O goleiro Jamilton Oliveira veio de Minas acompanhando a mulher gaúcha, Franciele, formada em Direito, e tinha esperança em fazer carreira por clubes do Sul. Espalhou currículo, que começava por título paraense pelo Remo, em 2012, e campeão do interior paulista pelo Botafogo-SP, em 2010.
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Como nada apareceu, participou de caravanas com o time do Sindicato dos Atletas Profissionais, sem nenhum retorno. Viajava sem muita conversa, pensativo. Foi a Pelotas e teve excelente atuação contra o Brasil. Depois, seguiu para enfrentar o Lajeadense, mas o jogo acabou cancelado por causa da chuva. Aquilo foi demais.
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Aos 28 anos, seis meses sem trabalho, quando nem o treino do Sindicato acontecia, o goleiro pensou ter chegado ao limite. Jamilton prostrou-se agachado à parede do acesso ao vestiário do Estádio Aviazul, como se não estivesse ali.
- Naquele momento fui ao fundo. Pensei em tudo, em desistir, em sair do Sul - contou Jamilton.
No jogo-treino seguinte, contra o Novo Hamburgo, ele não apareceu, nem ligou, como fazia.
- Jamilton, estamos aqui sem goleiro - conclamou o técnico Milton Pedrozo, o Miltinho.
- Estou desacorçoado, professor - respondeu.
Goleiro consegue emprego depois de seis meses
Portanto, na sexta-feira de 16 de janeiro, o goleiro estava inclinado a mudar de vida.
No jogo-treino seguinte, contra o São José, ele apareceu no Passo D'Areia e, desconcentrado, não repetiu a boa atuação contra o Brasil-Pel. Foi na última hora da curta paciência que ele recebeu telefonema de um amigo que o havia indicado ao Vilhena, de Rondônia.
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Na semana passada, o técnico Márcio Bittencourt, ex-volante do Corinthians e do Inter, o convenceu a se mudar para a cidade de 90 mil habitantes que se orgulha de ser o nono melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Região Norte. Jamilton foi. O clube é bicampeão estadual, vai fazer sua décima Copa do Brasil (estreia contra a Ponte Preta) e disputou quatro vezes a Série D do Brasileirão, a última em 2012.
Por isso o contrato é de uma temporada, diferente dos vínculos que se limitam a uma competição, como ocorre nos clubes do futebol do interior gaúcho.
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- Estou em idade boa para goleiro, não podia ficar sem jogar - declarou ontem de Mogi Mirim, interior paulista, onde o Vilhena faz pré-temporada.
Jamilton livrou-se do destino do zagueiro Heleno, ex-Caxias e Pelotas, o último jogador de Miltinho que acabou trocando de profissão, em 2012. Irmão do outro zagueiro Régis, também do Inter, Heleno ao menos já defendia o time universitário da Ulbra e ganhava bolsa de estudo para concluir o curso de Fisioterapia, que é a profissão que exerce há dois anos.
No caso de Jamilton, nem de longe teria a mesma opção de vida de Heleno.
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