Candidatos à presidência do Inter, Marcelo Medeiros e Luciano Davi disputam neste sábado (8), das 9h às 17h, a preferência de 64.389 sócios aptos a votar. Os dois atuaram juntos em gestões anteriores, mas acabaram em movimentos políticos distintos: Medeiros é do Movimento Inter Grande; Davi, do Inove Inter. Em comum entre ambos, o desejo por melhorar a arrecadação e encontrar novas fontes de receita. Mas discordam em pontos importantes, como a administração do futebol.
Confira a entrevista com Luciano Davi
É possível gerar novas receitas?
A médio e longo prazo, sim. O Inter vive uma séria crise financeira, de vários anos de gestão, não só nessa. Em 2017, o Inter teve déficit de R$ 62 milhões. Em 2018, não sabemos como vai fechar. As dificuldades passam a ser mais drásticas porque não conseguimos compreender o que vem de geração de receita nova, com relação a software, streaming e redes sociais. O televisionamento, tenho certeza, em mais cinco ou sete anos, não vai ser o grande gerador de receita dos clubes. Tem muita coisa nova a ser estudada, de forma mais ampla. Se continuarmos com o abismo de achar que o que temos de patrocínio hoje, respeitando os nossos patrocinadores, são suficientes para sustentar um clube do tamanho do Inter, estamos fadados a uma crise ainda maior do que temos.
O que fazer para aproximar a base do grupo principal?
Isso é uma bandeira que carrego desde que fui coordenador da base, de 2003 a 2008. O momento em que o Inter mais revelou jogadores é quando tinha categorias de base e alojamento embaixo do clube, campos ao lado do estádio. Ali, revelamos Daniel Carvalho, Sóbis, Nilmar, Pato, Taison, Fred e Lucas Lima. Vamos dar toda a importância para a base. Em 2011, junto com o Fernandão, visitamos 11 CTs no Brasil. Todos aproximavam (o grupo principal) com a base. Defendemos que o profissional tem de estar junto no CT de Guaíba.
Como fazer para revelar jogadores antes do grupo profissional ir para Guaíba, no modelo que está hoje?
Estamos criando uma vice-presidência da base, para ter os olhos políticos, além do executivo remunerado. Acho que a metodologia nesses dois anos foi errada. O Inter contratou 159 jogadores que passaram pela base. Base é para formar e revelar. O que é formação? Rafael Sobis, 10 anos no Inter. Dourado, sete anos. Pato, 10. Luis Adriano, nove. Isso é formar. Tem uma vida inteira de trabalho e metodologia do clube aplicada nele. Revelar é trazer Oscar, que vem quase pronto, Damião, Valdívia. São jogadores prontos, captados no mercado. O Inter, neste ano, diminuiu muito o número de captação espalhado pelo Brasil. No regime emergencial, que começa em 1º de janeiro, vamos trabalhar com o que tem na base do Inter para depois ver o que contratar.
Um integrante da sua chapa usou as redes sociais para se referir ao Inter como "time de covarde". Se eleito, esse mesmo integrante assumirá cargo importante e entrará no vestiário. Como fazer?
É estranho esse conteúdo. No mesmo dia que saiu, nos reunimos à noite para procurar nas redes sociais e não achamos. Até ele mesmo disse: como eu utilizaria uma expressão dessas, sabendo que fui dirigente e que posso voltar a ser. Ficou no ar. Fiz questão de cobrar do meu parceiro e, pelo que ele me mostrou das redes sociais, não vou duvidar que ele possa ter apagado. Não sei se é de 2017, 2018. Conheço a pessoa do Dannie Dubin e tenho o maior respeito pelo profissional que ele é. Tenho certeza de que não foi para ferir ninguém no vestiário.
Uma de suas plataformas é a profissionalização. Mas, quando o senhor esteve no comando, o executivo, que era o Fernandão, virou técnico, e o grupo ficou sem este cargo. Em 2011, quando era vice de administração, tive a ideia de trazer o Aod Cunha. Queríamos ligar as duas áreas. Quem está no conselho de gestão não tem acesso aos contratos de futebol. É um absurdo. Quando assumi de vice de futebol e coloquei Fernandão como treinador, fui atrás do executivo Felipe Ximenes. Sentei com ele em Curitiba, mas não pude trazê-lo porque já estava definido que Newton Drummond viria para o clube no ano seguinte. Deu o que deu, com a zona de conforto, a saída do Fernandão. Não estou culpando o presidente Giovanni Luigi, sei que ele apoia Marcelo Medeiros, mas isso foi o que causou todo o trauma no vestiário.
Se fala muito na necessidade de vender um jogador neste fim de temporada. Quem o senhor venderia?
Neste momento, o mais valorizado é Rodrigo Dourado. Ele acabou de ganhar prêmios. Não que eu queira vender, pelo contrário, quero que fique. Mas quando forma jogador na base o melhor a se vender é o que gera mais receita. Como Dourado. A situação financeira do clube não nos permite não vender um jogador. Tem que vender.
A sua gestão renovaria com Leandro Damião?
Eu não sei ao certo o salário do Damião. Aliás, vou deixar claro ao torcedor, que não sabemos quase nada sobre os números do clube. Fizemos três requerimentos oficiais. Pedimos à gestão que fosse nos passado. Sobre o Damião, sabemos que o Santos ajuda (a pagar), e até aí é bom. Não sei qual salário que o Inter terá de pagar integralmente. Hoje, não tem condição de pagar R$ 400 mil, R$ 500 mil para nenhum jogador.
A direção atual contratou Guerrero. Como o senhor vê esse reforço?
É ruim falarmos, porque não vimos ele na relação custo x benefício. Até porque só vai poder atuar a partir de abril, o que é um problema. É um jogador de idade avançada. E está falando quem contratou Diego Forlán, então com 33 anos, com salário alto, mesmo fazendo um contrato de marketing, com 30% de geração de imagem repassado para pagar o salário. Na relação custo x benefício, o resultado de campo não se pagou. Essa emoção, passional, que colocou 7 mil torcedores no aeroporto, não paga jogador. Tomara que o Guerrero nos dê retorno em campo, para que a relação custo x benefício se pague.
A contratação do Forlán foi um erro?
Acompanhamos o Forlán na Copa de 2010, na qual ele foi o melhor jogador. Ele vinha participando dos jogos, numa performance muito interessante. Fernandão, o presidente Luigi e eu queríamos muito, ele saiu livre da Inter de Milão. Era um salário alto. Se me perguntar se faria outra contratação deste monte, diria: ou temos muita criatividade para negociar um salário mais baixo ou não traria.
Recentemente, o senhor citou Odair e Lisca na sua lista de possíveis treinadores para 2019, se eleito. Por que, com a campanha feita neste ano, o Odair não é o ficha 1?
Não que não seja o ficha 1. É que não fui autorizado a falar com o Odair até dezembro. Isso foi público. Presidente Medeiros nos proibiu. Por uma questão ética, pedi.
Não poderia ter contatado o empresário?
Noventa dias atrás, fiz contato com (Gilmar) Veloz, e o Odair não era profissional dele ainda. Mas não tenho a menor dúvida de que Odair e Lisca têm metodologia de trabalho parecida, porque tem uma escola do Inter envolvida. E isso me agrada. Odair, claro, é o ficha 1. Seria um facilitador.
Como vê o ciclo do D'Alessandro no Inter?
Grande profissional que tem batido recordes no clube. Respeito a história, é um ídolo do clube. A única coisa que não acho legal é a interferência com relação à questão política. Cada um no seu quadrado. Como jogador, é excelente. É um ídolo, como torcedor. Como dirigente, ele é um funcionário. Tem um ano de contrato e vai trabalhar conosco.
Qual a primeira medida, a mais urgente, para 1º de janeiro?
Temos uma grande preocupação, que é a situação financeira. Nos últimos seis anos, o Inter encolheu em seis vezes o fluxo de caixa. Em 2012, tínhamos R$ 15 milhões de fluxo. Em 2013, baixou para R$ 6 milhões. Em 2014, R$ 4 milhões. E nos últimos três anos, para quem assume, era em média R$ 1,5 milhão. Temos de rever todos os contratos de patrocínio, até porque estamos vendo mercado de fora, com empresas vindo para o Brasil. Mas a nossa primeira meta é ver o fluxo, para repassar o que fazer.