Juan Román Riquelme foi o melhor jogador nos gramados argentinos nos últimos 20 anos. Não caímos aqui em exageros nem em comparações absurdas... O Maradona que compartilhou equipe com ele era um homem e suas circunstâncias, já havia feito o máximo. O Messi que fez tabelas com ele na seleção estava a caminho de ser o que foi e é: o melhor jogador do mundo em times. Como Diego era um Deus venerado e Leo é um Deus por venerar, entre um e outro, Riquelme venerava a bola...
Dos dois, Riquelme teve algo. Talvez o mais importante: a capacidade de comover. Um maestro da pausa e do passe entre mil pernas. Desfrutava mais do passe do que do gol. Como diria César Menotti, por toda a vida jogou com um dom: apesar de ter as chuteiras na terra, podia ver todo o campo como se estivesse elevado sobre ele. Essa panorâmica lhe permitia mudar o ritmo do jogo quando seu time necessitava de oxigênio e, a partir desse movimento, elaborar a estratégia do ataque.
Porque Riquelme foi um grande estrategista. Fez um culto ao "antepenúltimo passe". Se contam mil assistências suas, deve ter milhões de pré-assistências. Esses passes que definem como e por onde atacar. Tão influente com a bola como sem ela, foi técnico de chuteiras, movendo o braço como se fosse o que foi, um diretor de orquestra.
Além de tudo isso, ou talvez muito mais, Riquelme foi um verdadeiro rebelde. Muito amigo dos seus amigos, jamais esqueceu sua origem. Desconfiado dos poderosos ou dos amigos deles, sempre se moveu em um círculo fechado. Só o abria aos domingos.
Essa maneira de ser o fez polêmico. Do vestiário, saíram fofocas covardes que alimentaram sua imagem de tipo difícil, que treinava quando queria, só falava com os amigos e tomava mate e comia pizzas antes de entrar em campo... Situações que, se fossem verdadeiras, desapareciam quando fazia a bola rolar.
Esses comentários aumentaram a coluna dos anti, porque Riquelme logrou até isso: dividir o futebol entre riquelmistas e antirriquelmistas. Sucede que os anti jamais puderam sustentar sua posição com questão futebolística. Essa foi a maior derrota deles.
Riquelme nunca colaborou com a barrabrava. Ao contrário, combateu-a com o pior que se pode fazer a essa gente: ignorou-a. Bancou Mauricio Macri, atual candidato a presidente da nação, quando ninguém o fazia. Peleou com Maradona por defender Álfio Basile e seus códigos. Renunciou duas vezes à seleção, para orgulho dos anti. Levou o Villarreal a acotevelar-se com os poderosos. Teve o gosto de, como Maradona e Messi, usar a 10 do Barcelona...
Foi-se Riquelme, depois de jogar na segunda divisão como sempre fez na primeira. Respeitando a bola, o mais sagrado desse sagrado jogo. Foi um prazer, Román.