Tímido, de posicionamento forte e protetor. Assim que o zagueiro Rodrigo Moledo é conhecido fora de campo por seus familiares e amigos próximos. No quarto episódio da série Nossa Voz, o defensor do Inter será apresentado por uma perspectiva diferente. A empresária Raphaela Moledo, 29 anos, irmã do jogador, confidenciou como o racismo é tratado na rotina da família.
— Esse tema nunca foi falado abertamente, com a palavra "racismo", mas sempre foi presente na nossa vida. Na nossa infância, por exemplo, eu e o Rodrigo (Moledo) estudávamos em uma escola particular, com bolsa integral, e éramos os únicos negros na sala — conta.
Era comum para a dupla encarar olhares de curiosidade. As perguntas, segundo Raphaela, eram sempre as mesmas: "De onde vocês são?" ou "por que vocês estudam aqui?". No entanto, engana-se quem pensa que o racismo não faz mais parte da vida de um jogador de futebol conhecido e bem-sucedido.
— O olhar é algo que sempre nos acompanhou e nos acompanha até hoje. Quando a gente entra num local e não reconhecem ele, até quando a gente entra em um carro, as pessoas em volta olham com um ar de curiosidade, de preconceito — revela a empresária.
Pai do pequeno Juan Davi, 10 anos, Raphaela conta que Moledo sempre procurou ensinar para o menino como se posicionar diante de situações que não são confortáveis. Aliás, essa é uma característica de atleta. Como irmão mais velho, o Moledo tem um senso de proteção aflorado.
— Ele sempre me incentivou a não me abalar com qualquer ato discriminatório, e com o Juan eu vejo que é o mesmo. O Juan também nunca sofreu um ato direto (de racismo) até hoje, mas o Rodrigo sempre mostrou para ele se posicionar. Acho isso importante, os pais incentivarem os filhos a falarem. É isso que o Rodrigo passa para o Juan Davi — afirma.
Mas se Moledo nunca sofreu um ato direto de racismo, o futebol, às vezes, pode ser cruel para atletas negros. Olhares e comentários também machucam. Aquela velha máxima "O que acontece dentro de campo, fica dentro de campo", não vale quando o assunto é preconceito. Ainda mais o racismo. Tainá Maranhão, 16 anos, atacante da base do Inter, sabe bem disso.
Ela prega a igualdade dentro de campo sob a ótica do respeito. Segundo ela, por mais que seja algo considerado "do futebol", certa atitudes poderiam ser abolidas por completo do esporte.
— Tenho muito isso de correr, driblar. Então me chamam de "pega a Maranhão" ou "pega a número 11", que a camisa que eu uso. Mas têm casos que não me conhecem e me dizem "pega aquela macaca", "pega aquela negra", "ela é negra e corre muito". Coisas assim são muito desnecessárias e já aconteceram muito comigo em jogo — relembra a garota.
Filha do meia Alex Maranhão, atualmente no Paysandu, a menina conta que o pai não a influenciou na escolha pelo esporte. Muito pelo contrário, o jogador preferia que a filha tentasse carreira na ginástica, por ser uma modalidade de menos contato.
Vamos poder mostrar que não é por causa de um tom de pele que eu vou ser abaixo ou acima. Isso me dá força pelo que estou lutando
TAINÁ MARANHÃO
Atacante sub-16 do Inter
Convocada em duas oportunidades para a seleção sub-17, Tainá se diz completa por ter optado pelo futebol. E quando indagada se os episódios de racismo lhe trouxeram algum arrependimento por ter escolhido o esporte, a jovem não pensa muito ao responder:
— Não! Nunca! Eu sempre segui de cabeça erguida. Eu acho que hoje eu vou tentar ser melhor do que amanhã, para essa pessoa que cometeu racismo, nós vamos poder mostrar que não é por causa de um tom de pele que eu vou ser abaixo ou acima dela. Isso me dá força pelo que estou lutando. Quem faz essa comparação de cor não tem cabeça, por dentro tudo mundo é igual.