Em 2009, o golpe. Susana Schnarndorf, triatleta gaúcha cinco vezes campeã brasileira, que já disputou 13 provas Ironman e competiu nos Jogos Panamericanos de Mar del Plata, em 1995, descobriu que tinha Mal de Parkinson. A doença afetou os movimentos do lado esquerdo do corpo e a afastou da modalidade. No entanto, Susana não se despediu do esporte. E, aos 43 anos, desponta como uma campeã da natação paraolímpica. Depois de quebrar três recordes brasileiros, mira o Parapan de Guadalajara, em novembro, e os jogos Paraolímpicos de Londres, no ano que vem.
- Como costumo dizer, o esporte me salvou - conta a nadadora, que fará a Travessia dos Fortes domingo no Rio de Janeiro, onde reside há quase duas décadas.
Foto: Susana Schnarndorf, Arquivo Pessoal
Passados menos de dois anos da descoberta da doença, Susana já é a sétima colocada no ranking mundial da prova dos 400m nado livre, da qual é a recordista brasileira - junto com os 100m livres e 200m medley, na categoria S8. As marcas foram estabelecidas na primeira competição como paraatleta, em dezembro do ano passado, no Canadá. Ela bateu em segundo lugar no medley e venceu as outras duas.
- Quando subi naquele bloco para competir, levava muitas coisas junto comigo, foi muito emocionante. Era como se eu estivesse renascendo - divide a nadadora, que está ligada ao Instituto Superar, do Rio.
O recomeço arrebatador nas piscinas motiva a atleta na perseguição de novos objetivos. Entre eles, disputar os Jogos Parapanamericanos de Guadalajara, em novembro. A convocação sai no meio do ano e, mesmo confiante, Susana trabalha para baixar os tempos. Para isso, além de prosseguir nos treinos de segunda a sábado, em dois turnos, terá pela frente uma competição em Curitiba e o Aberto de Natação de Berlim, na Alemanha.
Mais do que novos desafios, a reviravolta na carreira reacendeu a esperança de concretizar um antigo sonho no esporte. Fascinada por Olimpíadas desde criança, Susana nunca conseguiu ir aos jogos como triatleta e vê na natação paraolímpica a oportunidade de competir em Londres no ano que vem.
- Deus me deu outra chance. Encaro assim - interpreta.
O compromisso mais próximo, no entanto, não é na piscina. É no mar: a Travessia dos Fortes. No próximo domingo, 3 de abril, Susana estará entre os mais de 2 mil competidores que nadarão os 3,5 km de água salgada que separam os Fortes de Copacabana e do Leme. Será a segunda participação dela na travessia, a primeira como atleta portadora de deficiência física.
No técnico e nos filhos, o apoio para vencer obstáculos
Quem vê na nadadora gaúcha Susana Schnarndorf o nascimento de uma campeã do esporte paraolímpico brasileiro não imagina o que foi receber o diagnóstico de Mal de Parkinson há dois anos. A sensação de perda só passou quando uma pessoa mostrou que havia alternativa. Murilo Barreto, técnico da seleção brasileira paraolímpica de natação, conheceu Susana na academia em que ela trabalha e a convidou para treinar com ele. Com o incentivo de Murilo, as competições tornaram a fazer parte da rotina dela.
- Minha vida mudou e devo tudo isso a ele. Fui da tristeza para uma extrema alegria - agradece.
Foto: Susana Schnarndorf, Arquivo Pessoal
A nadadora destaca o apoio incondicional dos filhos na retomada da atividade esportiva. Mais do que incentivadores, Kaillani, 13, Kaipo, 9, e Maila, 5, seguem o exemplo da mãe e dão passos importantes na natação e no triatlo.
- São crianças maravilhosas que me deram muita força. Sofreram junto comigo e agora vejo neles a mesma felicidade que sinto -- declara orgulhosa.
Além de escancarar a gratidão que sente pelo estímulo recebido dos filhos e do técnico, Susana Schnarndorf faz questão de deixar clara a mensagem: desistir está fora do seu vocabulário.
- Nunca podemos desistir. Por mais que pareça que está tudo acabado, sempre podemos ter um novo recomeço - pontua.