"O Gre-Nal arruma ou desarruma a casa", a frase do histórico ex-dirigente colorado Ibsen Pinheiro percorreu as últimas décadas de tantas vezes que uma vitória ou derrota no clássico foi apontada como divisor de águas para os clubes em uma temporada. Neste ano, após a eliminação vexatória na Copa do Brasil para o pequeno Globo-RN e um início de Gauchão decepcionante, o Inter pode ter no Gre-Nal 435 o seu ponto de partida para que o trabalho de Alexander Medina dê os frutos esperados desde sua contratação do Talleres. Há, porém, no histórico recente um alerta para que o Colorado não se acomode após vencer o maior rival.
O exemplo mais próximo que deve ser observado no Beira-Rio vem do Brasileirão do ano passado, quando, após ter vencido o clássico válido pelo segundo turno com gol de Taison, o Inter não conseguiu manter o bom desempenho na sequência do campeonato e ficou sem vaga na Libertadores. Naquele momento, com o Grêmio rumo ao rebaixamento, a vitória no Gre-Nal foi tratada como o cumprimento da missão de ajudar a empurrar o rival para a Série B e gerou um relaxamento do elenco. Isso chegou a ser admitido publicamente pelo goleiro Daniel após o Brasileirão.
— A gente pensou mais no rival, nos preocupávamos com o Grêmio. Temos que evoluir, conquistar títulos e ter uma mentalidade vencedora. Me senti mal por não termos evoluído — declarou em sincera entrevista a Rádio Gaúcha ao comentar a queda de desempenho do Inter, que venceu apenas um dos oito jogos finais do Brasileirão depois do Gre-Nal 434.
A situação atual do calendário já surge como diferente no cenário do Inter. Se aquele momento era de reta final de Brasileirão e as atenções ficaram mais no drama do rival, agora é apenas um início de temporada. Além disso, a classificação do Gauchão aponta uma grande chance de um novo encontro entre os rivais na próxima semana. Faltando uma rodada para acabar a fase classificatória, Grêmio e Inter ocupam a segunda e a terceira posições, o que, se mantido assim, levará a dois novos clássicos nas semifinais.
— O Gre-Nal não pode nos iludir. Tivemos um golpe muito forte na Copa do Brasil não podemos esquecer disso. Mas é um jogo importante, que tem que ganhar e não importa como. Pode ser um recomeço, a partir do jogo de ontem (quarta-feira), reforçar todas as ideias e reforçar o mecanismo, especialmente do primeiro tempo, que foi o melhor em muito tempo. Esse é o caminho — avaliou D’Alessandro em entrevista ao canal Sportv.
Essa preocupação demonstrada por D’Ale em conter a euforia pelo resultado no Gre-Nal é vista como um sinal positivo. O psicólogo do esporte Cassiano Pires ressalta que a busca por vencer o rival, tão forte no futebol gaúcho, pode virar o fio em alguns momentos. Ele acredita que isso tem ocorrido nos últimos anos tanto para o Inter quanto para o Grêmio.
— A gente tem uma cultura muito forte aqui no Sul da gangorra. Acaba se criando a ideia de que é mais importante estar na parte de cima da gangorra que conquistando títulos e vitórias para o seu clube. Isso pode não ser consciente, mas fica no inconsciente de dirigentes e jogadores. O Inter não teve tantas vitórias em Gre-Nais nos últimos anos, o que gerou cobranças. Então ganhar do Grêmio acaba tomando um tamanho grande no imaginário que ao alcançar a vitória gera um relaxamento. Mas o grande objetivo de Inter e Grêmio não é vencer o outro, tem que ser o título. Isso precisa ser reforçado — afirmou em conversa com GZH.
Depois de passar por um jejum de 11 jogos sem bater o Grêmio, o Inter chegou na quarta-feira a sua terceira vitória nos últimos sete Gre-Nais — perdeu dois e outros dois terminaram em empate. Se o número ainda não é de grande superioridade, é melhor do que vinha ocorrendo. O desafio agora é usar o novo triunfo sobre o rival como o começo de um caminho vitorioso na temporada 2022.