Parte da geração que cresceu idolatrando o craque Falcão, maior nome do futsal brasileiro deste século e provavelmente também do próximo, e que no ano passado viu o ídolo treinar com a seleção brasileira talvez nem saiba que Caxias do Sul já foi a cidade por onde passaram os principais atletas do futsal brasileiro em um passado nem tão remoto.
Em 1985, o empresário Paulo Triches fundava o clube que levava seu sobrenome _ também nome de sua empresa _, que no ano seguinte foi renomeado para Enxuta _ uma das marcas da companhia. Foi preciso menos de uma década para empilhar títulos, atrair grandes craques e revolucionar o futebol de salão no Brasil.
- A Enxuta foi um marco no futsal da cidade, do Estado e do país. Muito em função dos investimentos e das pessoas que a fizeram. Foi o primeiro clube no Estado a estabelecer treinos em dois turnos, em uma rotina mais profissional que uma ou duas equipes no Brasil faziam. A Enxuta mostrou que, com investimento, era possível fazer futsal de qualidade - comenta Ênio Aguiar, 54 anos, que participou da Enxuta durante os dez anos do clube, como coordenador da base.
Entre 1986 e 1996, foram seis títulos gaúchos e três nacionais (veja quadro). Uma hegemonia que até hoje rende frutos. O atual técnico da Seleção Brasileira, Serginho Schiochet, foi fixo dos áureos times da Enxuta. Jari da Rocha, o Jarico, e mais recentemente Ney Pereira também são ex-técnicos da seleção que passaram pelo time vermelho e branco.
Entre as dezenas de atletas e treinadores que entraram para a história do futsal pela Enxuta, nem todos tiveram projeção nacional ou internacional e fizeram fortuna. Mas nem por isso serão esquecidos pelo que alcançaram.
Autor do primeiro gol do ginásio do Enxutão, em 25 abril de 1986, em um amistoso contra o Inter vencido por 9 a 1 pela Enxuta, Gelson Scola, 54, tem até placa em sua homenagem em uma parede ao lado da quadra. Ele recorda que a maior parte do primeiro grande time, campeão gaúcho de 1986, era formado por caxienses como Álvaro Tulica, Mauro Caxias, César Machado, Paulo Boff, Milton Gomes, além dele próprio e outros.
Para Scola, que atuou até 1989 no clube, a saudade é comum a todos que participaram daqueles grandes momentos:
_ Nossa equipe virou referência, graças à visão e ao investimento do Triches. Se hoje a cidade tem cerca de 40 escolinhas de futsal e ainda forma ótimos jogadores, isso se deve em muito à influência da Enxuta.
"Foi um período fenomenal", relembra Manoel Tobias
Craque do futsal comparável talvez apenas com o ídolo Falcão, Manoel Tobias foi contratado pela Enxuta em junho de 1994, aos 23 anos. Diz lembrar dos primeiros dias que passou em Caxias do Sul, hospedado no Hotel Alfred e vendo neve pela primeira vez na vida. Tobias, na verdade, não esqueceu de nada. É capaz de citar um por um os companheiros que atuaram a seu lado na equipe tricampeã gaúcha e bi da Taça Brasil (ele participou das conquistas estaduais de 94 e 95 e da nacional de 95).
- Foi um privilégio poder ter atuado ao lado de Jorginho, Danilo, Fininho, Serginho, Bagé. Tinha o Bela, que era o nosso iluminado, o (Fernando) Rossatto, um dos melhores preparadores físicos com quem trabalhei. Era uma equipe que nunca esmorecia, entrava sempre com a convicção de que ia ganhar _ recorda.
Tobias também destaca que o Campeonato Gaúcho de Futsal era o mais difícil do mundo no anos 90, tamanho era o protagonismo do Estado no esporte naquela época. Equipes como Itaqui, Perdigão e Lagoense eram algumas das principais forças, além das serranas Enxuta e ACBF. Hoje, aos 43 anos e vivendo em Fortaleza, onde é proprietário de uma rede de lojas de sapatos, o jogador considerado três vezes o melhor do mundo guarda com carinho da época em que barbarizou nas quadras gaúchas:
- Guardo no coração não só os títulos, mas principalmente as pessoas que fizeram parte daquilo, desde a direção até torcedores que acompanhavam o time. A cidade toda respirava futsal. Muitos clubes hoje só estão em um patamar muito alto porque se inspiraram no exemplo do que a Enxuta fez lá atrás.
Bons tempos
Há 30 anos, Caxias começava a viver os seus "anos dourados" no futsal
Em 1985, o empresário Paulo Triches fundou a equipe que levava seu sobrenome, renomeada para Enxuta no ano seguinte
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