os gremistas pagavam um pouco menos, 8,5 mil cruzados (R$ 183). Mas para receber, deveriam pagar 440 cruzados (R$ 9,50) pela postagem. A fornecedora era a Penalty. Os números mais procurados eram o 8 (Cuca), 7 (Jorginho) e 10 (Bonamigo). Não há a informação de quantas unidades eram vendidas.

Gaúchos na média
Na comparação com outros clubes, os gaúchos estavam na média. As do São Paulo, vendidas por Tião, custavam 3 mil cruzados (R$ 65). No Fluminense, o roupeiro Chimbica vendia a 4 mil cruzados, enquanto na loja custava 10 mil. A da Portuguesa saía por R$ 650. A justificativa é que o material, fornecido pela Mizuno, era importado do Japão.
Vida mais dura ainda tinham os torcedores de Criciúma, Athletico-PR, Goiás, Vitória, Bahia. Bahia, Vitória e Criciúma trocaram de fornecedor e ficaram sem camisas.
O Furacão não recebeu remessas suficientes da Adidas. E o Goiás tinha tão pouco material que proibiu os jogadores de trocarem de camisa nos finais dos jogos.