Se atualmente o Inter conta com D’Alessandro como seu capitão e outros argentinos fazem parte do elenco, como Cuesta, Sarrafiore, Musto e o técnico Eduardo Coudet, no final dos anos 1990 a legião estrangeira no Beira-Rio era paraguaia. Impulsionado pelo sucesso do zagueiro Gamarra, o Colorado foi ao Paraguai buscar Enciso e Espínola. O primeiro, um volante que também jogou como lateral, vestiu a camisa vermelha por quatro temporadas e é o personagem desta edição do "por onde anda" de GaúchaZH.
Julio César Enciso chegou ao Inter em 1996, com 22 anos, vindo do Cerro Porteño. Jogador de seleção paraguaia — disputou a Copa do Mundo de 1998 —, ele ficou no Beira-Rio até 2000, quando voltou ao seu país para defender o Olimpia. A carreira como jogador foi encerrada em 2006, no 12 de Octubre. Atualmente, o ex-atleta colorado é auxiliar técnico de Francisco Arce no Cerro Porteño. A parceria com o ex-lateral do Grêmio é longa. O "Ciclón" é o quinto clube em que os dois trabalham juntos.
— Faz quatro anos que trabalho com o Arce como assistente técnico. Estivemos no Olimpia, passamos pelo General Díaz, Guaraní, todos no Paraguai, e também na Arábia Saudita (no Ohod Club). Estou somando experiência com o "Chiqui" Arce, que é um excelente treinador, sabe muito — elogia Enciso.
Aos 45 anos, Enciso admite o desejo de virar treinador, mas ressalta que não tem pressa para isso. Sua meta é seguir adquirindo experiência como auxiliar de Arce antes de dar o próximo passo na carreira.
— Sempre converso com o Arce sobre esse assunto (virar técnico). No entanto, penso que ainda não estou em condições de assumir uma equipe. Vou esperar um pouco mais para somar experiência, para aprender melhor a comandar um grupo. Sigo o trabalho de assistente com um grande treinador e que conhece muito de futebol. Estou tendo uma experiência bárbara — diz Enciso, que chegou a ter proposta para assumir o pequeno San Lorenzo-PAR, mas optou por seguir na comissão técnica de Arce.
A passagem pelo Beira-Rio é recordada com carinho por Enciso. Nos quatro anos em que esteve no clube, o Gauchão de 1997 foi o único título conquistado. Meio-campista, ele virou lateral-direito no time comandado por Celso Roth que fez boa campanha no Brasileirão daquele ano. Segundo colocado na fase classificatória, o Colorado foi eliminado no quadrangular semifinal em um grupo que tinha Palmeiras (que foi à decisão), Atlético-MG e Santos. Em 1999, o paraguaio esteve perto de outra final nacional, mas o Inter acabou eliminado pelo Juventude na semifinal da Copa do Brasil sofrendo uma histórica goleada de 4 a 0 no Beira-Rio.
— O Inter tinha grandes jogadores, os times eram bons, mas, lamentavelmente, não conseguimos ganhar um título além do Gauchão. Mas procuro sempre olhar para o lado positivo. O trabalho foi bem feito. Penso que os quatro anos que estive no Brasil foram bons e joguei com grandes companheiros. Não conquistamos um grande título, mas as recordações são boas — resumiu.
A identificação do paraguaio com o Inter foi tão grande que, em 2002, ele usou uma camisa do clube gaúcho por baixo da do Olímpia no confronto com o Grêmio pela semifinal da Libertadores. Nos pênaltis, com Enciso convertendo sua cobrança, os paraguaios eliminaram o Tricolor no Olímpico e avançaram para a final.
— Eu estava no hotel concentrado e um torcedor do Inter me chamou: "Enciso, você pode usar essa camisa por baixo da do Olimpia?". Eu disse que sim e usei. Não usei para ofender o Grêmio, mas como um agradecimento ao que o Inter representou na minha vida — conta Enciso, que diz até hoje receber o carinho do torcedor colorado.
— Sou agradecido ao Inter por ter aberto as portas do Brasil para mim. Sempre recebi o carinho da torcida e isso continua até hoje nas redes sociais. Não esqueço tudo que vivi em Porto Alegre — completa o ex-jogador, que espera o retorno dos treinos no Cerro Porteño, paralisados pela pandemia de coronavírus.
— Estamos esperando as questões de saúde para sabermos quando poderemos voltar a treinar. Nada está definido ainda. Dependemos do que vai decidir o Ministério da Saúde. O campeonato tem que voltar para ser concluído — finaliza.
O Cerro Porteño de Enciso e Arce disputou a Libertadores deste ano, mas acabou eliminado na fase preliminar pelo Barcelona-EQU. No Campeonato Paraguaio, interrompido na oitava rodada, o clube é o sexto colocado, com 12 pontos — sete a menos do que o líder Olimpia.