Chegou ao fim, nesta quarta-feira (7), o julgamento de Daniel Alves no Tribunal de Barcelona, na Espanha. O jogador brasileiro foi acusado de agredir sexualmente uma mulher de 23 anos em uma casa noturna da cidade. A previsão é de que a sentença seja anunciada até o final de fevereiro, com prazo de 20 dias, conforme informações do jornal espanhol Marca.
O julgamento presidido pela juíza Isabel Delgado Pérez foi o centro das conversas na Espanha, visto que se trata de um marco para uma sociedade que luta, nos últimos anos, contra o patriarcado. Daniel Alves é o primeiro réu de renome a ser julgado desde a entrada em vigor da "Ley Solo Sí es Sí".
A primeira sessão ocorreu na segunda-feira (5) e durou seis horas. A audiência foi realizada de forma aberta, com a presença da imprensa em sala à parte, mas captações de áudio e imagem foram vetadas. Antes de começar, a defesa teve negado o pedido de anulação do júri, sob alegação de vazamento de informações à imprensa que criaram um julgamento paralelo e público.
O primeiro depoimento foi da vítima, que teve duração de 1h15min e foi concedido à portas fechadas. Ela ficou atrás de um biombo, para não cruzar olhar com o jogador, e teve a voz alterada. Essas medidas foram tomadas para proteger sua identidade. A vítima reafirmou o ato de violência sexual.
Depois dela, a amiga que convenceu a fazer a denúncia na noite do suposto crime e a prima prestaram depoimento. Segundo elas, Daniel não apresentava alterações ou sinal de embriaguez. O primeiro dia fechou com o garçom que atendeu o camarote em que estava o jogador naquela noite e o porteiro da boate, o qual revelou que, enquanto conversava com a vítima e buscava entender a razão do seu choro, Daniel teria passado por trás deles, a cerca de um metro, sem fazer qualquer intervenção.
Defesa focou na embriaguez de Daniel Alves no segundo dia
Na segunda sessão, realizada na terça-feira (6), eram previstos 22 depoimentos. No entanto, três foram descartados e 19 pessoas acabaram testemunhando. Destaque para duas: a esposa de Daniel Alves, a modelo Joana Sanz, e o amigo do jogador que esteve com ele na boate na noite do dia 30 de dezembro de 2022, o chef Bruno Brasil.
O amigo começou depondo e reforçou que Daniel estava embriagado. Segundo ele, o jogador teria bebido uma garrafa e meia de vinho, duas doses de whisky e, já no local, teria tomado quatro gim-tônica. Bruno reconheceu que falou com a vítima, a prima e amiga no local, mas afirmou que ele e Daniel foram respeitosos com elas no camarote em que estavam.
Por fim, o depoimento da mulher de Daniel Alves, a modelo espanhola Joana Sanz, corroborou a versão de embriaguez do marido. Ela disse que um drama familiar e a perda recente da Copa do Mundo foram os gatilhos que fizeram Daniel beber além da conta naquele final de 2022.
Uma terceira testemunha que coincidiu com a linha de embriaguez do jogador foi o atendente do camarote. Rafael Lledá disse em seu depoimento que não via o jogador com o comportamento de sempre e o percebia alterado. Os outros depoentes, entretanto, trouxeram elementos que reforçaram a versão apresentada na segunda pela vítima.
Daniel fala no encerramento do julgamento
Antes do depoimento do jogador, a terceira sessão começou com com profissionais da área médica testemunhando. Um dos médicos que atendeu à vítima no hospital ressaltou o estado dela ao chegar ao local, com visível "sentimento de medo".
Uma psicóloga forense afirmou que a denunciante não apresentava nenhuma indicativa "de que poderia estar exagerando ou simulando.
O depoimento de Daniel Alves reiterou a tese de que estava embriagado. Foram apenas 20 minutos de relato, em que descreveu com detalhes de como se deu o ato sexual com a jovem que o acusa de estupro. De acordo com o jogador, em "nenhum momento" houve sinal de não existia consentimento.
Nas considerações finais, a Promotoria ressaltou a veracidade do relato da vítima, citando indícios e provas que o tornam crível. Outro ponto foi de que a vítima manteve a mesma versão desde o primeiro contato com a polícia espanhola.
Posteriormente, falaram Ester Gárcia, advogada da denunciante, que reforçou o dano sofrido pela jovem de 23 anos, e Inés Guardiola, advogada de Daniel Alves, que pontou houve "atração sexual entre eles".
Daniel Alves teria direito a dar uma última palavra, mas optou por não dizer mais nada. A defesa do brasileiro pediu sua liberdade provisória. Já a Procuradoria pediu a manutenção da prisão provisória.
Agora, cabe à Justiça espanhola decidir sobre o pedido de liberdade provisória de Daniel Alves. A resposta deve sair nos próximos dias. Em relação à sentença final, a expectativa é de que ela saia ainda neste mês. As partes poderão recorrer da decisão no Tribunal de Apelação, a segunda instância do sistema judiciário do país europeu.