Escondidos atrás de uma larga tela escura, quem manipula os fantoches são os marionetistas. No teatro de marionetes da CBF, Marco Polo Del Nero trata a dócil cúpula da entidade e a grande maioria dos 27 presidentes das federações nacionais como bonecos.
No palco ou nos bastidores, ao vivo ou camuflado, o dirigente paulista, que assumiu em abril de 2015 com mandato até 2019, controla 100% da entidade que manda no futebol brasileiro. É um legítimo sucessor de João Havelange e Ricardo Teixeira.
Del Nero se licencia, e Coronel Nunes assume presidência da CBF
Faz parte de um grupo antigo, poderoso e ainda influente, José Maria Marin, antecessor de Del Nero e sucessor de Teixeira na presidência da casa, não teve tempo para fincar raízes. Vive em prisão domiciliar em Nova York, nos Estados Unidos.
Na última quinta-feira, pela terceira vez em 30 dias, o presidente da CBF mudou. O paulista Del Nero é um astuto estrategista político. Quando imaginava ser preso pelo FBI, em dezembro passado, pediu uma licença de cinco meses e escolheu o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), um dos seus vices, para assumir provisoriamente o posto.
Delfim critica retorno de Del Nero à CBF: "Já estava tudo preparado"
Quando Vicente começou a se movimentar fora da linha pré-estabelecida, Del Nero limou o interino em quatro semanas. Nomeou o obscuro coronel Antônio Carlos Nunes, 77 anos, presidente da Federação Paraense de Futebol há seis mandatos e vice-presidente da CBF pela região norte, como novo mandatário e pediu licença do cargo outra vez. Retornou aos bastidores. Vai mandar do lado de lá.
A manobra de Del Nero tem um fim. É fácil entendê-la. Se a Justiça brasileira o prender, a partir da delação premiada de Marin ou de outros dirigentes abatidos pelo Fifagate, ou se ele for punido pelo Comitê de Ética da Fifa, enfim, banido do futebol - como Joseph Blatter e Michel Platini -, Nunes será seu sucessor por ser o vice mais idoso.
Leonardo Oliveira: por que os clubes silenciam diante da CBF?
O movimento afasta de vez o catarinense Delfim de Pádua Peixoto, 74 anos, da linha de sucessão. Delfim foi um parceiro fiel e de primeira hora de Ricardo Teixeira. Sempre caminhou ao lado de Del Nero. A ruptura só aconteceu porque o catarinense não foi aceito como futuro presidente da CBF.
Nunes é um dirigente obscuro e sem condições de dirigir uma entidade que teve uma lucro de R$ 519 milhões em 2014. Posará de presidente, será só sorrisos. Mas, com cordões atados nas costas, será sempre manipulado por Del Nero, do café da manhã ao jantar.
*ZHESPORTES
Opinião
Luiz Zini Pires: como funciona o teatro de marionetes da CBF
Luiz Zini Pires
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project