Para cada exercício específico em uma cadeia muscular, Michel faz uma série de abdominais. Quer fortalecer o púbis. Seu agente, José Lorenzo, espanhol que comprou os direitos econômicos do goleador do Gauchão, contou que, no país de Real Madrid e Barcelona, as pré-temporadas sacrificam essa região do corpo.
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É na academia quase vazia, que, sozinho, o jogador se dedica a garantir uma boa forma física para, se tudo der certo, chegar bem à Europa. Mas o levantamento repetido dos halteres serve, principalmente, para conter sua ansiedade: dois meses depois de fazer 11 gols em 15 jogos, o artilheiro do Passo Fundo segue desempregado.
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Sua situação, porém, ainda não é desesperadora, ao menos financeiramente. Representado pelo empresário cujo escritório está localizado em frente ao Estádio Santiago Bernabéu, tenta aparentar tranquilidade de que irá para algum clube da primeira divisão espanhola nos próximos dias.
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Negou propostas de clubes das séries B e C brasileira e até do famoso "mundo árabe". Sua esperança é chegar a uma equipe da altura de um Levante, um Elche ou Getafe, onde o agente tem bom trânsito.
Grifes do Interior também sofrem com o desemprego
Aos 26 anos, Michel das Chagas Henrique, 1m85cm, sabe que uma possível ida para a Espanha é a grande chance de estourar uma carreira que já estava praticamente encravada entre clubes menores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina - com breves passagens por São Paulo.
Michel mantém a forma em academia de São Gabriel
Foto: Félix Zucco
O bom posicionamento na área, a altura que possibilita disputar na cabeça com zagueirões e uma velocidade até certo ponto surpreendente ajudaram-no a ser destaque na segunda divisão de Santa Catarina pelo Concórdia no ano passado.
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Procurado pelo Passo Fundo, aceitou o convite de comandar o ataque do time do norte gaúcho em troca da promessa de salários em dia e uma expectativa de um time forte, que brigasse pelo título do Interior. Houve investimento, mas faltou resultado para isso. Mesmo assim, recebeu o valor prometido.
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Surgiram propostas para jogar em divisões menores enquanto não tem o futuro definido. A única que realmente interessava seria uma do São Gabriel, time da cidade em que vive com a mulher e dois filhos pequenos. Mas o salário não valia o risco. Assim, acabou vendo da arquibancada a equipe ser eliminada na quarta rodada do quadrangular final da Divisão de Acesso, marcando apenas um gol.
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Demonstrou tristeza pelos companheiros de profissão e funcionários, e até pela cidade que nasceu e escolheu para viver enquanto não confirma sua viagem para a Península Ibérica. Quando pisou o gramado do Estádio Sílvio de Faria Corrêa, exclamou, naturalmente:
- Ah! Que saudade disso aqui!
Pelas manhãs, Michel é babá dos filhos
Foto: Félix Zucco
É na sua São Gabriel que passa os dias com a família em uma rotina pacata para quem, três meses atrás, estava em todos os noticiários esportivos. A jornada se vai mais ou menos assim: pelas manhãs, assume o papel de babá dos filhos. As tardes são distribuídas entre puxar ferro na academia e correr pelas ruas da cidade.
Em algumas noites, joga bola com outros ex-jogadores - e nesses dias, segura no peso dos exercícios, "para não endurecer os músculos". Noutras, acende a lareira para assistir a DVDs em uma TV de tubo ou receber alguns parentes em seu apartamento de dois quartos. Orgulhoso, deixa a chuteira dourada, que recebeu na festa dos melhores do Gauchão, bem à vista, para se lembrar de sua campanha entre fevereiro e abril de 2015.
E está sempre com o celular à mão, com a internet ligada, seja no WiFi ou no 3G. Porque é pelo WhatsApp sua principal comunicação com José Lorenzo. Nem reclama de ter sido acordado, dia desses, às 5h. O empresário mandou-lhe uma mensagem de voz garantindo que estava encaminhando alguns acertos.
O objetivo, na verdade, era transmitir uma mensagem de tranquilidade quanto ao seu futuro. Como se fosse possível tranquilizar um centroavante que está há três meses sem fazer gols.
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