Era em torno das 21h30min do domingo e o filho mais velho do pedreiro Vítor Augusto de Lima ainda não havia retornado da partida entre Novo Hamburgo e Aimoré, no Estádio do Vale, perto da divisa entre Novo Hamburgo e São Leopoldo. Ao ouvir o som de tiros, Vítor saiu de bicicleta à procura do adolescente e pedalou por duas quadras até encontrar um círculo de policiais ao redor do corpo do filho. Maicon Doglas de Lima, 16, foi morto por dois disparos, instantes após se envolver em uma briga entre as torcidas dos dois times.
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As manchas de sangue ainda estavam visíveis na esquina da Rua Gaspar Silveira Martins enquanto familiares, amigos e integrantes da torcida organizada Paranoia velavam o corpo de Maicon, na igreja Assembleia de Deus, em frente ao local onde a briga começou. Outro adolescente envolvido na confusão diz que Maicon e cerca de 20 torcedores da organizada do Novo Hamburgo teriam encontrado os torcedores do Aimoré na entrada da Estação Santo Afonso, do Trensurb. As provocações viraram agressões e moradores teriam chamado a polícia, que chegou quando pedras e garrafas eram jogadas de um lado para o outro.
O marmorista Pierre Krummenauer, 28, amigo da vítima, afirma ter visto a chegada de mais de cem policiais no local. Após alguns disparos para o alto, a confusão teria se dispersado. Em depoimento à Polícia Civíl, um dos policiais envolvidos admitiu ter atirado com munição comum durante a briga. Uma das balas que atingiu Maicon foi retirada pela equipe médica do Hospital Centenário e depois foi reapresentada pela polícia. Funcionários do hospital afirmaram, na manhã desta segunda, que não é o mesmo projétil.
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Rafael Supptitz, um dos fundadores da Paranóia, lembra que Maicon entrou pra torcida na época da fundação da organizada, há dois anos, após não passar em uma peneira do time de futebol de Novo Hamburgo. Queria viajar com o clube. O adolescente estudava no Colégio 25 de Julho e trabalhava como servente de pedreiro.
O pai, Vítor, o carregou no colo até uma das viaturas da polícia e diz que os tiros nas costas e em uma das nádegas atravessaram o tórax e a virilha do filho. A Polícia Civil de São Leopoldo ainda apura se os tiros que mataram Maicon foram os mesmos disparados pela polícia. Conforme o delegado Vinicius do Valle, apenas a perícia vai poder confirmar a origem dos disparos.