Wendell não chegou a se surpreender com os insultos racistas no estádio da Lazio, na terça-feira, onde o seu time, o Bayer Leverkusen, foi derrotado por 1 a 0 na fase preliminar da Liga dos Campeões. Fora alertado por um companheiro sobre o comportamento da torcida minutos antes do jogo. Mal reparou.
- Se aconteceu, deixa que aconteça. Isso não vai me diminuir nem me aumentar em nada - disse, por telefone, desde Colônia, cidade em que mora, a 21 quilômetros de Leverkusen.
Às vésperas de se apresentar à seleção olímpica para o amistoso contra a França, em 8 de setembro, o cearense de 22 anos adotou o discurso de "não se abater e bola para frente".
Como aconteceram os insultos racistas?
Eu não escutei. Perguntei também se o meu amigo (o zagueiro alemão de origem africana Tah), que está jogando comigo, escutou. Ele disse que não. Mas depois do jogo, algumas pessoas do grupo disseram que os torcedores teriam me insultado com o som de macaco. Disseram que anunciaram no alto-falante do estádio. No alto-falante, eu escutei. Mas não sabia o que era. Estava muito concentrado.
Foi a primeira vez que você passou por isso?
Sim. Mas na verdade, fiquei bastante tranquilo. Não deixei me abater também. Porque, se eu fosse me apegar a isso, ia ficar muito mal. Deixei acontecer. Fiz que nem era comigo, uma partida normal. Não deixei me abater. Isso faz parte e é bola para frente.
A Lazio tem fama de ter uma torcida racista...
É verdade. Acho que são poucas as pessoas que pensam assim. Eu estou em um país que nunca aconteceu isso. Pelo menos comigo e com os meus companheiros nunca aconteceu. Acho que é um país que respeita bastante. A Itália tem essa fama de ser um pouco racista. Estou tranquilo, tenho recebido todo apoio. Estou com a cabeça no lugar. Se quiserem insultar, podem insultar. Não estou nem aí. Estou trabalhando, estou jogando. Não estou roubando. Eles que façam o que quiserem.
E a Alemanha? O idioma ainda é problema?
Graças a Deus, tudo bem. Está tudo dando certo. Para entender (o alemão) é muito mais fácil. Agora, para falar, falo só o básico. Essa é a minha maior dificuldade. Faço poucas aulas por semana, porque a gente joga batente, concentra.
Em um ano na Alemanha, já foi possível traçar alguns objetivos?
Meu objetivo principal, hoje, é a seleção olímpica. Estou tendo a oportunidade de ir mais uma vez. Espero continuar sendo chamado, mas o meu objetivo é chegar à Seleção principal. A gente sabe que tem uma carência na posição (no futebol brasileiro) e eu tenho de estar preparado para quando ela chamar.
Você tem acompanhado o futebol brasileiro?
Na verdade, o único time que eu acompanho mesmo é o Grêmio, por ter jogado e me identificado bastante. Não só com a torcida, mas com o grupo, com o povo gaúcho. Por ter o Luan, que é meu amigo, o Marcelo Grohe, que eu admiro batente... Falam que a torcida do Grêmio é racista, mas fui muito bem tratado. Não tenho o que reclamar do Rio Grande do Sul.
E no Bayer, o que falta?
Falta conquistar título. Somos um time muito jovem. A gente peca um pouco quando vai chegando os momentos decisivos. Mas é um grupo bem qualificado, apesar de ser jovem.
Deixa um recado para a torcida do Grêmio.
Deixar um forte abraço. E, como eu falei. Daqui uns tempos eu vou voltar e, quem sabe, para o Grêmio, né? É o principal objetivo se eu voltar para o Brasil.
*ZHESPORTES