Conor McGregor adotou o apelido de "O Notório", ganhou fama e dinheiro graças a sua ousadia. Irlandês de Dublin, estreou no MMA profissional em 2008, antes de completar 20 anos. Na última década, cresceu na carreira ao exigir os desafios mais improváveis – e vencer quase todos. No segundo semestre deste ano, o projeto é superar uma barreira maior do que qualquer outra para ele: estrear no boxe para enfrentar um dos maiores pugilistas de todos os tempos. Floyd Mayweather, com 49 vitórias em 49 lutas, é o alvo da vez.
– O melhor sobre lutas é que você nunca sabe quem vai vencer. Acredite em mim, há vários fins de semana em que colocamos uma luta, acreditamos que pessoas não vão vencer, e elas vencem. É louco como é o negócio das lutas. Se fosse garantido que Floyd venceria esta luta, por que você pagaria por isso? Não há garantias – defende Dana White, presidente do UFC e um dos responsáveis pela ascensão de McGregor no MMA, em entrevista ao site X17.
Leia mais:
Caju Freitas: Conor McGregor está perto de fazer um fiasco
Dana White defende McGregor contra Mayweather: "Tem poder de nocaute"
Bellator inclui duas disputas de cinturão no card de Wand x Sonnen
No UFC, McGregor fez história. Foi o primeiro a derrotar José Aldo na organização – e fez isso em 13 segundos. Depois, nocauteou Eddie Alvarez para se tornar o primeiro detentor de dois cinturões ao mesmo tempo. O desafio no boxe, entretanto, é maior. Apesar de ser um especialista na luta em pé para as artes marciais mistas, o boxe exige mais volume – com luvas maiores, um nocaute é menos provável.
– Sabemos como o boxe sempre foi fundamental em suas lutas no MMA. É só pegar qualquer vídeo de melhores momentos de McGregor que você enxerga a quantidade de nocautes que Conor executou com as mãos. A Irlanda tem uma escola bem forte no boxe. A questão é como Conor vai se adaptar às regras e a uma luta com danos contínuos na cabeça e no tórax – analisa Bruno Massami, editor de MMA do site Gazeta Esportiva e membro do painel de votação do ranking oficial do UFC.
A diferença de experiência é um fator determinante na avaliação de Guilherme Cruz, repórter do site MMA Fighting.
– A vantagem do Mayweather pelo fator experiência é imensa nesta luta, provavelmente a maior disparidade em toda sua carreira. Embora o McGregor treine boxe como parte da sua preparação para as lutas de MMA e tenha boas mãos, o Mayweather luta boxe sua vida inteira. O americano já disputava Olimpíadas e fazia sua estreia no boxe profissional quando McGregor tinha apenas oito anos de idade – comentou.
Mayweather ficou conhecido ao longo da carreira pela qualidade técnica e por se arriscar pouco nas lutas. Para Massami, o fator psicológico para tirar o americano do seu estilo pode ser um diferencial para McGregor.
– Nesta guerra de egos, o orgulho pode falar mais alto, fazendo Floyd correr algum risco desnecessário na luta – avalia.
Para Guilherme Cruz, no entanto, o próprio McGregor pode precisar se adaptar às novas regras. Acostumado a lutar com uma postura mais semelhante ao caratê no MMA, o irlandês terá que se moldar.
– McGregor tem um estilo diferente de movimentação, especialmente se comparado à maioria dos pugilistas que o Mayweather enfrentou em sua carreira. Porém, o McGregor luta dessa forma no MMA, onde há o risco de ser quedado ou levar chutes. Estas ameaças não existirão em uma luta com o Mayweather, logo ele pode mudar drasticamente seu estilo – ponderou.
Em suas origens, o MMA era um confronto entre lutadores de diferentes artes marciais. A evolução do esporte fez com que houvesse a especialização, mas ainda assim a contramão de McGregor é o caminho mais comum – pugilistas que tentam a sorte no MMA, como a ex-campeã dos galos do UFC Holly Holm.
Para o jornalista Filipe Nunnes, do Fox Sports, o foco desde jovem no MMA é mais um obstáculo para McGregor.
– A geração antiga do MMA ainda tinha uma especialidade primária e depois conseguia migrar para o MMA, casos de Demian Maia, Vitor Belfort, Anderson Silva e tantos outros. Atualmente, os caras já entram na academia para treinar MMA, o que deve dificultar ainda mais esse trânsito entre boxe e artes marciais mistas – observou.
Um dos poucos especialistas em MMA a tentar a transição para o boxe foi exatamente Anderson Silva. Desde que estreou no antigo Vale-Tudo em 1997, o Spider fez duas lutas de boxe – perdeu por desistência do córner para Osmar Luiz Teixeira em maio de 1998 e venceu Julio César de Jesus por nocaute em agosto de 2005 –, ambas lutas antes de ingressar no UFC, em 2006.
*ZHESPORTES