Vestido com uma camisa argentina por menos de três euros, Shafeeq Saqafi é um dos 15 mil trabalhadores migrantes do Catar em um estádio localizado em um bairro remoto de Doha, capital do emirado, para assistir ao segundo jogo da equipe de Lionel Messi no sábado (26) na Copa do Mundo.
Ao lado de um shopping e cinemas em um complexo de entretenimento para imigrantes do sul da Ásia chamado "Asian Town", este campo recebe regularmente partidas de críquete.
A Copa do Mundo de futebol atrai um número sem precedentes de trabalhadores, entre os mais pobres do país do Golfo, que moram em casas próximas, longe do luxuoso centro de Doha.
Esta zona de torcedores, onde um DJ entretém o público masculino com músicas pop hindi e vídeos de Bollywood, é o que os aproxima da Copa do Mundo, especialmente depois que eles mal conseguiram comprar alguns dos milhares de ingressos vendidos por 40 riais do Catar (10 euros, 10,4 dólares).
Enquanto assistem à vitória da Argentina por 2 a 0 sobre o México, Saqafi e seus amigos torcedores da seleção sul-americana não sabem que a mídia europeia suspeita que possam ser "fãs falsos" pagos pelo Catar.
Em vez disso, eles admitem comprar camisetas falsificadas, pois não podem gastar 90 euros (90,7 dólares) por uma original.
- "Baixo custo" -
"Eu não podia me dar ao luxo de ter um nome impresso nas costas, mas esta camisa era algo que eu realmente queria", confessa Saqafi, de 32 anos, que ganha pouco mais de 400 euros (416 dólares) por mês na hotelaria e envia mais da metade para sua família em Bangladesh.
"É muito difícil no Catar, o trabalho é duro. Mas meu salário melhorou e não vou voltar para casa", diz Yaseen Gul, que trabalha há dez anos em uma empresa de eletricidade e veio ao estádio "para se divertir a baixo custo".
No Catar, uma xícara de chá custa menos de um euro. Ainda é muito para alguns, mas "não há pressão para comprar nada, então estou grato", diz Shaqeel Mahmoud.
Forçado a deixar o local antes do apito final para ir trabalhar, este bengali não tinha dinheiro para comprar ingressos para a partida.
Saqafi, Gul e Mahmoud estão entre os 2,5 milhões de trabalhadores estrangeiros que consolidaram o milagre econômico do Catar, bombeando petróleo e gás, construindo estádios e infraestrutura para a Copa do Mundo e administrando dezenas de hotéis que foram inaugurados nos últimos cinco anos.
As ONGs alegam que esses trabalhadores sofrem abusos em massa. O Catar, por sua vez, diz que aprovou um salário mínimo de cerca de 265 euros (275 dólares), melhorou os padrões de segurança, reduziu as horas de trabalho durante os períodos de alto calor do verão e estabeleceu um sistema de compensação para salários não pagos.
* AFP