Não me venham com essa de entressafra. A justificativa para o péssimo momento da Seleção, muito difundida, principalmente após as más apresentações do time no início das Eliminatórias, não me convence. E não se sustenta: o Brasil tem, sim, jogadores de qualidade suficiente para formar, senão a melhor seleção do mundo, uma das três ou quatro melhores.
Hoje, quem tem um cardápio mais farto do que o do Brasil? Alemanha? Acho que sim. Argentina? Talvez. Holanda, Bélgica, Chile? Não acho. Para mim, o problema da Seleção Brasileira é outro e tem nome: Dunga.
Veja, por exemplo, o caso do Douglas Costa no Bayern de Munique. No time alemão, o ex-gremista tornou-se um meia agressivo, veloz, proativo, driblador, um criador de jogadas. Foi escolhido a dedo para substituir Ribery e fez o francês cair em esquecimento na Alemanha. Nas mãos de Pep Guardiola, virou um jogador selecionável. Ou Elias, um volante atrevido, que por vezes é um dos jogadores mais avançados do meio de campo do Corinthians, líder do campeonato. Forte, inteligente, passador perfeito, elemento-surpresa insistente, Elias é um dos destaques do Brasileirão. Nas mãos de Tite, também virou selecionável.
E não é que, nas mãos de Dunga, Douglas Costa e Elias viraram jogadores comuns? Não pode ser coincidência. Douglas Costa, com a amarelinha, ajuda a formar um meio de campo em que ninguém toma responsabilidades, com movimentação preguiçosa, em que o ex-gremista é um coadjuvante. Com Elias, a coisa é ainda mais séria: contra o Chile, o corintiano parecia um pitbull encoleirado: a linha central era o limite intransponível, e dali Elias não passava. Ordem do técnico, é lógico - e eis mais uma qualidade jogada fora.
Elias e Douglas Costa são dois dos tantos bons nomes de que Dunga dispõe para formar o seu miolo de time - a eles, somam-se Philippe Coutinho, Willian, Lucas Lima, Luiz Gustavo, Fernandinho, Oscar, que, se não são craques, têm alta importância em suas equipes. Para o gol e para a defesa, também não me parece haver escassez: Alisson, Grohe, Cássio, Victor, Daniel Alves, Marcelo, Thiago Silva, Miranda e Marquinhos dariam segurança a qualquer time do mundo - com nosso treinador, formam uma guarda insegura e atrapalhada. Não deveriam. "Mas não temos mais craques", alguns dizem. A resposta é simples: Neymar.
Guardiola e Tite não foram citados à toa. São tão bons treinadores que viraram clichês, sinônimos de "técnico moderno". Na segunda rodada das Eliminatórias, contra a fraquíssima Venezuela, Dunga mudou o time para melhor e venceu. Arrumadinho, o Brasil é mil vezes melhor que a Venezuela e não toma o baile que tomou do Chile. E, claro, se classifica para a Copa, não se preocupem - mas que seria mais fácil com um Tite ou um Guardiola na casamata, ah, isso seria.