
O choque de realidade que Grêmio e Inter impõem às suas torcidas no Gre-Nal deste sábado (10) traz números esdrúxulos. Somados, os dois gigantes que se enfrentam na Arena têm o mesmo número de pontos do Juventude, que está na 13ª posição. Juntando os 10 pontos do Inter e os dois do Grêmio, não se chega à pontuação do Ceará e do Atlético-GO, que já fizeram 14 pontos cada. Os 12 pontos da Dupla que orgulha os gaúchos por tudo que já conquistou no Brasil, na América e no mundo ainda ficam 10 atrás do Bragantino, que tem os mesmos 22 pontos do líder Palmeiras. É nesta condição inédita que Grêmio e Inter prometem um clássico para testar cardíaco.
Luiz Felipe pode até não realizar neste sábado a cirurgia que já era para ter sido feita no time há muito mais tempo, mas vai tentar promover em campo uma atitude dos jogadores completamente diferente da que vem sacrificando torcedores e torcedoras de azul. O Grêmio anda jogando tão errado que induz boa parte de sua torcida a crer em falta de empenho. Não tenho elementos para concluir que há desinteresse dos boleiros.
No entanto, o desequilíbrio emocional de muitos deles tira naturalidade do gesto técnico, do fundamento e do entendimento coletivo. Quanto mais perde, mais o Grêmio fica próximo de outra derrota. Este círculo vicioso terrível precisa ser interrompido e não basta um empate para tanto. Um ponto significará apenas o terceiro em 27 disputados, inaceitável sob qualquer prisma.
Se Guilherme Guedes deve mesmo assumir a lateral esquerda, Vanderson deveria ficar com a direita. O desenho de emergência pode mudar para três zagueiros, talvez Lucas Silva assuma a primeira posição do meio e Darlan ou Jean Pyerre tenha chance na armação. A possibilidade de Luiz Felipe liberar Douglas Costa pelo campo é grande. O camisa 10, aliás, empenha-se em ser o protagonista. Se mais não consegue fazer ainda é porque sua condição física não lhe autoriza. Não duvido que o meia-atacante encare o jogo deste sábado como definitivo para dar o salto a outro patamar. Diego Souza pode ter outra oportunidade ou ser substituído pelo vigor e explosão de Ricardinho. O time do Grêmio é, combinemos, uma obra completamente aberta em julho.
Diego Aguirre tem boa lembrança do enfrentamento com o técnico adversário, mas se trata de um tempo que não guarda nenhuma semelhança com o cenário atual. Seis anos atrás, quando foi campeão gaúcho, sua equipe contava com Aránguiz, D'Alessandro e Nilmar a pleno. Tinha Valdívia antes da lesão do joelho jogando barbaridade. A qualidade de hoje é muito menor e Gre-Nal tem sido devastador para o emocional do time colorado desde 2018. O retorno de Cuesta e Edenilson eleva a condição técnica geral da equipe. Porém, a parceria do argentino na zaga é um deserto, como deserto é também o setor de criação no meio-campo. Boschilia vai tentar queimar etapas do que seria sua completa recuperação técnica. Na frente, Caio Vidal tem sérios problemas de acabamento e Yuri Alberto anda com a concentração em lugar incerto e não sabido. O treinador argumentou com falta de tempo depois da sinistra derrota para o São Paulo no meio da semana. De fato, pouco mais de quinze dias de trabalho está longe do ideal para quem precisa estancar a sangria do desencaixe de um conjunto que poucos meses atrás alcançava o vice-campeonato brasileiro. A realidade espanca a queixa.
Não é só o Inter que se vê atropelado pelo calendário. Aliás, já nem há Copa do Brasil para os colorados. Outros concorrentes vivem cenários piores. Em situação normal de temperatura e pressão, empatar clássico na casa do rival seria resultado que não se discutiria. Mas é anormal a cena do Inter. Não há vitória em casa. As duas que constam na tabela foram conquistadas longe do Beira-Rio. O atraso como anfitrião cobra alto preço para maiores ambições do Inter. Para neutralizar o mau começo, será preciso um desempenho excepcional nos jogos que restam, a começar pelo Gre-Nal da Arena. O empate seria para Inter e Grêmio o abraço dos afogados.
Não consigo apontar favorito neste clássico. Se existisse a palavra, ambos seriam "desfavoritos". O jogo será emocionante porque um dos gigantes, com vitória, ensaiará mudança de rumo no Brasileirão. O perdedor precisará reunir toda maturidade escondida nos cantos para recomeçar após a derrota.
Até que provem o contrário, Grêmio e Inter terão que lidar com o incômodo de primeiro evitar o pior para só depois tentar o melhor. Na sua história, Grêmio e Inter já viveram dores ainda piores do que um mau início de Brasileirão. A hora requer das torcidas a mais irrestrita lealdade. Não que fiquem proibidas da devida crítica. Mas crises e maus jogadores passam. Os clubes restam intactos. A RBS TV mostra às 16h30min deste sábado um jogo impactante e sedutor pelas mais inesperadas razões. Ainda assim, imperdível.