O russo Alexander Popov é um dos maiores nadadores da história. Bicampeão olímpico dos 50m e 100m livre, foi campeão de tudo, e hoje atua como dirigente. É membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas, com a mesma contundência com que "voava" nas piscinas, ele também dispara críticas.
Nesta entrevista concedida, ele chia quanto ao domínio americano nas piscinas, sobre doping e, especificamente, a respeito do caso de Cesar Cielo. No ano passado, ele e outros três nadadores foram flagrados com furosemida e, posteriormente, acabaram absolvidos pela Corte Arbitral do Esporte (CAS).
Popov se especializou em criticar Cielo, e nesta terça-feira chegou a sugerir que o brasileiro, bronze em Londres e campeão olímpico em Pequim nos 50m, deveria se retirar das piscinas.
A reportagem procurou Cielo e enviou os comentários do russo para a assessoria dele, mas não obteve resposta.
Pergunta: Em Londres, os Estados Unidos seguiram à frente da concorrência na natação. O que você pensa do domínio?
Popov: Não gosto dele. Nesta situação, eu provavelmente perguntaria a mim mesmo: "Estou fazendo tudo o que posso?". Digo isso em relação a tentar ir ao pódio e competir com a equipe americana ou ser melhor do que ela. Os americanos mostraram ao resto do mundo que fizeram o dever de casa, e o resto do mundo ficou assistindo. Acho que falta colocar a cabeça na água e nadar. Muitas nações tinham mais potencial do que mostraram em Londres.
P: Como um ex-velocista, você acha possível uma façanha como a feita pela chinesa Shiwen Ye, de 16 anos, que fez a última parcial dos 400m medley mais rápida do que competidores homens? Muitos insinuaram doping.
Popov: Além de Ye, nós vimos a lituana de 15 anos (Ruta Meilutyte) arrasando nos 100m peito. Não vejo uma grande questão a respeito disso. Vimos (o chinês) Sun Yang ter um desempenho excepcional nos últimos 100m dos 1.500m. Para mim, não há questões. É só um belo resultado. Quanto mais resultados você obtém, mais questões surgirão.
P: O que acha das insinuações feitas por um técnico americano de que Shiwen Ye se doparia?
Popov: Eu não dou ouvidos a rumores. Só vejo o fato. E o fato é que não há nenhuma notícia de que ela tenha testado positivo. O resto é só besteira.
P: A delegação brasileira chegou a Londres com 18 atletas flagrados no doping, dos quais cinco nadadores. O que você acha disso?
Popov: É uma pergunta difícil. Mas eu tenho uma opinião pessoal a respeito. Quando se acorda pela manhã e se olha para o espelho, gosto de ver o reflexo e dizer: "sou honesto. Fiz tudo corretamente e jogo limpo". Aí sim se pode olhar nos olhos dos oponentes e estar em pé de igualdade. A questão a se fazer é: os brasileiros podem fazer este exercício? Não sei. Pergunte a eles. Todos temos princípios. Quando se quebra a regra uma vez, está acabado. Uma vez que você quebra uma regra, você muda.
P: Você se refere aos flagrados em 2011 (Cesar Cielo, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked)? Mudou o que pensa deles?
Popov: Honestamente, eu vejo este caso de meu próprio ponto de vista. Tento fazer um exercício e me pôr no lugar dos nadadores pegos. O que faria? Provavelmente me mataria. Eu me apresentaria a público e diria: "olhe, estou me aposentando da natação". É o que eu faria. Eu não conseguiria ser campeão olímpico e ter um caso daqueles. Não posso aceitar aquilo.
P: Você tem algum problema particular com Cielo? Eu sei que você é amigo de Gustavo Borges, que é próximo dele.
Popov: Não tinha relação alguma com Cielo, mas sou amigo de Gustavo. Estou certo de que Gustavo tem a mesma opinião. Comentamos rapidamente sobre o caso de doping. Na minha opinião, é um caso inaceitável. Ser um campeão olímpico e se envolver em um escândalo daquele é inaceitável. Será que a derrota na final dos 50m foi um troco? Talvez.
P: Você esteve no Brasil muitas vezes, representando o COI, para inspecionar as obras do Rio para 2016. O que tem achado?
Popov: Houve progresso desde que o Rio recebeu o direito de ser sede. Houve melhorias estruturais, que têm sido construídas. Gostei das melhorias no porto. O Parque Olímpico ainda está para ser aprovado, mas sei que tudo está sob controle.
P: Ainda há ceticismo no Brasil em relação aos Jogos. O que acha?
Popov: Comecem a trabalhar e parem de fazer perguntas. Parem de ser céticos. Ceticismo não vai ajudar.
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