![](http://zh.rbsdirect.com.br/imagesrc/19055322.jpg?w=700)
Abstraia o gol de Daniel Alves quando faltavam 30 segundos para encerrar o período de acréscimos. A Seleção teria perdido para o Paraguai, lanterna das últimas Eliminatórias, uma equipe sem protagonistas e formada a partir de uma geração bem pior do que a brasileira, apenas para ficar nas desculpas já um tanto repetitivas. Estaria em 7º lugar numa tabela de classificação com 10 países, que comporta a sempre pereba Bolívia e um incrível caso de eterna ascendente que nunca sobe, a Venezuela.
Como se sabe, quatro vagas diretas e uma uma quinta, na repescagem, estão em disputa. Com o golzinho na rabeira, o Brasil subiu para a 6ª posição. Houve certa apreensão mas, de modo geral, prevaleceram versões científicas do que está acontecendo, tipo "Nunca foi fácil ir a uma Copa e nem por isso deixamos de ser Penta" ou "Se não dá na técnica e na organização, vai na garra".
Sob este último ângulo de análise, dá até para comemorar o resultado em Assunção, já que nossa esquadra estava naufragando com dois a zero contra e foi buscar heroicamente o empate contra o poderoso Paraguai.
Leia mais:
Tite nega ida para a Seleção Brasileira: "Tempo já passou"
Colunistas opinam: Dunga deve permanecer na Seleção?
Wianey Carlet: Tite não quer substituir Dunga na Seleção
É o pior momento do futebol brasileiro desde que Charles Miller desembarcou no Brasil após um período de estudos no sul da Inglaterra com uma bola debaixo do braço, encantado com o novo jogo que aprendera nas colégios de Southampton. Nunca estivemos tão por baixo. E dá para afundar mais.
Basta ficar fora de uma Copa pela primeira vez. Seria quase o fundo do poço, tal a incompetência necessária para tanto. Sim, porque o fundo do poço, aí sem espaço para descer mais, seria ficar dependurado na repescagem e perder para uma seleção da Oceania. Anote os possíveis adversários: Nova Zelândia, Ilhas Salomão, Fiji, Vanuatu, Tahiti, Nova Caledônia, Papua Nova Guiné Samoa Americana, Ilhas Cook, Samoa e Tonga. Ainda bem que desde 2006 a Austrália tenta a sorte na Ásia.
Agora até fiquei mais tranquilo, mas nunca se sabe.
O 7 a 1 anestesiou em vez de indignar. Desde lá, a queda é vertiginosa. O planejamento é zero. Nada se fez em torno de uma ideia de futebol a longo prazo, como na Alemanha que nos massacrou e mudou o seu jeito de jogar da água para o vinho. O técnico escolhido após o Mineirazo representa um velho projeto, já tentado no ciclo anterior ao que desembocou no Gol da Alemanha. Dunga não tem culpa disso. É importante ressaltar. É sério, trabalhador, correto e vencedor. E, como treinador, não fez feio entre 2006 e 2010. Mas o momento indicava um caminho novo, diferente.
Algo que apontasse para mudança ao menos dentro do campo, com ideias conectadas ao futebol que sofreu uma guinada no mundo. Um velho amigo, Gilmar Rinaldi, por sua vez chamado por outro amigo, Jose Maria Marin, o convidou. Dunga é leal aos seus amigos, o que é uma virtude. Topou.Na CBF funciona assim. É por isso que nomes lendários da casamata, como Rubens Minelli ou Ênio Andrade, nunca foram convidados, enquanto Sebastião Lazaroni assinou o time da Copa de 1990.
O eleito pode ser até ser respeitável, como Felipão, Zagallo ou o próprio Dunga, mas só no trabalho é impossível chegar lá. Tem de ser amigo. Tite assinou o manifesto de personalidades em defesa da renúncia de Marco Polo del Nero e toda a diretoria da CBF, por motivos óbvios. Suspeito que será carta fora do baralho enquanto a cúpula dos investigados pelo FBI ditar regras.
Se você entende que exagerei ao cravar que é o pior momento do futebol brasileiro em todos os tempos, lembre-se que os últimos três presidentes da CBF são réus em investigação policial internacional por fraude na CBF e na FIFA. José Maria Marin está preso desde maio. Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero estão indiciados pela Justiça dos EUA desde o dia 3 de dezembro.
São eles, com prepostos na Barra da Tijuca, que ainda dão as cartas. O Brasileirão que começa em maio se desenha com nível abaixo da crítica. Será disputado ao mesmo tempo em que a Olimpíada, uma burrice lendária. Os clubes do Rio nem terão onde jogar. Incrivelmente, nenhum cartola pensou nisso. Foram eles que escolheram a atual comissão técnica.
São eles, os investigados, que demonizam qualquer tentativa de organização dos clubes em ligas, como se dá nos grandes centros europeus. Quem, desta turma ilibada, veria problema em convidar um treinador assistente que fosse dono do hotel no qual se hospeda a Seleção?
É uma camaradagem feia.
O país tenta extirpar tecidos corruptos e discute excessos jurídicos que ferem a democracia. Exige transparência. Acredito que não houve má-fé nesse episódio envolvendo o ex-zagueiro Lúcio, um dos acionistas do Hotel Vila Ventura, em Viamão. Gilmar Rinaldi é só amigo de Lúcio, que é amigo de Dunga. É a prática na CBF há anos.
Esta conjuntura entra em campo e apequena a Seleção, hoje perdida como a cabeleira de David Luiz, que voa para lá e para cá, sem rumo, entre uma presepada e outra do zagueiro.