Quando a bola vinha pelo alto, por baixo, quadrada ou redonda, lenta ou veloz, Alex agitava o pé esquerdo e aninhava, aconchegava, a amiga fiel. Não precisava erguer a cabeça, sempre ereta. Dominava, lançava e chutava. Criava e marcava.
Em 19 anos de carreira (1995-2014), distribuídos em seis times entre idas e vindas, Coritiba, Palmeiras, Parma, Flamengo, Cruzeiro e Fenerbahçe, no Brasil e no Exterior, o canhoto marcou 442 gols. Deixou o futebol no ano passado como o 22º maior goleador do país. Com a camisa 10, só o Rei Pelé e Zico o superaram em número de gols no país.
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A vida do curitibano, 38 anos, está inteira e completa em Alex, A Biografia, de Marcos Eduardo Neves (Editora Planeta, 256 pág, R$ 39,90). Gols, títulos, façanhas não dominam a obra, que merece atenção de todos que tratam com o futebol, especialmente os atletas que não se dão com leituras. Há broncas, fracassos, enfrentamentos, desentendimentos, arrependimentos dividindo o mesmo teto.
Alex foi corajoso. Nem todos os ídolos estão dispostos a contar o que sabem e o que viram. De questionar Felipão ou chamar um dirigente da CBF de bêbado, de encontrar o primeiro ministro da Turquia e a presidente do Brasil, de lembrar do delicado tratamento que a mulher passou para ter filhos, de narrar que precisou sair da concentração em dia de jogo, contra o Inter, para tentar fertilizar a mulher, de discutir com dirigentes de grandes clubes e colocar empresários na parede.
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Ele tocou na família, nas suas origens de menino carente, na formação como atleta, no ambiente nem sempre saudável do vestiário, no enfrentamento poderoso, na relação com a torcida que vive na montanha-russa das emoções.
- Ditei ao meu biógrafo o que quis e ele teve liberdade para fazer entrevistas que pediu, em Curitiba, São Paulo, Minas Gerais, Istambul, na Turquia, em qualquer lugar. Tentei ser o mais verdadeiro possível. O jogador é julgado todos os dias. Mas o torcedor não recebe da imprensa todas as informações sobre os atos dos atletas. Só coisas esparsas, fragmentos, nem sempre se compreende o todo. Fiz um livro tentando colocar tudo no lugar. Não é polêmico. São coisas que vivi. Estou inteiro e honesto nas páginas.
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- Arrependimentos?
- Sim, muitos. O jogador não é diferente de ninguém - responde.
- A briga com o ex-jogador Zinho é um deles?
- Me desentendi com o Zinho no Palmeiras. Depois nos acertamos no Cruzeiro. Nunca tive nada contra ele. Conversamos. Está tudo bem. Foi algo que aconteceu num momento e que foi completamente superado depois.
Nos tempos de Seleção Brasileira Foto: Orlando Kissner/AFP
Alex ficou rico com o futebol. Quando bebê precisou dormir em cima de jornais na modesta casa do bairro Jardim Campo Alto, em Curitiba. Ao crescer, uma bola sempre fez companhia, brinquedo número 1. Depois do futebol de salão, encontrou espaço no Coritiba. O sucesso o levou ao Palmeiras. Quando o italiano Parma o contratou, sentiu a maldade. Foi tratado como mercadoria, sem respeito. Passou sem brilho pelo desorganizado Flamengo. Encontrou seu máximo no Cruzeiro da Tríplice Coroa. Foi entre os turcos que ele foi abraçado pelo torcedor, ganhou uma estátua, tamanha a adoração.
- Parece incrível, mas depois que deixei a Europa e voltei para Curitiba, a minha cidade se transformou em rota natural dos torcedores turcos. Antes eles visitavam Foz do Iguaçu. Até o Estádio Dorival de Brito entrou no roteiro. O turco é apaixonado pelo futebol.
O futuro de Alex, com quem conversei longamente por telefone, está no futebol. Hoje ele é comentarista da ESPN Brasil.
- Não me sinto comentarista, Nem digo que sou um. Não gosto de aventureiros no futebol.
- Como será o amanhã? Futebol? Outro negócio?
- Sou novo. Quero me preparar, mas vou continuar no mundo do futebol. Não decidi ainda. Posso ser treinador ou executivo. Vou estudar, me aprofundar.
- O Bom Senso FC, grupo de jogadores que deseja mudar a arcaica estrutura do futebol brasileiro, não seria um caminho?
- Sou ex-jogador. O movimento precisa de atletas em atividade. O Bom Senso está no caminho.
- O jogador tem um papel importante na sociedade brasileira?
- Tem e é grande, mas precisa se organizar mais e mostrar força. Não vejo condições de os jogadores fazerem uma greve. Mas temos ex-jogadores em postos importantes. Lembra da Seleção tetracampeã nos Estados Unidos?
- Sim. A geração 1994?
- O Dunga treina a Seleção. Ricardo Gomes levou o Botafogo de volta à Série A. Jorginho e Zinho lutam pelo Vasco, Ricardo Rocha e Raí estão na TV, Mauro Silva é executivo de futebol, como Leonardo na Europa, Romário virou Senador da República. Será que esses ex-jogadores não têm nada a oferecer ao futebol? Ao país? A nós brasileiros?
- Eles têm sim - encerro.
O cidadão Alexsandro de Souza, o ídolo Alex, quer um Brasil decente, como eu, você, milhões.
* ZHESPORTES
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