A reação da imprensa argentina ao drama de Messi me surpreendeu. A manchete do Ole é sublime: “No te vayas”.
Não houve pancada pelo pênalti perdido. Nem por mais uma final perdida, e sim carinho. Como nunca se viu antes. O desabafo diante da pressão cruel – pai ameaçado de prisão, fisco, um país a exigir que ele ganhe sozinho um título após 23 anos – acendeu o sinal. Não teria a Argentina exagerado com Messi?
Leia mais:
Veja os melhores memes depois do pênalti perdido por Messi
Jornal argentino cria campanha pela permanência de Messi na seleção
Além de Messi, outros jogadores podem largar a seleção argentina
Alguém já disse que a Argentina tem duas facetas antagônicas que se misturam. Uma é amoral, maldita, de rua, passional. É Maradona. A outra é racional, universal, metódica, elegante. É Jorge Luis Borges, o escritor genial. Messi, no caso, é Borges.
Só que o futebol é muito Maradona. É um sentimento, cheio de incoerências. Ao chorar com dor verdadeira na derrota para o Chile na Copa América, anunciando a saída da seleção não por descaso, mas como pedido de desculpas por não estar à altura dela, Messi se humanizou. Comoveu os argentinos.
O país percebeu nele, enfim, um argentino em essência – inclusive no ato intempestivo de não mais vestir a 10 que foi de Maradona.
Posso estar muito errado, mas esta crise toda talvez vire o jogo e seja a redenção de Messi, no sentido de o país acolhê-lo como um filho seu de verdade – e não um meio espanhol que foi embora aos 14 anos. E os dois juntos, Argentina e Messi, puxa vida, são fortes.
Isso se ele mudar de ideia, bem entendido.
*ZHESPORTES