O destaque ofensivo do Inter nesse começo de Brasileirão é o mais improvável e o menos badalado dos reforços da temporada. Com chegada discreta, alvo de desconfiança, Wesley marcou dois gols nas duas primeiras rodadas e ganhou espaço no time de Eduardo Coudet. Ele deve ser titular neste domingo, a partir das 16h, diante do Athletico-PR na Arena da Baixada. A situação só não é surpresa para quem o conhecia desde pequeno. Como Wilson Kraychete.
Wilsinho, como é conhecido, tem em Wesley um filho da mesma idade do seu, Antônio. Os dois nasceram em 1999, jogaram bola juntos na adolescência e viraram amigos inseparáveis. E tudo começou no dia em que o atual atacante do Inter mostrou seu talento. Tendo como vítima a família Kraychete.
Era 2013, e o Salvador FC enfrentaria o time do projeto do bairro Águas Claras, na periferia da capital baiana. O time tinha fama de melhor do Estado, atropelando Bahia e Vitória. Então veio Wesley, fez três gols e acabou com o jogo.
O que fez Wilsinho? Chamou o atacante para se juntar a ele. Wesley foi incorporado ao Salvador FC para um torneio no Espírito Santo. O atacante ficou no banco todo o tempo. Voltou indignado, desapareceu e só voltou após seis meses.
— Ele veio me pedir desculpas. Falei que perdoaria desde que nunca mais nos abandonasse — recorda Wilsinho.
É assim até hoje, segundo ele. As conversas são diárias, os conselhos, as risadas. No retorno ao Salvador FC, juntou-se ao time que foi disputar a Buenos Aires Cup de 2015. Wesley foi o destaque da equipe, marcando os dois gols da final contra o San Lorenzo e arrancando elogios rasgados do então técnico da categoria sub-20 da Argentina, Hugo Tocalli, o primeiro cidadão a convocar Lionel Messi para a seleção do país vizinho. Alguns lances estão no YouTube e eles deixam claro como Wesley era muito melhor do que os demais.
O destaque nessa competição chamou a atenção do Palmeiras. Wilsinho intermediou o contato. O jogador estava se adaptando ao clube paulista quando levou um susto. Ao passar por uma cirurgia para correção de uma lesão na patela, pegou uma bactéria no hospital de Salvador. A infecção o fez permanecer internado por 40 dias. Nesse período, era assistido pelo casal de irmãos e pela mãe, seus maiores incentivadores no esporte. E, claro, de Wilson e Antônio.
Ao se recuperar, foi levado pelo Palmeiras B para uma competição na Bélgica. De lá, emendou para a equipe sub-20. E acabou emprestado ao Vitória, para o grupo principal. Disputou a Série B, marcou cinco gols e despertou interesse de outros clubes. Mas o Palmeiras decidiu dar oportunidade entre os profissionais. Iniciou, ali sua campanha vitoriosa.
No clube paulista, foi bicampeão da Libertadores, conquistou a Recopa e ganhou também o Brasileirão e a Copa do Brasil 2020, essa com direito a gol sobre o Grêmio na decisão. Aos poucos, porém, passou a ser criticado por más atuações. E foi negociado com o Cruzeiro. Não conseguiu repetir o sucesso. Apareceu, então, o Inter. Com 2 milhões de euros (R$ 10,5 milhões), comprou 50% dos direitos econômicos do atleta — o Palmeiras detém a outra metade — em um vínculo com duração de três anos.
Fez valer a lei do ex já no primeiro encontro com o clube que o lançou. E até não comemorou o gol, ao menos no campo. Depois, analisou seu momento:
— É um começo empolgante. Sobre o gol, é sempre bom estar marcando. Principalmente contra grandes equipes, que a gente sabe que vão brigar em cima da tabela.
O momento vai ao encontro com o que disse Wesley, 25 anos, em sua apresentação. Em fevereiro, quando chegou, pouco antes do Gre-Nal, sua partida estreia, declarou:
— É bom ser escolhido por uma equipe forte, fazer parte desse plantel que está se fortalecendo para a temporada. Precisamos voltar a conquistar títulos, que é a identidade do Inter. Fico feliz de fazer parte dessa seleção e poder estar agregando à torcida.
O atacante mora com sua mulher, Bárbara, e com a filha, Maria. Gosta de ficar em casa, tem um perfil mais reservado. Essa mudança de ares, a chegada em Porto Alegre e o Inter melhoraram seu ambiente. Wesley, de fato, está feliz, como atesta Wilsinho.
— Converso com Wesley todos os dias. Vejo nele, finalmente, a mesma alegria que via quando o conheci, lá em 2013. Ele precisava dessa ida ao Inter.
E, pelas primeiras rodadas, o Inter também precisou de Wesley.