Saí na quarta-feira, fui de carro de Porto Alegre a Florianópolis. Na quinta, peguei um ônibus para Campo Grande. Era um pinga-pinga. Parou em todas as cidades de Santa Catarina, acho. Fui até Campo Grande. De lá, peguei ônibus para Porto Velho-RO. De Porto Velho, fui para Rio Branco-AC. Cheguei domingo, umas 6h. Já estava dia, então fui lá para o hotel onde estava o São José. Os jogadores acordaram e tomamos café da manhã juntos, antes de eles irem para o estádio. Depois do jogo, voltei para o hotel. Queria dar um abraço no pessoal e agradecer, porque eles foram bem. Os jogadores me deram bolachas, porque eu teria de ficar mais um dia lá, não tinha passagem para voltar. Então eles fizeram uma vaquinha, e fiquei no hotel por um preço camarada. No outro dia, fui de ônibus até Porto Velho, mas com o dinheiro da vaquinha, pude voltar de avião.
A aventura de Thalys Engels, o jovem hoteleiro de 23 anos, que cruzou o Brasil para ver o São José jogar no Acre não comove seu personagem principal. Pelo contrário, ele nem considera "grande coisa":
— Não acho que tenha sido nada extraordinário.
Em agosto, após a confirmação de que o Atlético Acreano seria o adversário do São José nas quartas de final da Série D (ou seja, a decisão de uma vaga para a Terceira Divisão), Thalys botou na cabeça que ia ver aquela partida em Rio Branco, custe o que custasse. No seu caso, mais de 4 mil quilômetros, divididos em três linhas de ônibus e um trecho de carro.
Passou meia semana na estrada, conhecendo as paisagens da metade ocidental do Brasil. Com a bandeira do São José, postou imagens em redes sociais — assim ao menos amigos e familiares sabiam que tudo estava bem. Ao, finalmente, chegar em Rio Branco no domingo pela manhã, deu uma volta pelo centro da cidade, tirou foto ao lado da estátua de Plácido de Castro, o herói gaúcho que comandou a Revolução do Acre, mas logo foi conversar com os jogadores. Ficou no saguão do hotel esperando que eles acordassem para tomar café juntos. Depois, foi "resgatado e escoltado" por torcedores do rival do Atlético, o Rio Branco, até o estádio. Viram o jogo juntos, no setor de visitantes.
— De torcedor do São José mesmo, tinha eu e outro cara, que foi de avião — relata.
Após o jogo, orgulhoso do desempenho e da dedicação dos jogadores do São José, voltou ao hotel. Queria abraçá-los, agradecê-los. A delegação voltaria ainda na mesma noite, Thalys, ainda sem passagem de volta comprada, não. Compadecidos, os atletas lhe deram biscoitos e salgadinhos para que passasse a noite sem tanta fome. Convenceram o pessoal do hotel a baixar a diária, ao menos naquela noite e para aquele hóspede. Fizeram uma vaquinha para a viagem de volta.
No outro dia, Thalys começou sua peregrinação, mas com uma novidade muito bem-vinda. Depois do trecho inicial de ônibus, pôde ir de Porto Velho a Florianópolis de avião graças ao dinheiro que recebeu dos jogadores.
— Tomara que a gente ganhe a Copinha para poder fazer tudo isso de novo. Mas dessa vez quero ir ainda mais longe.
— À Série C?
— É, à Série C também. Mas falava de Roraima mesmo...