O futebol em Santa Catarina fechou 2017 em grande estilo. E a Arena Condá definitivamente se transformou num dos templos do futebol mundial. Chapecó reuniu estrelas do futebol nacional e internacional que pagaram suas passagens para uma noite de futebol e homenagens aos familiares e às vítimas do acidente ocorrido em novembro do ano passado, na Colômbia, no jogo "Amigos da Abravic".
— A gente agradece de coração aos jogadores que interromperam suas férias para estar aqui, eles entenderam a causa e a importância deste jogo — disse o atacante Túlio de Melo, que foi mentor da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic).
Um dos organizadores era nada menos do que o campeão da Libertadores, Tinga. Ele disse ser uma honra colaborar com o jogo beneficente, que teve como objetivo auxiliar as famílias das vítimas com a renda.
Antes da partida, houve a inauguração do átrio Daví Barell Dávi, em homenagem ao conselheiro que foi uma das vítimas do acidente aéreo. Na fonte construída ao lado do estádio, o nome de todas as vítimas e luzes que simbolizam cada uma delas.
Também foi inaugurado o mural esportivo de Paulo Consentino, com "O Gol Eterno", de Ananias. E os rostos eternizados em grafite de Digo Cardoso. Outra homenagem foi um quadro do artista colombiano Sigifredo Hidalgo Etcheverry.
— As mãos no campo se erguem em direção às estrelas onde estão os jogadores, até a luz divina, as raízes representam os filhos — destacou.
A torcida vibrou com as jogadas do pentacampeão Denílson, que jogava pelo time verde, treinado pelo comandante da Seleção Brasileira, Tite, e o técnico dos acessos da Chapecoense para as Séries A e B, Gilmar Dal Pozzo. Mas quem marcou primeiro foi o time branco, de Fábrio Carille. E ele saiu dos pés do meia Camilo, que conhece bem o gramado da Arena Condá, onde brilhou em 2014 e 2015.
A torcida ainda viu Paulo Rink, vice-campeão de 1995, marcar um dos gols. E celebrou a vida com os gols marcados por Alan Ruschel e Follmann, ambos sobreviventes da tragédia. Mas o grande retorno foi do zagueiro Neto, que pela primeira vez disputou uma partida desde o acidente. Ele entrou em campo aos 26 minutos do segundo tempo (71 minutos no total, o que simboliza o número de vítimas).
— Eu fiz dois treinos com bola apenas, um rachão e um treino antes. Mas é o início de tudo para mim. Estar dentro de campo, mesmo que seja uma brincadeira, sentir o cheiro da grama, quem é atleta sabe o que estou falando. É um prazer, me sinto privilegiado, e agradeço a Deus por esse momento — destacou.
Neto até tinha voltado a correr junto com Alan Ruschel, que disputou o amistoso contra o Barcelona, fez gol no Roma e foi titular em algumas partidas no Brasileirão. Mas sentiu uma nova lesão e precisou adiar seu retorno.
— Eu treinei esse período todo fora de campo, de uma forma separada. Então, é uma felicidade muito grande não só de estar em campo, mas poder estar participando dessa causa nobre, que é da Abravic, que está ajudando efetivamente as famílias.
A expectativa é que ele inicie a temporada 2018 junto com os demais jogadores do time. Neto é um dos símbolos da força da Chapecoense, que, assim como clube, sobreviveu a uma tragédia, chorou e também comemorou a vaga para a Libertadores.
O público também se emocionou ao rever as cenas daquele time eterno, ao som de Sound Of Silence, de Paul Simon, no intervalo da partida. Os jogadores estão eternizados em fotos, pinturas e na memória da torcida da Chapecoense. O retorno de Neto é uma celebração à vida, que continua pulsando na Arena Condá.