Além da amizade e dos feitos históricos alcançados como treinadores de Grêmio e Inter, Renato Portaluppi e Abel Braga têm semelhanças na forma de trabalhar. Os dois são os técnicos com perfis de "paizão", daqueles que se aproximam dos jogadores e conseguem trazer para o vestiário uma leveza tão fundamental em um esporte de tamanha cobrança como o futebol. Junto com os títulos, essa característica ajudou a dupla a atingir as marcas tão expressivas nos dois gigantes clubes gaúchos.
Quando Renato Portaluppi desembarcou em Porto Alegre em setembro de 2016 para sua terceira passagem como técnico do Grêmio, o clube amargava um incômodo jejum de 15 anos sem grandes títulos. Ainda que Roger Machado tenha tido bons momentos, a fase final de sua trajetória foi marcada por uma queda de rendimento do time que culminou em sua demissão. Renato fez poucas mudanças técnico e táticas, mas, sobretudo, conseguiu devolver a confiança aos jogadores. Com ânimo em alta, o Tricolor passou com autoridade por Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG para conquistar o penta da Copa do Brasil em dezembro daquele ano.
A sequência foi ainda melhor com o tri da Libertadores, em 2017, e o bi da Recopa Sul-Americana, em 2018. Nos últimos anos, o Grêmio retomou a hegemonia estadual com o tri do Gauchão e alcançou uma importante invencibilidade de 11 Gre-Nais que será defendida neste domingo (24) no Beira-Rio, quando o Tricolor tentará também a vitória para ficar ainda mais vivo na briga pelo título do Brasileirão.
O presidente Romildo Bolzan Júnior, que já declarou que Renato tem um custo-benefício barato para o Grêmio em razão das conquistas e do aproveitamento dos jovens, ressalta o perfil agregador do treinador.
— O trabalho do Renato no Grêmio é de longo prazo, é vitorioso, de muitos campeonatos, de muita formação, de muito estímulo e organização no vestiário, principalmente com grupos dispostos a vencer, sempre muito obstinado nesse sentido. Todos os campeonatos são consequências exatamente desse espírito vitorioso que ele implementa nos elencos em que trabalha — disse Romildo.
Abel com a missão de acabar com jejuns
A chegada de Abel Braga ao Beira-Rio nesta temporada não se deu em um momento ruim do Inter. O clube liderava o Brasileirão e estava vivo nas disputas de Libertadores e Copa do Brasil. Ainda assim, o treinador não encontrou o grupo no melhor momento anímico já que a saída de Eduardo Coudet de forma inesperada afetou o vestiário.
Abel até manteve a equipe do jeito que o argentino montava em sua estreia diante do América-MG, mas logo começou a adequar o time ao seu perfil, com mudanças que foram surtir efeito positivo no jogo de volta contra o Boca Juniors pelas oitavas de final da Libertadores. Apesar da eliminação nos pênaltis — o que também havia acontecido na Copa do Brasil —, a vitória no tempo normal na Bombonera recuperou a confiança para o Inter encaminhar a sequência de sete vitórias seguidas no Brasileirão.
Com jovens como Praxedes, Caio Vidal e Yuri Alberto se tornando fundamentais e nomes contestados como os laterais Rodinei e Moisés se afirmando na equipe, Abel devolveu à torcida a esperança de conquistar o Brasileirão após 41 anos com sete vitórias seguidas. Antes da quebra do jejum do título nacional, a torcida espera que venha o fim do tabu em Gre-Nais neste domingo.
O presidente do Inter Alessandro Barcellos elogia a forma de trabalhar de Abel Braga e sua comissão e aponta a identificação do treinador com o clube como um ponto importante para a arrancada colorada no Brasileirão.
— Nós temos convicção de que o trabalho do professor Abel Braga tem sido fundamental para esse momento da competição, para a união do grupo e para esse trabalho dos jogadores. O Abel tem essa característica, de trabalhar muito bem essa relação com seus grupos e tem uma identidade com o Inter. Isso aflora nesses momentos decisivos. O momento é importante e fruto de um trabalho fundamental feito pelos nossos atletas sob o comando do Abel e sua comissão — destaca Barcellos.
Ex-lateral-direito da Dupla Gre-Nal, Gabriel foi comandado por Abel Braga no Fluminense e por Renato Portaluppi no Grêmio e também no clube carioca. Ele aponta as similitudes dos dois treinadores:
— Vejo bastante semelhanças nos dois, que foram os melhores treinadores que eu tive. As minhas melhores fases da carreira se devem também a eles. Com o Abel, melhor lateral do Brasileirão em 2005. Depois, com o Renato, também tive ótima fase. Os dois são sensacionais no vestiário. Eles conseguem deixar o jogador à vontade, sabem extrair o melhor que o atleta tem para dar. Eles conversam com os atletas, são parceiros sempre. Por isso, os times dirigidos por eles são tão vencedores.
Neste domingo, Abel e Renato irão se enfrentar pela primeira vez em um Gre-Nal. Quando o árbitro Luiz Flávio de Oliveira apitar o final da partida, já no começo da noite porto-alegrense, saberemos quem terá dado a alegria para a sua torcida, o "paizão" azul ou o "paizão" vermelho.
O que vale o Gre-Nal para o Inter
1) Conforto na tabela
Conquistar três pontos significaria a manutenção da liderança da competição nacional, podendo abrir para o segundo colocado uma diferença entre um e quatro pontos, dependendo de resultados paralelos com São Paulo, Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras. Se empatar, o Inter também deve manter a liderança, a menos que o São Paulo aplique uma goleada no Coritiba.
2) Fim do jejum em clássicos
A vitória significa quebrar um tabu que já dura 11 Gre-Nais, dando confiança para a sequência do Brasileirão. A última vez que o Colorado ganhou do Tricolor foi em setembro de 2018, quando Edenilson fez 1 a 0 em jogo válido pelo returno do Brasileirão daquele ano. Desde então, são seis vitórias para o time de Renato Portaluppi e cinco empates.
3) Atrapalhar os planos do rival
Se do outro lado o Grêmio considera importante sair vivo da sequência de confrontos diretos no Brasileirão para seguir em busca do título, uma vitória do Inter na partida de domingo poderia significar o fim da pretensão gremista do tri do brasileiro. Além disso, poderia complicar até mesmo a briga por uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores de 2021.
O que vale o Gre-Nal para o Grêmio
1) Gás em busca do título
Conquistar três pontos significaria diminuir a diferença para o líder da competição, posto atualmente ocupado pelo Inter, com oito pontos a mais que o Tricolor, no momento. Se o Grêmio de Renato realmente quer seguir na briga pelo título da competição, o resultado positivo é quase obrigatório, mesmo que ainda tenha confrontos diretos contra outros concorrentes da parte de cima da tabela, como Flamengo e São Paulo.
2) Manutenção da invencibilidade em clássicos
A última vez que o Grêmio perdeu para o Inter foi em setembro de 2018. Aumentar a série invicta, que já soma 11 jogos, contra o principal rival pode dar ainda mais confiança para o Tricolor para a reta final do Brasileirão e também para as finais da Copa do Brasil, quando o Grêmio irá buscar o hexa contra o Palmeiras.
3) Atrapalhar os planos do rival
Em uma temporada de altos e baixos, o Grêmio pode acabar atrapalhando o Inter na busca do título do Brasileirão. Com a diferença entre o primeiro e o terceiro colocado em cinco pontos, qualquer tropeço na competição pode ser importante no final. Uma vitória gremista no domingo poderia significar a perda da liderança por parte do Colorado, além de interromper a sequência de sete vitórias do time de Abel Braga.