Ex-centroavante do Inter e de outros grandes clubes, como Botafogo, Corinthians, Fluminense e Atlético-MG, Rafael Moura trocou os gramados pelas areias. Desde que anunciou a aposentadoria do futebol, no início do ano, o "He-Man" é atleta profissional de beach tennis, esporte que virou febre no Brasil. Aos 39 anos, o ex-atacante será uma das atrações da Sul Special Cup, etapa do Rio Grande do Sul do circuito mundial da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês), que ocorrerá entre os dias 24 e 27 de novembro, no resort Vila Ventura, em Viamão.
Em entrevista a GZH, Rafael Moura explicou como foi o seu ingresso no beach tennis e comentou a sua expectativa para a competição.
Como surgiu a sua relação com o beach tennis?
Sempre gostei muito de esportes de raquetes. No Rio Grande do Sul, quando jogava no Inter, tive muito contato com o padel e o tênis, pois costumava jogar com os meus vizinhos. O meu primeiro contato com o beach tennis foi nas férias de 2013, quando eu, aliás, já estava no Inter. Nas minhas férias em Trancoso e em Porto Seguro, vi na praia uma rede um pouquinho mais alta, com o pessoal jogando a bola com uma raquete de um lado para o outro. Aquilo me chamou atenção. Curioso que sou, fui brincar e não consegui sair mais. Desde então, comecei a jogar beach tennis. Saí da Bahia com quatro raquetes, uma rede e as marcações e trouxe para Belo Horizonte. Tinha já na minha casa uma quadra de futevôlei, então ai foi fácil fazer a migração para o beach tennis. Mas nesta época, não passava de uma brincadeira. Eu jogava cinco a seis dias por ano nas férias com a família, para brincar mesmo.
E como você decidiu se tornar um atleta profissional de beach tennis? Foi logo ao encerrar a carreira no Botafogo?
No ano passado, quando eu estava no Botafogo, morando no Rio, um grande centro do beach tennis, eu morava na frente do local onde a Joana Cortez (brasileira, ex-número 1 do mundo) e a Flaminia Daina (italiana, atual número 6 do mundo) davam aulas, na praia. A minha esposa começou a fazer aula com elas, e elas me convidaram um dia para descer e brincar. Como eu já tinha contato com o beach tennis, mostrava ter noção e entendimento do esporte, elas me convidaram para treinar cada vez mais. Elas formavam dupla no circuito naquele momento e precisavam de um sparring, alguém com físico bom, que tivesse ritmo e desse volume ao jogo. Então, eu treinava com elas. Foi uma coisa divertida, mas que começou a ficar séria. Mas, como eu jogava no Botafogo, não tinha como me dedicar mais. Depois que eu anunciei a minha aposentadoria (ao final de 2021), segui morando no Rio até março e comecei a treinar todos os dias em dois turnos. Já joguei cerca de 10 torneios ITFs, já cheguei a ser 380 do mundo e hoje estou por volta de 420 ou 430.
Qual a sua meta no beach tennis?
Me considero cada vez mais um profissional de beach tennis. Não só pelos resultados, mas pelo tanto que estou me dedicando e treinando. Meu objetivo é bater em número 100 do mundo, o que seria um grande sonho.
A experiência de atleta profissional de ponta no futebol ajuda você a ser um beachtennista de destaque?
O domínio que eu tenho é primeiro físico. Graças a Deus, não tive nenhuma lesão mais séria que me atrapalhasse na minha carreira. Mas sou alucinado e apaixonado por qualquer tipo de esporte e, modéstia à parte, sempre joguei bem diversas modalidades, como vôlei, basquete e handebol, desde a escola. Nos anos 90, fui campeão do mundo e conquistei vários títulos sul-americanos e pan-americanos de bicicross. Digamos que agora está sendo a terceira modalidade esportiva que eu disputo de forma profissional. Claro que, pela minha experiência no futebol, eu tenho mais facilidade de fazer a transição para o beach tennis do que a maioria dos amadores que se tornam profissionais. Claro que, em comparação com os top-10 e top-50 do mundo, eu ainda preciso melhorar muito a minha técnica. Os adversários no beach tennis comentam que parece que eu chego em todas as bolas já sabendo onde ela vai cair. Então, larguei na frente de outros amadores para poder já me definir como profissional.
E há vantagem também na questão mental? Para quem já fez gol na Arena lotada em Gre-Nal é mais fácil sacar em um momento de pressão, por exemplo?
O engraçado é que tem sido bem desafiadora essa questão mental. Eu também pensei que seria fácil, que eu tiraria de letra. Mas não, tem pesado. Às vezes, tenho ficado com bracinho de dinossauro, porque é tudo muito novo para mim. São apenas nove meses praticando o esporte quase que diariamente. Antecipei e pulei várias etapas de treinamento, de qualificação técnica e momentos decisivos. Então, não tenho essa segurança. No futebol, treinei desde os 9 anos de idade a bater pênalti, a fazer gol e a decidir jogadas. Então, tinha muito mais confiança em mim mesmo nos movimentos do futebol. Mas, no beach tennis, não é assim. Claro que estou à frente de muitos que não vivenciaram o que eu vivenciei, como a pressão de vestiário, da torcida, dos companheiros e da diretoria. Mas, como não domino 100% o esporte, ainda tenho dúvidas do que fazer em quadra.
E como será para você jogar a Sul Special Cup no Vila Ventura, em um local onde você participou de tantas pré-temporadas pelo Inter?
Para mim, tem sido uma experiência e uma expectativa únicas. Primeiro porque eu voltei muito pouco ao Rio Grande do Sul depois que saí do Inter. Voltei só nos jogos contra as equipes aí de Porto Alegre. A passeio, não consegui retornar. Eu e minha família estamos com muita expectativa. Quando fiquei sabendo que o torneio seria no Vila Ventura, fiquei muito feliz. Nós no futebol, estamos acostumados aos melhores hotéis, mas mesmo assim, nas nossas intertemporadas, nos chamava atenção a harmonia, o arvorismo, a gruta, a piscina aquecida e todo o capricho do Vila Ventura. Isso é na verdade uma carcaterística da região sul, não só em Viamão, mas também em Gramado, Canela, Bento... Vocês sabem muito bem receber os turistas e os visitantes. Eu vou ser meio guia da galera. Comentei já que tinha jogado e treinado lá, e todo mundo me pergunta sobre o hotel. Tenho certeza de que a organização vai fazer um grande torneio. Todo mundo está extremamente empolgado com a Sul Special Cup, pela organização, pela competição e pelos 200 pontos no ranking.
Você vai jogar com o gaúcho Roberto Ely, que foi campeão recentemente do União Open. Como você projeta que será essa dupla?
Será um prazer jogar com o Roberto. Quem montou a nossa dupla foi o Mingo (Alex Mingozzi, atleta italiano, morador de Porto Alegre e técnico da seleção brasileira de beach tennis), que teceu vários elogios ao Roberto. É um cara que não roda muito o circuito por compromissos pessoais, mas tem muita qualidade. É um cara maior que eu no circuito. As recomendações são as melhores, e a expectativa é muito boa para a nossa dupla. Acho que vai dar liga.
Quais são as tuas características como beachtennista? Como bom centroavante, a definição é o teu ponto forte?
Sou um cara físico e explosivo, mas o beach tennis hoje não permite você ter só uma característica. Consigo dar um pouco mais de volume, mas como bom centroavante, sou sim aquele atleta mais definidor. Espero que o meu parceiro e eu consigamos criar oportunidades para definirmos os pontos. Ao longo da minha carreira no futebol, o tempo de bola, o cabeceio e o salto talvez foram as minha melhor características. No beach tennis, não posso fugir disso não. Quando a bola sobe, tenho que ser agressivo e definidor.
Você tem 39 anos. Até quando você pretende jogar beach tennis profissionalmente? É um esporte em que o atleta tem uma vida útil maior do que no futebol?
É difícil dizer isso. Se estivesse há 21 anos jogando beach tennis, com 39 anos, talvez eu não tivesse mais paciência e não estivesse mais disposto a pagar o preço do dia a dia do esporte. Mas para mim está sendo tudo novo, estou fresco, saudável e bem fisicamente. Acho que posso ir por mais uns bons anos. Mesmo no futebol, eu poderia jogar profissionalmente mais uns dois ou três anos. Não deixaria a desejar fisicamente para nenhum atleta mais jovem.
Mas então por que você largou o futebol? Foi pela vontade de jogar beach tennis?
A minha aposentadoria do futebol foi por conta do desgaste emocional e pelo tempo longe da família. No beach tennis, eu viajo, mas consigo ter mais qualidade de vida. De sete dias da semana, não preciso ficar quatro dias concentrado. Em um torneio de quatro dias, saio todo dia para jantar e convivo com todo mundo, o que tem feito um bem enorme para a minha cabeça. Enquanto tiver fisicamente bem, vou dar seguimento ao esporte.
Muita gente destaca o quanto o beach tennis ajuda na saúde mental das pessoas. O esporte tem feito bem para a sua mente também?
Esse é um assunto importantíssimo. O beach tennis veio para salvar várias vidas e várias mentes. Por causa do beach tennis, várias pessoas sedentárias passaram a se exercitar. É um esporte fácil de aprender. Em muitas modalidades, a pessoa precisa de seis meses de prática para poder jogar. No beach tennis, qualquer pessoa rapidamente já consegue jogar e se divertir. O beach surgiu na minha vida quando eu tinha acabado de perder a minha mãe, que era meu porto seguro. Vieram muitos pensamentos negativos e muitas coisas ruins na minha mente. Então, descobri o beach tennis, que é um esporte inclusivo e divertido. Você joga com pessoas de vários níveis e fica na resenha com elas depois da partida. Fez um bem enorme para a minha vida e para a minha família