O goleiro Gabriel Hoerlle já havia encaminhado contatos com dois clubes quando acompanhou a romaria do time do Sindicato dos Atletas para o jogo-treino contra o Brasil, em Pelotas, no dia 29 de dezembro, na última segunda-feira de 2014. Quase acertado, a rigor não haveria necessidade de embarcar na caravana em meio às festas do fim de ano. Mas ele foi.
Jogadores recorrem a time de sindicato para manter vivo o sonho do futebol
Jogou meio tempo no Bento Freitas e segurou a equipe azeitada que o técnico Rogério Zimmermann alçou à Série C do Brasileirão. Se tivesse no estádio um empresário, olheiro ou dirigente que necessitasse de goleiro, poderia contratá-lo, sem medo.
Duas semanas depois, Gabriel foi chamado. Desde 9 de janeiro é jogador do Comercial, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de seis passagens pela Série A do Brasileirão e nove vezes campeão estadual.
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Aos 25 anos, o goleiro consegue a maior oportunidade de sua curta carreira, depois de ter passado por Inter de Lages-SC, Guarany de Camaquã e Canoas. E depois de seguidas viagens no ônibus dos sem-clubes do Sindicato.
- É a melhor notícia dos últimos anos - disse ele, já alojado em Campo Grande.
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Curiosamente, Gabriel divide o apartamento com o meia e lateral esquerdo Rodrigo Gaúcho, 27 anos, que já foi do Inter de Lajes, Sete de Setembro, de Dourados, e o National Sebis, da Romênia. Ambos, quando sem clube, sempre recorreram ao time do Sindicato à procura de emprego ou para manutenção física.
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No fundo de tudo, está o padrão sazonal do futebol brasileiro. A grande maioria dos clubes contrata apenas por uma determinada competição, não por um ou dois anos de contrato. Ao final do campeonato ou torneio, os profissionais dispensados têm de buscar alternativas de colocação, porque o desemprego bate à porta.
- Queria trazer a minha namorada de Esteio para Campo Grande, mas o vínculo vai só até o final do campeonato estadual, não há garantia de emprego nem até o final do ano - explicou Gabriel.
Mesmo que o Comercial conquiste vaga à Copa do Brasil e à Série D do Brasileirão, a permanência é incerta - que é a mesma situação instável dos pequenos clubes brasileiros de todas as divisões. A única saída segura de Gabriel é a conclusão em dezembro do curso de Educação Física na Ulbra.
Solteiro, morando com os pais, Gabriel poderia prescindir da difícil carreira de jogador e recomeçar a vida como professor. Mas não é este o seu plano. Vai persistir enquanto puder. Se em maio ficar sem clube, voltará à caravana do Sindicato.
Esperança renovada
Os sem-clube: goleiro consegue emprego depois de seis meses
No segundo capítulo da série, ZH conta a história de Gabriel Horlle, que fechou contrato com o Comercial-MT
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