Thiago Monteiro vive o melhor momento da carreira. Aos 22 anos, o tenista cearense cresce no ranking mundial de forma animadora: de número 463 no começo de 2016, o garoto passou para a 77ª posição. Uma ascensão que parece não estar perto de estagnar, mas que tem início a partir de um jogo em especial.
Monteiro aponta a vitória no Rio Open de 2016, sobre o francês Jo-Wilfried Tsonga, então nono colocado do ranking, como o momento "divisor de águas". Pois, de fato, muita coisa mudou de lá para cá: estreou na Copa Davis, chegou a desfrutar da condição de melhor brasileiro no ranking de simples e alcançou novas vitórias expressivas – a última delas sobre o compatriota Thomaz Bellucci, no Rio Open deste ano.
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Nesta quinta, quando inicia Indian Wells, nos Estados Unidos, Thiago Monteiro estará vivendo mais uma experiência inédita. Por conta da desistência do francês Paul-Henri Mathieu, o tenista pela primeira vez disputará um Masters 1000 - torneio que perde em importância apenas para os quatro Grand Slams.
Seu adversário na estreia será o eslovaco Martin Klizan, 66º do mundo. Thomaz Bellucci, o outro representante brasileiro, irá encarar o francês Pierre Hugues-Herbert, 74º da ATP.
ENTREVISTA
THIAGO MONTEIRO, TENISTA
A que se deve essa virada na carreira, jogando agora os principais torneios do mundo?
O trabalho bem feito que a gente vem fazendo com a Tennis Route. O Duda Matos (técnico) e o João (Zwetsch, coordenador da equipe) fizeram eu acreditar que dava para chegar aonde estou, competir com os melhores. Todo mundo sabia que eu tinha jogo, talento, mas eu não tinha essa mentalidade. Achava que estava longe desse nível), mas não era tanto.
Quando adquiriu essa confiança?
O jogo contra o Tsonga (em 2016, quando venceu o francês pelo Rio Open) foi um divisor de águas, foi quando pensei que podia melhorar cada vez mais. Fui me empenhando, tendo bons resultados. Deu uma alavancada.
O que muda jogar contra atletas deste nível?
Quando você está neste nível de jogo, você percebe melhor as suas deficiências, que tem muito a evoluir. Preciso melhorar algumas coisas, me adaptar às quadras duras, jogar mais nelas também vai ajudar. Preciso solidificar minha devolução de saque, subida à rede. A competitividade é bem diferente, os caras deste nível ficam no jogo o tempo inteiro. É raríssimo ganhar deles porque jogaram mal, porque sempre acham uma maneira de voltar para o jogo. Preciso encontrar essas variações.
Como foi aquele jogo que você chamou de divisor de águas contra o Tsonga?
Foi uma surpresa para mim. Nem eu esperava. Era primeira chave de ATP na minha carreira, contra um top 10, tinha pequena chance de ganhar, pequena crença, mas queria aproveitar o máximo de tempo em quadra. Queria ver o quão longe podia ir nesse nível.
Pensa em atingir alguma colocação específica no ranking da ATP?
Não tenho um número fixo. Basicamente, meu plano é me solidificar nesse nível ATP. Seria fantástico também jogar outros Grand Slams (já jogou o Australian Open, o primeiro da temporada). Não sei se já garanti Roland Garros, mas já está bem próximo. O objetivo é me solidificar, acrescentar mais variações, armas e evoluir.
Mas qual seu sonho no tênis?
Meu maior sonho é representar o Brasil em uma Olimpíada. Quem sabe no Japão, em 2020? Ser um top 20, quem sabe...
Você venceu o Bellucci no Rio Open deste ano. O que isso representa?
Bellucci é referência do tênis brasileiro, há um bom tempo está nesse nível. Tem título ATP, foi 21 do mundo, ganhou do Nishikori... Tenho treinado e aprendido bastante com ele. É importante ver a intensidade que um cara desse nível põe nos treinos, e fui aprendendo bastante. A vitória significa muito. Mas não tem rivalidade. Tive um dia bom, sorte no primeiro tie break, ele sentiu problema físico no terceiro e levei a melhor.
Mas vocês vêm brigando pelo posto de número 1 do Brasil. É um objetivo isso?
Não é um objetivo. É bom ser número 1 do Brasil, mas é melhor ser número 2 (nacional) e 40 do mundo do que número 70 e primeiro do país.
Você é um dos principais tenistas do país no momento e saiu do Ceará, um Estado sem a mesma tradição de outros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Como foi que você começou no tênis?
Eu comecei com oito anos, por influência do meu irmão que via o Guga jogando e me motivou a jogar. Ele já era mais velho. Eu gostava de futsal, natação, basquete... Quando ele começou, eu jogava futsal em uma quadra ao lado da academia dele. Um dia, não teve treino, vi ele jogar e bati uma bolinha. Gostei. Morei em Fortaleza até os 14 e depois optei pelo tênis. Eu estava um pouco sem referência lá. Consegui vaga na academia do Larri (Passos, ex-técnico de Guga), mudei para Balneário Camboriú, fiquei até os 19 e fui para o Rio.
Jogavem bem futsal?
Gostava de jogar. Não decepcionava (risos).
*ZHESPORTES