David Ferrer não tem autobiografia, não estrela os maiores comerciais e não é a preferência dos futuros tenistas. Estes, ávidos por um dia brilharem em quadra, preferem a genialidade de Federer, a força de Djokovic ou a bravura de Nadal.
Nascido em 2 de abril de 1982, em Javea, na Espanha, o campeão do Rio Open de 2015 aos poucos vai se aproximando do final da carreira tal como começou: sólido, dedicado e eficiente, que mesmo sem ser um grande protagonista mantém a garra e o brilho no olhar de um menino ao pisar na quadra. Os adversários sabem muito bem disso. Para ganharem de Ferrer vão ter de dar o melhor de si até o último ponto.
Do alto dos seus 1m75cm, aos 32 anos, Ferrer chegou ao seu 23° título de simples em 15 anos de carreira ao conquistar o Rio Open em fevereiro. Só em 2015, são três taças em quatro disputas. Em janeiro, venceu o aberto de Doha, no Catar, batendo na final o checo Tomas Berdych. Na semana passada, venceu o ATP de Acapulco no México (24° taça no armário). Apesar do ótimo momento, ele sabe que o tempo é cruel.
Na coletiva após a vitória sobre Fabio Fognini na final do Rio, de chinelos, aliviado e sem deixar de mirar o troféu que repousava ao seu lado, relembrou as dificuldades que o circuito impõe cada dia mais.
- Ano passado, fiquei contente por acabar entre os top 10. Está cada vez mais difícil. Jovens vêm em uma forma fantástica, como Cilic, Nishikori e Wawrinka. É mais complicado, a cada ano, manter-se entre os primeiros - refletiu o tenista.
De fato, a ascensão de novos jogadores tem embaralhado as peças na linha de frente do ranking. O próprio Ferrer sentiu isso na pele no último Australian Open, quando foi atropelado nas oitavas de final pelo japonês Kei Nishikori (25 anos), por triplo 6/3.
No Rio, David Ferrer fez um torneio tipicamente de David Ferrer. Não reclamou da bola como Bruno Soares, não discutiu com os árbitros como Rafael Nadal e não jogou a raquete no solo como Fabio Fognini. Sem ser espetacular, foi, do início ao fim, regular, eficiente e preciso. Não escondeu uma felicidade certamente maior do que a que tivera na Romênia, em 2002, quando venceu o seu primeiro torneio ATP. Alguns entendidos dizem que a bola de Ferrer não anda. Outros preferem dizer que é apenas de um mero devolvedor. De fato, o espanhol não tem o melhor saque, a melhor direita ou o melhor voleio do circuito. Mas tem tudo no lugar. Especialmente a cabeça, que o faz o tenista coadjuvante mais protagonista da ATP.
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