Os dias de futebol e capoeira pelas ruas do bairro Goiânia Viva resultaram em algo impensável para Wendell Lira até pouco tempo, quando encontrava-se desempregado. No dia 11 de janeiro, o agora atacante do Vila Nova-GO, estará em Zurique, na Suíça, ao lado de Alessandro Florenzi, da Roma, e Lionel Messi, do Barcelona. O motivo? Um golaço de meia-bicicleta feito pelo Goianésia-GO que o levou a concorrer com os outros dois ao Prêmio Puskás 2015. Na mesma ocasião, Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo estarão concorrendo à Bola de Ouro.
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Ansioso para o evento de gala, Lira atribui à "infância sapeca" a capacidade de improviso no lance do gol. Um período que descreve como feliz e de bastante apoio da mãe Maria Edileuza e dos irmãos Paulo Roberto, mais velho, e Thalles Rodrigo, mais novo. Do pai, sabe pouco. Caso esteja vivo, Wendell acredita que José Lira Filho esteja no Pará.
- Ou alguma coisa assim - diz.
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Das situações difíceis que já passou na vida, porém, o jogador que promete tietar Messi e Cristiano Ronaldo no próximo mês tira lições. Afinal, como gosta de dizer, "é caindo que se aprende".
O gol que você fez é uma acrobacia. Já fez ginástica ou algo do tipo para tamanha habilidade?
Nunca tinha feito nada de acrobacia, não. Acho que foi mais da infância, mesmo, uma infância sapeca. Eu e meu irmão mais novo sempre brincávamos de saltar, capoeira, então acho que isso contribuiu um pouco.
Sua infância foi aonde? Jogava bola na rua?
Minha infância foi aqui em Goiânia. Sou nascido e criado em Goiânia. Graças a Deus tive uma mãe e dois irmãos que me apoiaram bastante na minha infância, sempre me deram tudo o que precisava para que tivesse uma infância feliz. Sempre joguei bola na rua, sempre, sempre. Bola na rua, terrão... cansei de perder os tampões dos dedos no asfalto, nas quinas de meio-fio. Mas foi uma infância bacana, graças a Deus.
Ainda mora no mesmo bairro da infância?
Não moro. Eu casei, tive uma filha, tive que sair da casa da minha mãe. Tive que procurar meu canto, mas vou lá direto. Tenho contato firme lá, porque é um bairro que cresci, nasci e tenho um carinho enorme por eles (vizinhança).
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Sua filha tem apenas dois anos. Ela já tem noção de que o pai está disputando um prêmio em nível mundial?
Não, cara. Ela é muito pequenininha ainda, ela gosta bastante, ela vê na televisão e fica falando "papai", "gol", "Wendell Lira", mas ela não tem noção da grandeza desse prêmio, não.
Sua filha vai com você para a Suíça?
Infelizmente minha filha não vai poder ir. Mas a minha esposa vai comigo e vai viver esse sonho também. Acho que vai ser legal. Ela nunca andou de avião e de repente pegar uma viagem para a Suíça, vai ser um sonho para ela também.
Seu pai ainda vive?
Vive sim, cara. Acho que ele mora no Pará ou alguma coisa assim, mas eu não tenho contato. Ele nunca mais entrou em contato com a gente, nem comigo nem com o meu irmão mais novo. E acabou que foi se perdendo este contato, o tempo foi passando. Mas acredito que está vivo, sim (...) Perdi o contato dele tem uns três, quatro anos. Ele some, ele aparece, aí fica uns três, quatro anos sem aparecer, e aí aparece de novo. Aí fica desse jeito, sabe?
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Como recebeu a notícia da indicação ao prêmio?
Eu recebi a notícia quando estava na casa da minha mãe, almoçando. Muita gente me ligou, aí de cara não acreditei, mas depois entrei na internet para confirmar. Fiquei muito feliz porque é um sonho, né? Isso que está acontecendo é um sonho.
E o convite formal chegou como?
Chegou primeiramente em um formato de carta por e-mail, onde recebi as explicações, de como seria, quando, e depois eu acabei recebendo um telefonema da secretária da Fifa, onde ela me informou as mesmas coisas. Agora eu estou mandando os dados e terminando de confirmar.
Primeira vez no Exterior?
Não é a primeira vez. Já fui para o Japão e também para a Ilha de Malta, mas deste jeito é a primeira vez, claro. Está sendo um sonho viver tudo isso, cara. Estou tentando aproveitar ao máximo, e as passagens não estão compradas ainda. Vão ser compradas mais perto da viagem. Até agora fiquei de passar alguns dados, mas com certeza isso deve ser resolvido nas próximas semanas.
Mas depois daquele golaço é você quem precisa comprar as passagens?
Não. As passagens, despesas, tudo por conta deles, da Fifa. Não vou ter nenhum custo.
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Você vai estar ao lado de muita gente famosa. Vai fazer o quê?
É um sonho estar lá. Acho que eu vou tentar tietar bastante todo mundo, o Messi, Cristiano Ronaldo... tirar bastante foto, aproveitar, porque é um momento único na minha vida.
E se ganhar o prêmio?
Cara, acho que independentemente se ganhar ou perder esse prêmio, o mais importante foi eu ter ficado entre os três, já que era um sonho eu ir para a premiação e conhecer esse tanto de craques.
É verdade que você já teve proposta do Milan?
Cara, quando eu voltei da seleção (de base), que eu voltei para o profissional do Goiás, teve uma sondagem, sim. Tiveram alguns jornais, a imprensa aqui noticiou que teve a proposta. Tentei conversar com o presidente do Goiás na época, mas como eu tinha acabado de assinar contrato de cinco anos não tive como fazer nada. Mas é a vida, a vida é assim mesmo.
Você acha que errou alguma decisão para não chegar a atuar em grandes clubes?
Acho que não. Deus sempre prepara o melhor para a gente, independente se for bom ou não, eu vejo pelo lado bom, pela experiência que ganhei, por tudo que eu aprendi. E a vida é assim: é caindo que se aprende.
Como foi seu 2015?
Fiz uma temporada muito boa. Fiz um Campeonato Goiano excepcional, tive bastantes propostas. Acabei optando pela Tombense, onde não fui feliz. Voltei para casa, estava em um momento complicado, desempregado, mas Deus abriu as portas com esse gol, e espero em 2016 poder fazer um ano maravilhoso.
Certo, Wendell, vou deixar você almoçar agora.
Não estou almoçando, não. Estou falando com um pouco de dificuldade porque estava no dentista e estou com a boca anestesiada.
Pois é, o mundo inteiro vai estar vendo você, né?
É, sim. Estou fazendo um cuidado especial para chegar lá tranquilo.
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