
Após a desclassificação no Mundial de Atletismo Indoor e a consequente perda da medalha de bronze no salto triplo, Almir Junior se pronunciou em suas redes sociais sobre o episódio que levou à sua desclassifição.
Terceiro colocado na prova, com a marca de 17m22cm, o atleta da Sogipa foi desqualificado pelo uso indevido de suas sapatilhas, que segundo a World Athletics (Federação Internacional) estavam fora do padrão exigido.
— A gente está ainda digerindo essa informação (desclassificação). A World Athletics (Federação Internacional de Atletismo) soltou uma normativa que a partir de 1º de novembro de 2024 todas as sapatilhas não poderiam ter mais de 20 milímetros de solado. E no caso da sapatilha usada (pelo Almir) ela tinha 25 milímetros — disse Edemar Alves, um dos oficiais da CBAt e chefe da delegação brasileira na China, em entrevista à Zero Hora no último dia 21, quando a prova foi realizada.
Nesta terça-feira (23), Almir disse estar "destruído por dentro". Segundo ele "voltar ao topo do mundo depois de tudo o que passei foi mais que uma vitória. Foi um renascimento".
A frustração de Almir é evidente e ele e seu staff ainda não entenderam os motivos dessa eliminação, até porque todos os seus resultados da temporada foram obtidos com o mesmo material e homologados pela Federação Internacional, assim como de atletas de outros países que se classificaram para a competição utilizando o mesmo modelo de sapatilha, incluindo o outro brasileiro da prova, Elton Pteronilho.
"Não falo aqui de regras, de decisões ou de culpados. Falo de tudo o que essa medalha representava. Falo do peso de um legado, de uma carreira construída com luta, suor e fé" prosseguiu Almir em sua Carta Aberta nas redes sociais.
A delegação brasileira apelou da decisão, mas teve o recurso negado. Existe agora, a possibilidade de um recurso no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) para tentar reaver a medalha.
Confira a carta aberta publicada por Almit Junior
"Estou tentando ser forte, tentando dizer a mim mesmo que está tudo bem, que vou fazer isso de novo, que pelo menos mostrei do que sou capaz. Mas a verdade é que estou destruído por dentro.
Sempre sonhei em representar meu país, levantar essa bandeira nas maiores competições do mundo e dar continuidade à forte e respeitada tradição brasileiro no salto triplo. Isso não é só esporte pra mim. É a minha vida. Minha história. Meu legado.
Todos sabem como é difícil ser um medalhista mundial no Brasil. Ser atleta profissional já é um ato de resistência - ser um dos melhores do mundo, então, parece impossível. Mas eu consegui. Já estive lá. Foi isso que mudou a minha vida. Foi quando deixei de sobreviver do atletismo e comecei, de fato, a viver do atletismo.
Desde então, venho lutando diariamente para me manter entre os melhores. Enfrentei críticas, dúvidas, mudanças. Tive que dar vários passos para trás em busca de um salto ainda maior. Aceitei a pressão, os riscos e segui trabalhando incansavelmente.
Depois de anos de reconstrução, consegui novamente mostrar quem eu sou e do que sou capaz. E, no momento em que finalmente consolido essa volta, me tiram isso. De forma inesperada, dolorosa, contraditória. Fruto de uma sequência de falhas que fugiram ao meu controle.
E é justamente por isso que eu não quero, agora, entrar nos detalhes do que aconteceu. O que mais me destrói não é só perder uma medalha. É ver uma conquista dessa magnitude arrancada das minhas mãos. Isso não é apenas um pódio. É a consolidação de uma carreira. De um legado.
No Brasil, infelizmente, a cultura esportiva ainda é movida a resultados. E saber que todo o meu esforço pode ser ignorado, colocado em dúvida ou até descredibilizado como se eu tivesse tentado levar vantagem, isso dilacera. Quem entende o mínimo de salto triplo sabe: nada me deu vantagem. "Eu sou a vantagem. O que me levou até ali foi treino, suor, dor e uma fé inabalável de que eu ainda tinha muito a mostrar ao mundo.
Essas conquistas são decisivas na vida de um atleta. Elas mudam tudo: a preparação, o apoio, o patrocínio, o respeito, a confiança, o futuro. E o topo é um lugar onde só cabem pouquíssimos. Não há margem para tropeços, para desconfiança, para dúvidas.
Hoje, volto para o Brasil sem medalha mais uma vez. Mas com o coração cheio de vontade de derrubar o mundo de novo, se for preciso. Porque se tem uma coisa que nunca vão tirar de mim, é essa minha fome de vitória".