Mais do que uma discussão sobre o jogador de futebol americano, Colin Kaepernick virou uma agenda política nos debates nos Estados Unidos. A direita americana diz que o quarterback só não está na NFL porque é ruim, sem qualquer influência dos protestos que fez durante o hino americano na temporada passada. A esquerda faz elogios ao seu nível de jogo e impõe a responsabilidade integral da ausência de Kaepernick na NFL às questões extracampo. Provavelmente, nenhum dos lados está totalmente certo – e os dois têm alguma razão em seus argumentos.
Atualmente, há cerca de 100 quarterbacks empregados na liga. Muitos deles, talvez mais da metade, são de fato piores tecnicamente do que Kaepernick, que optou por sair do seu contrato com o San Francisco 49ers em março – as duas partes tinham opção, e Kaep resolveu sair antes de ser cortado. Mas não é só ser um dos melhores quarterbacks de maneira geral que pesa na decisão dos times. Ou você acha que Robert Griffin III, Shaun Hill e Christian Ponder são piores do que todos os quarterbacks que estão empregados atualmente?
Leia mais:
10 destaques da primeira semana da pré-temporada na NFL
Bills fecha duas trocas e envia jovens apostas a Eagles e Rams
NFL suspende Ezekiel Elliott por seis jogos
Primeiro, há uma questão técnica: Kaepernick não tem se mostrado, nos últimos tempos, bom o suficiente para ser titular. Isso faz com que haja uma questão tática na sequência: os times preferem quarterbacks reservas que tenham características físicas parecidas às do titular. Como Kaepernick tem um estilo pouco usual, com menos capacidade de passar de dentro do pocket e mais capacidade atlética do que a média, a situação se complica. Em terceiro, sim, a questão política entra: os times não gostam de reservas que chamem muito a atenção da mídia e dos torcedores.
As chances na NFL são uma simples equação: talento menos polêmicas extracampo é igual ao número de oportunidades. Se um jogador for problemático mas o talento compensar, alguém dará uma (ou mais de uma) chance. Se não houver talento, mesmo que um jogador seja perfeito ou neutro em questões extracampo, não haverá chances.
Kaepernick está no meio do caminho – e por isso há polêmica. Ele tem talento suficiente para estar na liga, mas o resultado da equação tem o mantido de fora – pelo menos até que um time atingido por lesões precise dos seus serviços e esteja disposto a pagar o preço da repercussão.
Reclamar na hora certa para ajudar a causa
Colin Kaepernick recebe o apoio de inúmeros outros jogadores que estão na liga, além de vários ativistas sociais. Mas fazer um protesto na frente na sede da NFL, como o divulgado pelo cineasta Spike Lee, só deixa a equação do quarterback ainda mais complicada. Há casos e casos, e reduzir todos os assuntos da liga a isso mais atrapalha do que ajuda o jogador de 29 anos.
O Miami Dolphins, por exemplo, tinha todos os motivos para assinar com Jay Cutler – a experiência maior como titular, o estilo mais parecido ao do lesionado Ryan Tannehill e a relação com o técnico Adam Gase, que foi seu coordenador ofensivo no Chicago Bears em 2015. Direcionar revolta ao Dolphins pela decisão não faz sentido – até porque o dono Stephen Ross nunca se opôs às manifestações e chegou a renovar com jogadores que fizeram o mesmo protesto de Kaepernick durante o ano passado.
O Seattle Seahawks chegou a testar Kaepernick, mas não assinou e optou por Austin Davis – uma alternativa mais barata, já que o time tem apenas US$ 9 milhões de espaço no teto salarial e não faria sentido gastá-lo com um reserva.
As críticas podem ser válidas se forem direcionadas ao Baltimore Ravens. Com a lesão de Joe Flacco, o time procurou quarterbacks no mercado. A direção e a comissão técnica, reporta a imprensa americana, estavam dispostas a assinar com Kaepernick, mas o dono Steve Bisciotti vetou a contratação.
Eventualmente, Colin Kaepernick vai ter uma nova chance na NFL. É uma questão de tempo. Mas é preciso que os seus fãs direcionem as críticas para os lugares certos. E que os críticos se preocupem mais com o que ele pode fazer dentro de campo.
*ZHESPORTES