Com os patins calçados, o patinador adentra a quadra de um dos ginásios do complexo esportivo da Ulbra, em Canoas. O som "riscado" dos quatro pares de rodinhas em contato com o assoalho cessa quando ele chega até a mesa sobre a qual se encontram uma caixa de som e o seu IPod. Selecionada a música para a coreografia, recomeça o ruído. Um salto triplo, giro de 1080° com todo o corpo no ar, perto da linha de fundo da quadra sucede algumas voltas de aquecimento. Depois do baque do retorno ao chão, mais voltas em torno da pista e mais saltos são mostrados. Ao fim da série, é a vez de ensaiar o corrupio, movimento no qual ele gira em torno do seu próprio eixo, com um dos pés no chão, o tronco dobrado para frente e a outra perna esticada para trás. Para quem assiste, a sensação é de Marcel Stürmer vai levantar voo.
O mais novo patinador da história a vencer o Pan, em 2003, aos 17 anos, Stürmer é esperança de pódio mais uma vez em Guadalajara. Com dois ouros na bagagem, em Santo Domingo/2003 e no Rio/2007, o lajeadense de 25 anos garantiu a vaga brasileira na competição em março, ao vencer o torneio Pré-Pan de patinação artística, disputado em Rosário, na Argentina. Ele representará o país em Guadalajara, México, no mês de outubro.
Além das duas medalhas de ouro no Pan, Marcel vem de bons resultados no último ano. Foi bronze no Campeonato Mundial de patinação artística de 2010, em Portugal, e venceu em maio o Campeonato Brasileiro pela 15ª vez. Ainda assim, não escapa da pressão por mais conquistas.
- A pressão te acompanha, sendo o primeiro ou o último do ranking. Mas eu acho isso muito bom, porque é a atenção que recebo das pessoas - argumenta.
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Fora do ambiente de provas, o gaúcho põe na agenda apresentações artísticas. Entre elas, um evento em Modena, Itália, que reúne os 10 maiores patinadores do mundo anualmente, no mês de dezembro. O vínculo entre arte e esporte é evidente na modalidade praticada por Marcel, o que o deixa realizado. Aqui no Estado, costuma participar do Natal Luz de Gramado.
- O show é uma competição sem pressão na qual todos saem felizes no final. É um clima muito saudável - completa.
A trajetória vitoriosa e a posição de referência mundial no esporte sobre rodinhas não camuflam a decepção de Stürmer de nunca ter ido às Olimpíadas. A patinação não está no calendário dos Jogos e a única opção para ele seria no gelo, nas Olimpíadas de Inverno, possibilidade vista com cautela.
- Já tive convites e já brinquei de patinar no gelo, mas é outro esporte. Para competir, teria de começar tudo do zero. Não sei se teria a energia necessária - comenta.
Para o patinador, o Brasil poderia incluir o esporte na Olimpíada do Rio em 2016, mas entende que pouco ou nada foi feito neste sentido. Ele considera um desperdício de talentos no esporte.
- É uma pena, mas o Brasil não sabe o potencial que tem na patinação - lamenta.
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