Johnny, enfim, recebeu sua oportunidade. O volante que atua pela seleção olímpica dos Estados Unidos foi o escolhido por Miguel Ángel Ramírez para substituir Rodrigo Dourado na partida da última quinta-feira (3), contra o Vitória, e sua atuação, elogiada pelo treinador espanhol, deu força para seguir jogando enquanto o titular habitual está lesionado. E mais: reabriu a discussão sobre a posição no Inter.
Esse debate, aliás, nunca chegou a se esgotar. Por mais que Dourado seja um dos atletas mais identificados com o clube e um dos poucos a ter sido campeão no atual grupo do Inter, algumas de suas características não estariam de acordo com a necessidade que o sistema colorado pede. A falta de lançamentos, por exemplo, é um dos pontos. A outra é que, por ser um jogador de mais marcação e menos mobilidade, não atenderia na construção, apesar de ser reconhecidamente um grande marcador e um passador (curto) de qualidade.
Contra o Vitória, Johnny superou 95% de acerto nos passes e encontrou companheiros nos seis lançamentos que tentou ao longo da partida no Barradão, na estreia colorada na Copa do Brasil. Por suas origens na meia ofensiva, tentou quase sempre jogar para a frente, usando o expediente de recuar — especialmente a Daniel — apenas como último recurso para manter a posse de bola.
— É jovem, bom marcador, jogador de seleção, o 5 do futuro. Precisa ser mais testado. Ter sequência. Já provou ter qualidade. E, aparentemente, mostrou ser o volante com mais repertório de passes — elogia o narrador Marcelo de Bona, da Rádio Gaúcha.
Apesar da boa atuação, para Eduardo Moreno, narrador do SporTV, que transmitiu a vitória do Inter em Salvador, o jogador de 19 anos ainda não tem essa força toda para simplesmente desbancar o volante que é titular desde 2015.
— Gosto mais do Dourado. Acho que ele tem uma imposição maior, inclusive pela altura. Vejo que se equivalem no passe, até talvez o Johnny seja um pouco melhor. Mas o Dourado dá mais segurança no meio-campo, tem força na bola aérea, tanto defensiva quanto ofensiva — justifica Moreno.
O comunicador do SporTV ainda acrescenta um item:
— Vejo uma liderança do Dourado que, óbvio, pela idade, o Johnny ainda não tem. Não sei como é no vestiário, mas em campo o Dourado veste a camiseta, se dedica, tenta de tudo.
Em abril, em entrevista após a vitória sobre o Esportivo, Ramírez havia sinalizado que trabalharia o jogador especialmente e que tinha planos para o volante:
— Johnny é o futuro camisa 5. Estamos trabalhando para que seja o volante do Inter por muitos anos. É um projeto de clube. Vi treinar, vi vídeos e tem muito boas condições. Está trabalhando perfeitamente, está entendendo perfeitamente. E quem melhor para serem professores do dia a dia para ele do que Dourado e Lindoso?
Um mês e uma semana depois, a profecia parece se cumprir. A curiosidade é que Johnny subiu na fila de opções. Ele superou Rodrigo Lindoso, um de seus “professores”, que inclusive pode ser negociado. A questão para o garoto, agora, é melhorar fisicamente para aguentar mais as partidas, ganhar corpo. E, para o Inter, aumenta a oferta de uma das posições mais importantes no modelo de jogo de 2021.
Prós e contras
MARCAÇÃO
É inegável que Rodrigo Dourado tem um maior poder de marcação do que seus concorrentes. Nos 15 jogos que disputou no Brasileirão passado, por exemplo, teve 56 tentativas de desarme.
— Dourado se impõe mais fisicamente, domina o meio-campo, ajuda ofensivamente e defensivamente — diz Eduardo Moreno.
Para Marcelo de Bona, essa é a maior virtude de Dourado, mas Johnny não deve em nada nesse fundamento.
SAÍDA DE BOLA
Johnny tem qualidade no passe, isso é inquestionável. Até por ter sido meia ofensivo, quase atacante, nos primeiros anos de base, tem como característica olhar antes para a frente e só depois para os lados na hora de fazer a bola andar. Dourado é mais volante fixo, que evita a exposição e guarda lugar em frente à dupla de zaga.
— Ele arrisca mais, se apresenta mais, participa mais. Isso é um diferencial em seu favor — aponta Marcelo de Bona.
PASSES LONGOS
Contra o Vitória, Johnny tentou seis lançamentos e acertou todos. Essa virtude o distancia da concorrência. É um dos poucos jogadores do grupo do Inter com essa capacidade, tão necessária no Jogo de Posição. Essa forma de atuar exige que alguém saiba virar a bola, encontrar um companheiro em condições de partir para cima, ter apenas um oponente pela frente.
— Johnny consegue dar o passe sob pressão, busca passes longos — completa De Bona.
PRESENÇA OFENSIVA
Nesse ponto, entram dois aspectos a serem analisados. No primeiro, a vantagem é de Dourado. A presença ofensiva de Rodrigo Dourado é fundamental em bolas paradas, com posicionamento, imposição e cabeceio. Na segunda, a presença com a bola dominada, Johnny pode receber mais atenção. Ele sabe ser meia, apesar de ainda não ter chutado a gol, por exemplo, mas é conhecida sua capacidade de criação.
— A jogada aérea do Dourado é uma grande arma — conclui Moreno.