Neste domingo, a Capital celebra um esporte democrático. A 29ª Maratona Internacional de Porto Alegre, uma das mais importantes provas do circuito do país, tem 6 mil corredores inscritos em provas de revezamento e corridas de oito a 42 quilômetros. Entre eles, há atletas profissionais, com longos treinos e tempos recordes. E há aqueles que, mesmo com a correria do dia a dia, superaram seus limites para estar entre esses atletas. Gente comum, que passou por perdas e dores e fez da força de vontade o principal estímulo para cruzar a linha de chegada neste domingo.
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Patrícia Meinhardt, 90 anos, é uma dessas pessoas. Aos 90 anos, é a mais velha entre os inscritos na Maratona. Sob o número 3.498, ela disputará com outros 890 corredores o melhor tempo na rústica, de oito quilômetros.
- Estou mais assanhada que cusco em tiroteio - conta, faceira.
Será sua sétima participação. Na primeira, foi incentivada pelo filho, que lhe prometeu R$ 1 mil caso se inscrevesse e mais R$ 1 mil se fizesse uma fotografia na chegada da prova, com as mãos para cima, na famosa pose dos corredores campeões. Conseguiu e, com o dinheiro, viajou com as amigas.
Neste ano, sua vida se entristeceu. No final de janeiro, a filha, Marta, sofreu um infarto aos 59 anos e morreu. Patrícia pensou em desistir.
- Pra mim, terminou a vida. Eu fiquei vazia. Eu não queria nada mais. E o meu filho disse: "Nem que tu vás a laço, mas tu não vais parar".
Com o auxílio de um personal trainer, Patrícia, que é diabética, pratica exercícios físicos ao menos três vezes por semana. Ao correr, tenta superar a tristeza da perda da filha.
- O esporte me ajuda.
Decidida a correr a rústica, Patrícia passou por mais uma prova, há cerca de dois meses: caiu e fraturou o tornozelo. O retorno aos treinos ocorreu no final de abril e, apesar das dores, tem se dedicado. Com passos rápidos, buscará uma nova medalha para a coleção.
- Nem que eu tenha de tomar um remedinho no meio para aliviar a dor, mas eu vou completar. Quero fazer, de novo, a foto da minha chegada - conta, com os braços para cima, imaginando o momento em que terminará os oito quilômetros.
A meta é terminar - e não ficar para o fim
Na Maratona, o vereador Elias Vidal vai dar mais uma prova de sua recuperação. Há 30 anos, em um assalto, ele foi alvejado por um tiro na base da nuca. A bala, em uma trajetória diagonal, passou próximo ao coração e saiu do corpo perfurando o pulmão direito.
Vidal perdeu parte dos movimentos e os exercícios se restringiram à fisioterapia. Aos poucos, retomou sua rotina. Já a coragem para começar os treinos, somente há nove meses. E veio junto com a necessidade de aumentar a resistência para as coisas do dia a dia.
- Quando eu jogava futebol com outros vereadores e deputados, eu não conseguia correr nem cinco minutos. Aí, eu vi que precisava melhorar minha resistência e comecei a correr, devagarinho: 200 metros numa semana, 300 metros na outra - revela.
Hoje, ele percorre 10 quilômetros pela manhã e mais 10 à noite. Nos finais de semana, faz um treino de 23 quilômetros. No final do ano passado, participou da Corrida de São Silvestre, em São Paulo. Para a prova deste domingo, garante não ter meta quanto ao tempo, mas que não ficará entre os últimos.
- Meu tempo deve ficar bom com relação aos primeiros colocados. Mas eu tenho de obedecer a minha idade. Estou com 54 anos, já não sou mais um guri - brinca.
Das câmeras para a largada
Eles foram apresentados à endorfina. E, com a ajuda dela, superaram seus limites para estar na 29ª Maratona Internacional de Porto Alegre, neste domingo. Entre os mais de 6 mil corredores que tentarão completar as provas, uma turma tem destaque. Não pelo tempo em que cumprirão o percurso - eles mesmos apostam que não devem estar entre os melhores -, mas pelo empenho.
Na equipe do CorreRia, da RBS TV, mesmo quem não gostava de correr está empolgado com a Maratona.
- Eu nunca imaginei que trocaria o meu sofá, o meu chimarrão, pela corrida. Hoje eu corro mais, caminho menos, e a diferença que eu sinto no corpo é absurda - conta a repórter e apresentadora Débora de Oliveira, que participará do revezamento com outros sete colegas.
A turma treinou durante três meses, com o acompanhamento de um personal trainer e de um nutricionista. Mesmo com o preparo especial, duas integrantes tiveram lesões e precisaram interromper os treinos. Recuperadas, Carla Facchim e Cristine Gallise garantem disposição para completar a prova sem sobressaltos.
- Ninguém aqui quer virar atleta, a gente só quer motivar as pessoas e mostrar que a atividade física faz bem. A gente anda na rua e as pessoas dizem: eu comecei a caminhar ou me matriculei na academia por causa de vocês. Esse é o melhor retorno - garante Carla.
O repórter Mauro Saraiva Júnior deve ser um dos últimos da equipe a completar o percurso. Mesmo com um pequeno medo de "ficar para trás" na classificação final, em relação aos outros grupos, garante que a recompensa já veio.
- Quando eu corri a primeira vez, achei que não ia conseguir. O professor disse para fazermos os cinco quilômetros, caminhando e correndo. Eu corri 400 metros e caminhei todo o resto. Hoje, só me preocupo em baixar o meu tempo.
Além deles, outras quatro jornalistas integram a equipe da RBS TV que correrá o revezamento: Dayanne Rodrigues, Isabel Ferrari, Cristiane Silva e Luciane Kohlmann. A apresentadora Laura Medina e o repórter Paulo Ledur treinaram com o grupo e participarão da Corrida Rústica de oito quilômetros.
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