Kobe Bryant anunciou a sua aposentadoria. Um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos encerrará a sua carreira depois de 20 temporadas - todas pelo Los Angeles Lakers - e um sem-número de fãs espalhados pelo mundo. Em Porto Alegre, um desses admiradores foi protagonista no maior jogo que o baloncesto já registrou em sua centenária história.
Muito antes da maravilhosa carta redigida por Kobe ao basquete, o Vaca já era fã dele. Tinha camisa. Usava munhequeira com as iniciais do ídolo. Corria o ano de 2006, o 24 dos Lakers tinha, até então, vencido três vezes a liga e havia realizado uma das maiores façanhas da história do seu esporte: anotara estonteantes 81 pontos em uma mesma partida. No meu colégio, Vaca entraria para o imaginário do esporte marcando muito menos cestas.
Era a final do campeonato de basquete. Meu time contra o do Vaca. A gente se revezava para bloquear o guri, que era o único que tinha alguma noção de como se praticava aquele esporte. Com o craque eclipsado pela marcação, o time deles pouco - ou nada - fazia em quadra. Nós éramos só defesa.
Aí que entra o que há de irrepetível naquele jogo: o cronômetro estava prestes a zerar e as cestas permaneciam imaculadas. O jogo - de basquete - seguia 0 a 0 no último quarto. Lá pelas tantas, a nossa perseguição implacável acabou virando lances livres. Pior: lances livres para o Vaca cobrar. Duas bolas na risca do garrafão para o melhor jogador deles, faltando 20 segundos de jogo.
Vaca lançou a primeira. A bola laranja quicou trinta e quatro vezes no aro - é assim que eu me lembro, pelo menos - antes de sair. Alívio momentâneo. Ele lançou a segunda e... Chuá! A bola ignorou o aro, foi beijar a rede e fez aquele barulho gostoso antes de pingar no chão. Vaca permaneceu na posição de lançamento. Os braços esticados para o alto, o punho direito quebrado, a munhequeira que carregava as iniciais "KB" brilhando como uma pulseira de diamantes. Ponto deles. O único do jogo. Vaca campeão.
Kobe fez em sua carreira, até aqui, 32mil vezes mais pontos do que o Vaca naquela tarde. É dos maiores que já praticaram esse esporte. Foram cinco títulos da NBA, duas medalhas olímpicas de ouro e incontáveis jogadas geniais. Quando acabar essa temporada e, com ela, as duas décadas de Kobe Bryant no basquete, eu, o Vaca e qualquer um que um dia se interessou por esse esporte vai sentir saudade de um jogador tão inigualável quanto o futebolístico placar de 1 a 0 na nossa final de campeonato do colégio.
