Uma juíza americana decidiu nesta quarta-feira (15) restringir a liberdade condicional do ex-chefe do futebol peruano Manuel Burga, que teria feito gestos de suposta ameaça à testemunha-chave do governo no julgamento por corrupção na FIFA, o argentino Alejandro Burzaco.
A promotora americana Kristin Mace pediu à juíza Pamela Chen, a cargo do mega-escândalo de corrupção da FIFA na corte federal do Brooklyn, que ponha Burga na prisão porque em duas ocasiões, na terça e na quarta-feira, ele fez um gesto, passando a mão em linha reta pela garganta como se quisesse matar o depoente.
Burzaco, ex-presidente da empresa Torneos Y Competencias, depôs pelo segundo dia e contou ter pago 3,7 milhões de dólares a Burga em propinas em troca de contratos, assim como subornos milionários aos coacusados José Maria Marín, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol. Os três declaram inocência.
Chen disse ter "séria preocupação". — Isto pode ter sido um esforço para intimidar a testemunha — afirmou, mas como o único vídeo que viu até o momento contém imagens borradas, não quis colocá-lo na prisão, nem dificultar ainda mais seu diálogo com seu advogado.
Burzaco mostrou-se visivelmente alterado e acabou chorando na manhã desta quarta-feira, aparentemente após o suposto gesto de Burga.
— Aqui se cometeu um novo crime: intimidação de uma testemunha — disse a promotora Mace.
Mas Bruce Udolf, advogado de Udolf, disse que seu cliente apenas havia coçado a garganta porque tem uma irritação e a pele seca e que Burzaco chorou porque um ex-funcionário da federação de futebol que ele implicou nas denúncias de corrupção, Jorge Delhon, se suicidou na terça-feira em Buenos Aires.
— Isso nós sabemos — disse Chen.
— Este é um homem tímido e tranquilo — alegou Udolf. — Coçou o pescoço.
Burga, que cumpre prisão domiciliar após pagar uma fiança de dois milhões de dólares, usa uma tornozeleira eletrônica. Ele não terá mais acesso a computadores até o final do julgamento e só poderá usar o telefone para se comunicar com seu advogado. Tampouco poderá sair de casa sem o advogado.
Burzaco voltou a se emocionar nesta quarta-feira, quando contou na corte que seu irmão, Eugenio, telefonou da Itália após ele ter se entregado à Justiça em 2015 e lhe explicou que sua segurança e sua vida estavam em risco.
Segundo a testemunha, que falou com a voz embargada, seu irmão lhe contou que havia instruções da Polícia da província de Buenos Aires para "silenciá-lo" para que não depusesse nos Estados Unidos, "inclusive me matar".
* AFP