
Ao traçar o planejamento para 2017, o Corinthians se lançou ao mercado em busca de um técnico. Telefonou para o colombiano Reinaldo Rueda, à época com o Nacional-COL, no Mundial de Clubes do Japão. Rueda recusou. Passaria por cirurgia no quadril e ficaria quatro meses de molho.
O clube sondou alguns nomes em alta no mercado nacional. Um deles, Guto Ferreira. Sem dinheiro para bancá-los, decidiu-se por solução caseira para iniciar o ano. O auxiliar Fábio Carille, 43 anos, voltaria ao cargo do qual havia sido rebaixado em outubro, com a chegada de Oswaldo de Oliveira.
Nem o mais confiante dos 27,3 milhões de corintianos imaginava que assim, de forma acidental, o Corinthians estava encontrando a chave do sucesso. A aposta em um técnico jovem, de 43 anos, discreto e com convicções em um futebol competitivo, de muita marcação, fez o casamento perfeito com um grupo formado por veteranos desacreditados, jogadores emergentes e jovens com o DNA do clube, ávidos por sucesso. Essa química originou uma máquina de vencer no modelo predileto do corintiano, com suor, abnegação e contra as previsões.
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– Desde quando fui apresentado, em 22 de dezembro, falei que o Corinthians seria organizado taticamente, priorizaria a defesa, acima de tudo, e seria aguerrido, um conjunto mesmo de jogadores lutando pelo mesmo propósito. Claro que você vai buscar no mercado jogadores para posições e funções que imagina ideal, mas a questão da organização foi primordial – diz Carille, em resposta enviada por e-mail pela sua assessoria de imprensa.

No calor do verão, seu time era apontado como a quarta força de São Paulo. Ouvia o deboche dos torcedores rivais, que recebiam nomes badalados como Borja, Pratto e Bruno Henrique. No Itaquerão as apostas era Kazim, Jô, que prometia estar regenerado, e Jádson, vindo da China.
Sete meses depois, Jô conta 16 gols, e o Corinthians foi campeão paulista com sobra e lidera o Brasileirão, oito pontos à frente do Grêmio. Se não perder para o Flamengo neste domingo, às 16h, comemora em Itaquera a 32ª partida invicto e iguala sua segunda maior série de invencibilidade em 106 anos de vida.
Trata-se de um time forjado pela necessidade. O Corinthians está encalacrado Fechou 2016 com dívida de R$ 362 milhões, conforme o balanço. Isso fora a conta do estádio. No total, estima-se hoje que o Itaquerão tenha custado R$ 1,1 bilhão. Em cálculo feito pelo jornal Folha de S. Paulo, acrescidos os juros de R$ 563 milhões, o custo do estádio fecha em R$ 1,64 bilhão.
– Sabia que a situação econômica do Corinthians não era das melhores, mas é algo que mais geral, no Brasil, não só aqui no clube. Mas tínhamos um grupo qualificado, bons jogadores já aqui dentro, e precisávamos de algumas peças para complementar a ideia que tínhamos. Fomos buscar no mercado jogadores que se enquadravam em nossa realidade financeira, tudo dentro do planejado – explica o técnico.
Os abatimentos da dívida do estádio ainda são mínimos. Em 2016, a Odebrecht recebeu R$ 29 milhões com a venda de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs), emitidos pela prefeitura de São Paulo em 2011. As rendas dos jogos são drenadas para pagar o estádio. Em 2016, foram R$ 48 milhões – e o clube depositou mais R$ 25 milhões.
Nesse cenário, o orçamento do futebol definhou. O erro de 2016 serviu de lição.Vieram nomes como Marquinhos Gabriel (R$ 11 milhões), Giovanni Augusto e André (R$ 13 milhões), Marlone (R$ 4 milhões) e Guilherme (R$ 5,7 milhões). Os dois primeiros são reservas, os demais foram repassados. Espremido contra a parede, o presidente Roberto de Andrade apelou para uma fórmula caseira. Nunca imaginou que estava tomando a decisão mais acertada de sua vida. E de mais de 27 milhões de corintianos.
*ZHESPORTES