O Mundial de Clubes passa a ser o título mais desejado de qualquer clube que consegue alcançar a "Glória Eterna" da Libertadores. Representante da América do Sul em 2023, o Fluminense iniciará nesta segunda-feira (18) sua caminhada em busca do tão sonhado título de melhor clube do mundo.
O adversário na semifinal será o campeão africano Al-Ahly, que deixou para trás o estrelado Al-Ittihad, time saudita, liderado por Benzema. O confronto será às 15h, no King Abdullah Sports City, em Jidá, na Arábia Saudita.
Para chegar até o torneio, o Fluminense teve a missão de conquistar a América pela primeira vez na sua história. Comandado por Fernando Diniz, o tricolor das Laranjeiras fez uma campanha surpreendente, eliminou fortes adversários e superou a tradição do Boca Juniors na decisão.
— Não é porque você trabalha muito que você vai ganhar, mas trabalhar muito e sonhar todos os dias que é possível te aproximar das conquistas e foi o que nos trouxe até aqui. Continuamos trabalhando muito, sem parar, e sonhando também — afirmou Diniz em entrevista coletiva antes da decisão.
O caminho até a Arábia Saudita
Para chegar ao Mundial de Clubes, o Fluminense teve uma difícil Libertadores para vencer. Com um primeiro ano de trabalho agradável de Diniz em 2022, a manutenção do treinador foi um passo importante para chegar ao título. Um estilo de jogo já consolidado, aliado às chegadas de bons nomes, como o lateral-esquerdo Marcelo, parecia ser o que faltava para o Flu bater de frente contra os campeões das últimas quatro Libertadores (Palmeiras e Flamengo).
Na fase de grupos, um gigante pela frente. Contra o River Plate, uma vitória expressiva no Maracanã por 5 a 1 mostrou o potencial do time de Diniz. Mesmo com derrotas na Argentina e na altitude de La Paz para o The Strongest, o tricolor carioca terminou com a liderança do grupo.
Nas oitavas, novamente um argentino pela frente. Empate fora e boa vitória no Rio de Janeiro contra o Argentinos Juniors credenciaram o Fluminense como um dos candidatos ao título. Mais do que isso, aconteceu o surgimento do grande amuleto de Diniz na fase decisiva da Libertadores: John Kennedy.
O atacante não começou a temporada no elenco, uma vez que estava emprestado a Ferroviária-SP e retornou ao Flu após a disputa do Paulistão. No duelo contra a equipe argentina nas oitavas, ele marcou o gol que sacramentou a classificação, aos 53 minutos do segundo tempo.
Nas quartas de final, todos esperavam um Fla-Flu. Entretanto, o Olímpia, do Paraguai, surpreendeu e eliminou o Flamengo. Não tendo nada a ver com isso, o Fluminense fez sua parte e avançou. Duas vitórias, três gols de Germán Cano — marcou 37 vezes na temporada —, e novamente gol de John Kennedy.
Na semifinal, o adversário foi o Inter. Dois jogos equilibrados e dramáticos. No Maracanã, 2 a 2, com o Flu atuando com um a menos durante o segundo tempo inteiro. Cano salvou e marcou os dois gols. No Estádio Beira-Rio, tudo indicava que o Colorado chegaria a final, pois vencia até os 36 minutos da segunda etapa.
Contudo, o amuleto de Diniz foi decisivo. Entrou no jogo para marcar um gol e dar a assistência para Cano garantir o clube carioca em mais uma final da Libertadores. O palco seria o Maracanã, com grande apoio da torcida, mas com o velho fantasma de 2008 assombrando. Naquele ano, o Fluminense perdeu o título, no mesmo estádio para a LDU.
No entanto, em 2023 a história foi diferente. Cano abriu o placar, mas o Boca Juniors — que eliminou o Palmeiras na outra semifinal — empatou na segunda etapa. O drama da prorrogação aconteceu, mas o Fluminense tinha John Kennedy. O atacante marcou em todas as fases do mata-mata e foi o responsável pelo gol do título inédito.
— Não foi algo que aconteceu na casualidade, foi muito trabalho — ressaltou Diniz.
Intensidade e experiência no Flu
Para que Cano e Kennedy fizessem os gols importantes, o time todo do Fluminense trabalhava para isso. Tudo começou com experiente goleiro Fábio, que teve a missão de "aprender" a sair jogando com os pés e trouxe segurança à meta tricolor. O bicampeão da Libertadores Felipe Melo se encontrou como zagueiro ao lado do talentoso Nino, que recebeu suas primeiras chances na Seleção Brasileira.
Marcelo, multicampeão na Europa, aparecia no papel como lateral-esquerdo, mas desfilava por todo o meio-campo ajudando Paulo Henrique Ganso na armação do time. Na proteção do meio, André se consolidou como um dos principais volantes do Brasil, também vestiu a amarelinha e deve deixar o Flu após o Mundial. Pelos lados do campo, Keno e John Arias usaram velocidade e habilidade para criar oportunidades e serão importantes no Mundial.
Na semifinal, a dúvida para o jogo contra o Al-Ahly é na lateral-direita. Samuel Xavier sofreu uma entorse na reta final do Brasileirão e foi substituído por Guga. No entanto, ele participou do último treino em Jidá e deve aparecer entre os titulares.
Dessa forma, Diniz deve mandar a campo: Fábio; Samuel Xavier, Nino, Felipe Melo e Marcelo; André, Matheus Martinelli e Ganso; Arias, Keno e Cano. O amuleto John Kennedy deverá começar no banco, mas entrará durante o jogo para quem sabe fazer mais história.
Um adversário difícil pela frente
Antes de pensar na final e em um possível jogo contra o Manchester City, de Pep Guardiola, o Fluminense terá de passar pelo Al-Ahly, do Egito. A equipe disputa o Mundial de Clubes pela nona vez e chegou cinco vezes às semifinais.
Nenhuma vez avançou desta fase, mas costuma dar trabalho aos brasileiros. Em 2020, por exemplo, disputou o terceiro lugar contra o Palmeiras e venceu, conquistando assim sua melhor colocação no torneio.
Na África, o clube é o maior campeão, com 11 títulos conquistados. Dentro do Egito, o domínio é ainda maior, porque são 43 títulos nacionais e o orgulho de dizer que nunca foi rebaixado.
Para chegar até a semifinal, o Al-Ahly superou o Al-Ittihad de Marcelo Gallardo. Mesmo com estrelas como Benzema, Kanté e Fabinho, o clube saudita saiu derrotado por 3 a 1, com destaque para o meia Amam Ashour, autor de um gol e que ditou o ritmo de jogo do time egípcio. Destaque também para o sul-africano Percy Tau, o artilheiro da equipe, com cinco gols marcados, na atual temporada.
Um possível duelo de ideias na final
Quando se pensa em Mundial de Clubes, espera-se na final o duelo entre o campeão da Libertadores da América e da Champions League. O atual vencedor europeu é o Manchester City, que assim como o Fluminense conquistou o sonhado título pela primeira vez.
A equipe inglesa tem Pep Guardiola como treinador. O espanhol vai completar seu sétimo ano na Inglaterra e é considerado um dos melhores do mundo. Isso se reflete pelas conquistas que teve por Barcelona e Bayern de Munique no passado, assim como o sucesso recente com o City, um clube que recebeu investimento financeiro em 2008 e demorou a vencer a Champions League.
Guardiola tornou isso possível, com um estilo de jogo já bastante conhecido, mas difícil de neutralizar. A ideia se destaca ainda mais por conta dos grandes talentos no time, como o meia Kevin De Bruyne ou o centroavante Haaland — autor de 50 gols em 2023.
O norueguês é dúvida para disputar o Mundial de Clubes, pois está sofrendo com um estresse ósseo no pé. Ele foi poupado do último jogo do City pelo Campeonato Inglês e não é dado como certo na semifinal contra o Urawa Red Diamonds, do Japão, nesta terça-feira (19), às 15h.
Confirmando o favoritismo, o time de Guardiola poderá ter pela frente o Fluminense de Diniz. Dois treinadores com ideias de jogo parecidas, principalmente tendo vontade de jogar com a posse de bola a todo instante.
— Tem algumas coisas que aproximam o jeito de jogar. O principal é a vontade de jogar com a bola e, se possível, promover um jogo bonito. Mas não tem nada de ser uma cópia, muito pelo contrário. O caminho de fazer esse processo é de cada um — explicou o treinador do tricolor carioca.