Sheffield, Inglaterra - Como atacante do Carolina Hurricanes na NHL (Liga Nacional de Hóquei dos EUA), Anthony Stewart ganhou US$ 800 mil na temporada passada. Mas em seu emprego temporário jogando para o Nottingham Panthers na Elite League britânica, ele está ganhando basicamente nada.
- Isso não é necessariamente pelo dinheiro - declarou Stewart, que por enquanto está hospedado num hotel de US$ 97 a diária em Nottingham - convenientemente localizado, segundo seu site, próximo da estação de ônibus e de um Hooters local. - Passei as duas últimas semanas descansando e fazendo patinações informais sozinho, e é bom simplesmente sair pelo gelo e obter um pouco de ação de jogo.
Desempregados devido à greve de proprietários da NHL, cerca de 75 jogadores da liga assinaram ou concordaram em assinar contratos temporários com equipes bem conhecidas da Europa, em locais como Rússia, Suíça e República Tcheca.
Até agora, Stewart foi o único jogador a assinar com a Elite League, uma liga tão obscura neste país focado em futebol, críquete e rúgbi, que muitos britânicos nem sabem que ela existe.
- O hóquei é um esporte minoritário neste país - afirmou Gary Moran, gerente geral do Panthers. Nesse dia ele estava atendendo o telefone na sede do Panthers, pois o gerente do escritório havia saído.
Segundo o agente de Stewart, Eustace King, o objetivo era dar tempo de jogo a Stewart para que ele se mantivesse em forma - e talvez se aprimorasse - até voltar aos Hurricanes, onde teve uma temporada inexpressiva no ano passado. Treinar não é o mesmo que jogar, disse ele, e o consenso é que os jogadores que ficarem ociosos durante a greve podem perder a prática.
- Desde que você consiga jogar numa partida real e entrar com toda a velocidade, não faz diferença - você pode jogar na Inglaterra, na Áustria, Suíça, Suécia - , garantiu King, falando de Los Angeles. O Panthers, e a liga em geral, têm dado grande atenção para a presença de Stewart - é uma chance de obter um jogador ativo da NHL, embora alguns ex-jogadores joguem para equipes da Elite League.
Dos 10 times da liga, muitos jogam em rinques locais, disputando tempo no gelo com patinadores colegiais, festas de patinação, pessoas tendo aulas e, na Escócia, praticantes de curling.
Outros aspectos da Elite League - cujo título oficial é Rapid Solicitors Elite League, com o nome de seu maior patrocinador, um escritório de advocacia especializado em lesões corporais - fazem dela algo bem diferente da NHL.
O salário médio anual de um jogador na NHL é de US$ 2,4 milhões; o atleta mais bem pago da temporada passada, Brad Richards, do New York Rangers, recebeu US$ 12 milhões. Na Elite League, os melhores jogadores (geralmente estrangeiros) costumam receber salários semanais de três dígitos - algo como 800 libras (US$ 1.300).
Alguns jogadores britânicos não ganham dinheiro, e dependem de outros patrocinadores para coisas como moradia e equipamentos. Alguns têm outros empregos; outros passam as manhãs jogando hóquei, e as tardes na escola.
- Se eles forem espertos - explicou Moran - eles podem entrar na faculdade e obter um diploma, para quando não puderem mais viver o sonho do hóquei de gelo na Inglaterra.
Durante a última greve, diversos jogadores da NHL assinaram com equipes britânicas. -Eles não vêm por ganhos financeiros - disse Moran. "Eles vêm para conhecer a Inglaterra, um país onde falamos inglês, e eles vem porque querem se manter em forma.
Na NHL, os jogadores viajam em jatos do time e ficam em hotéis de cinco estrelas, chegando a jogar para plateias com mais de 20 mil pessoas. Na Elite League, eles viajam de ônibus, partindo e voltando no mesmo dia para economizar os gastos de hospedagem. E geralmente não atraem grandes números de espectadores.
- Edimburgo fica a oito horas de ônibus, o rinque é muito frio, e o público é de umas 60 pessoas", afirmou Jordan Fox, afável canadense que é o capitão do Panthers (isso não está rigorosamente exato: cerca de 800 pessoas compareceram ao jogo mais recente do Edinburgh Capitals, segundo um porta-voz).
Descrevendo-se como alguém que "dormiu num sofá-cama pela maior parte de sua vida", Stewart garantiu que nada disso o incomoda. - Assim que você sobe no gelo, isso é tudo que importa - disse ele. - Sou um cara bem simples, com criação humilde. Tenho meu quarto de hotel, minha internet, minha TV, meu computador. Se houver comida dentro de mim, estou pronto.
Corey Neilson, técnico-jogador do Panthers que atualmente é apenas técnico, tendo sofrido uma lesão no joelho, afirmou que Stewart tem uma postura "muito positiva".
- Ele poderia ter chegado dizendo 'Eu jogo para a NHL e posso fazer o que quiser' - explicou Neilson - mas ele não é esse tipo de cara. - Stewart conseguiu bastante tempo no gelo em sua estreia, mas seu desempenho não foi particularmente bom. Segundo Stewart, ele ainda estava se adaptando aos rinques britânicos, que são levemente maiores do que os americanos e exigem um ajuste em seus ângulos de jogo. Além disso, para sermos justos, ele só havia treinado com o Panthers duas vezes. E também estava fora de fuso, tendo aterrissado apenas três dias antes de um voo noturno de Nova York.
- Esses caras são profissionais, e não se pode subestimá-los - afirmou ele após a partida, que o Panthers venceu por 2 a 1. - Este é um processo de aprendizado, e logo poderei mostrar tudo que posso fazer. - Stewart disse estar feliz com sua experiência na Elite League até então. - Eles vão me deixar de pé num instante - afirmou ele.
Não só isso, ele continuou, mas o Panthers pagaram consideravelmente bem por seu seguro, um ponto problemático para muitos jogadores da NHL buscando jogar no estrangeiro durante a greve.
Nos Estados Unidos, as negociações continuam - embora não se saiba para onde elas estão caminhando. O Panthers contratou Stewart por apenas um mês, por enquanto, sabendo que esse relacionamento pode ser curto.
- Se a greve for resolvida - concluiu Moran - será 'Tchau-tchau, Anthony'.
The New York Times
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