
O capítulo colombiano da tragédia de Medellín teve fim às 17h5min (20h5min em Brasília), quando o ronco seco, característico do Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB), o último de um conjunto de três aeronaves, tomou conta da pista da base aérea Arturo Lema Posada, em Rionegro. O primeiro e o segundo avião decolaram com intervalos de 20 minutos. Lentamente, os pesados Hércules ocuparam o céu de nuvens carregadas. No interior, levavam os corpos de 50 brasileiros. A essa altura, já não eram jogadores, dirigentes ou integrantes da comissão técnica da Chapecoense. Eram heróis, como definiram centenas de milhares de moradores que acompanharam, com lágrimas nos olhos, a última viagem em terra da equipe em território colombiano.
A decolagem dos aviões encerrou mais um dia de muita emoção, que começou a 40 quilômetros da base, na funerária San Vicente, para onde foram levados todos os corpos. Ao todo, seis funerárias prepararam os restos mortais para que fossem depositados nos caixões. À medida que o cortejo avançava pelas ruas de trânsito caótico e pela Autopista Medellín-Bogotá, dentro da base aérea militares organizavam os últimos detalhes da despedida.
– Esta é uma cerimônia silenciosa, com honras militares, para que as vítimas saiam da Colômbia como heróis – afirmou o tenente-coronel John Trujillo, um dos oficiais que preparou a rápida, simples, porém comovente cerimônia.
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Os colombianos fizeram questão de marcar o adeus aos brasileiros com um ato solene. O primeiro Hércules da FAB pousou na base colombiana às 14h15min (17h15min em Brasília). O segundo e o terceiro chegaram em intervalos de cinco minutos. Completaram, ao chegar à pista do aeroporto internacional, compartilhada entre aeronaves civis e militares, o trecho que o avião da Chapecoense não concluiu. Um a um, os aviões tiveram seu compartimento de carga aberto. Estava tudo pronto para o adeus.
Lentamente, 50 carros fúnebres, grandes, antigos, como se tivessem saído de filmes americanos dos anos 1950, foram entrando na pista pelo portão principal. O primeiro grupo de 17 caixões foi retirado dos veículos e posicionado atrás do primeiro Hércules. Por um corredor formado por policiais da força aérea, os féretros foram conduzidos por oficiais colombianos. À frente, as bandeiras de Brasil e Colômbia.
Capelão da base, o padre Jamer Martínez Barra fez uma curta oração.
– Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda por esses campeões – disse, para em seguida repetir: – Conceda-lhes, senhor, o descanso eterno. Conceda-lhes, senhor, o descanso eterno. Conceda-lhes, senhor, o descanso eterno.
Emocionado, o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, acompanhou a cerimônia vestindo a camisa do time catarinense. Chorou muito. Todos os caixões estavam cobertos com uma bandeira com a inscrição: "Campeões para sempre – Medellín, noviembre de 2016". Também estavam envolvidos por um plástico.
Ao som de uma música muito suave, entoada por uma banda marcial da força aérea, os caixões foram depositados nos Hércules. A emoção tomou conta de militares e jornalistas, que acompanhavam a uma distância de 50 metros do primeiro avião. Duas aeronaves transportaram 17 corpos. A terceira levou 16.
Quando o primeiro Hércules teve os motores ligados, alguns jornalistas encheram os olhos d'água. A aeronave taxiava na pista quando o último avião fechou a porta traseira. A ordem era para que partissem muito próximos um do outro. Às 17h10min (20h10min em Brasília), os três aviões estavam no ar. Os brasileiros, enfim, voltavam para casa. Sem troféu, ganharam muito mais do que um campeonato. O time de uma cidade até então pouco conhecida fora das fronteiras brasileiras conquistou os corações da Colômbia, da América e do mundo.
*ZHESPORTES