Com 40% de aproveitamento nos jogos de Porto Alegre, o Inter ainda faz uma campanha trôpega na Segunda Divisão. Neste sábado, receberá o Criciúma, no Beira-Rio, uma rodada após a emblemática derrota para o Boa – em casa. Zero Hora conversou com 10 personalidades ligadas ao Inter ou que trabalharam no clube, a fim de identificar do que o Inter necessita para deixar a má fase para trás e, enfim, arrancar para o título da Série B – como deve fazer um time que custa R$ 7 milhões por mês.
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Confira:
Valdomiro Vaz Franco, ex-ponteiro do Inter
"Me parece que a má campanha do Inter na Série B se resume ao fraco desempenho no Beira-Rio. Se o time estivesse vencendo em casa, tudo seria mais fácil e a equipe teria maior confiança até mesmo nas partidas longe de Porto Alegre. A vitória em Pelotas serve como exemplo. Foi um dos poucos jogos em que a equipe teve um desempenho constante. E venceu. O Beira-Rio precisa intimidar o adversário, como sempre fez nas campanhas dos grandes títulos. Os adversários agora não são os tradicionais? Verdade. Mas isso deveria tornar as coisas ainda mais fáceis para o Inter, e não atrapalhar a equipe, como vem ocorrendo. Para voltar a ganhar no Beira-Rio é preciso intimidar. E intimidar não é dar botinada ou pontapé em ninguém. Mas marcar lá em cima, na saída de bola, sufocar no campo de defesa do adversário. É uma questão de ter atitude. De demonstrar maior indignação em campo. Principalmente em casa. Se conseguir isso, ganha a Série B com certa tranquilidade até".
Paulo Paixão, ex-preparador físico do Inter
"Não gosto de direcionar para o departamento médico, preparação física e treinador. Eu vejo que, como houve uma troca muito grande de jogadores, há a dificuldade. Os treinadores buscam uma melhor formação. E, dentro dessa busca, consequentemente, tem essa dificuldade. A parte física e o jogador acabam prejudicados, porque busca melhor entrosamento. Só que com a busca de uma melhor formação, é normal essa instabilidade. Quando fica assim, tem um imediatismo. E o jogador é ser humano.
O Inter foi campeão do mundo e quem está ali sente que precisa representar bem. E essa busca, sem estar com o entrosamento necessário, causa tudo isso. Eu acho que pela troca constante de jogadores, o desentrosamento, faz com que, na minha opinião, corra errado. Um time entrosado, corre certo. A partir do momento que der encaixe, vai. O Inter é um time de Série A."
Muricy Ramalho, ex-treinador do Inter
"Torço pelo Inter. Não acredito nisso de montar time de Série A ou B. Inter tem que montar um time do Inter, não importa a Série que vai jogar. Não acho que precise fazer um time de Série B até porque não se existem jogadores de A ou B, são todos jogadores de futebol. O que muda na Série B para a A é logística. O Inter nunca passou por isso. O time é bom, o estádio é maravilhoso, a torcida comprou a Série B. Tem tudo para dar certo. No Brasil, se busca o treinador e, depois, se impõe a maneira de jogar. A troca de treinador também pode atrapalhar. Fui ao Barcelona e vi que eles jogam do mesmo jeito há 16 anos. E o treinador que precisa se encaixar. Aqui, no Brasil, é o contrário. O jogador sente demais a pressão, o momento ruim. E o Inter é um clube gigante. Se o jogador não tiver confiança, não joga. Acho que está faltando isso: encaixar vitórias seguidas, principalmente no Beira-Rio. O Inter de levar medo aos adversários, essa é a filosofia do Inter".
Bolívar, ex-capitão do Inter
"É só os jogadores que podem reverter essa situação. É a imagem deles que está ali. O clube está em uma situação difícil na Série B, precisando de grandes atuações e de bons resultados. A atitude de cada um deve ser repensada. Ver o que pode fazer de melhor, ver o que está fazendo de errado, melhorar como um todo. Isso nem parte tanto do treinador, mas, sim, do elenco. Insisto, somente os jogadores podem mudar essa situação atual ruim no campeonato".
Giovanni Luigi, ex-presidente do Inter
"Fundamentalmente, é preciso dar tranquilidade e apoio aos jogadores nesse momento. E que a equipe encontre uma maneira de jogar, uma forma de jogo e que a repita. É preciso formar um sistema de jogo, com união, muito trabalho e com serenidade. Guto é o cara para seguir até o fim da temporada. Um treinador leva a de dois a três meses para dar uma cara ao time. O segredo está na repetição e em seguir com Guto até o fim. Tenho certeza que o Inter vai sair dessa, tenho convicção. Falo como alguém que não está lá dentro. Mas é preciso avaliar constantemente o grupo de jogadores, especialmente quando o resultado não vem".
Cléber Xavier, auxiliar técnico da Seleção Brasileira e ex-auxiliar do Inter
"Analisando de fora, é muito a questão cultural, que há muito tempo vem se desenvolvendo: é a troca de treinador. Clubes vencedores, como o Inter e o São Paulo, não dão continuidade ao trabalho do treinador. No Inter, foram quatro ou cinco treinadores em um pequeno período de tempo. Já é uma dificuldade manter jogadores na abertura das janelas. Especificamente no caso do Inter é a questão de trocar o treinador a todo instante. Saiu o Antônio (Carlos Zago), que fez um bom trabalho no Juventude e teve dificuldade no Inter. Agora, chega o Guto, já pressionado pela imprensa e com a torcida querendo que o Inter jogue como Real Madrid em três, quatro jogos. Isso não existe".
Roberto Siegmann, ex-vice de futebol do Inter
"O time foi mal planejado. Os erros são o time, os dois treinadores e o planejamento. Essa história de dizer que está montando um time da Série A para jogar a B não dá certo. Só existe uma série para o Inter: a B. E tem de jogar como ela é. Isso é algo que desmotiva os próprios jogadores. Precisava de um outro perfil de jogador, que viesse para o Inter para fazer o nome, que estivesse em ascensão. E não atletas que parecem fazer favor para o Inter. Já o perfil do treinador que o Inter sempre funcionou é mais firme, que não é o perfil do Guto. Ele não emana confiança. A preparação física também foi um erro. Ainda há um déficit emocional, de um time sem poder de reação. Esses que estão aqui não sofreram o trauma de cair e a postura é a mesma. Estamos vivendo igual o ano passado: nada dá certo. Estamos em julho e as declarações que são: não conseguimos furar a retranca. O que tinha que fazer hoje era derrubar o vice-presidente de futebol. Ele errou."
Luciano Potter, torcedor do Inter e apresentador das rádios Gaúcha e Atlântida
"Primeiro, é foco. Descobrir quem está a fim de jogar a Série B, quem tem foco. Descobrir aqueles que sabem que a Segunda Divisão não é apenas rito de passagem. Porque não subir seria um dos maiores fiascos da história. A segunda questão é o próprio Guto Ferreira. Não dá para trocar de técnico a toda hora. Se a direção acha que Guto é o homem certo, então que abrace ele, que feche com ele, dê condições para ele trabalhar, porque creio que ele sim está focado. A terceira questão: reforços. Desde a saída do William o Inter precisa de um lateral-direito. É o Cláudio Winck o cara? Então que ele seja testado. Precisa também de um meia, que fique próximo ao D'Alessandro. E alguém para a zaga. Foco e perseverança no trabalho do Guto. É só assim que vamos descobrir se Inter pode ou não recuperar o bom futebol".
Márcio Marques, especialista em psicologia do esporte e ex-psicólogo do Inter
"A atual fase do Inter é complicada porque há muita tensão e cobrança, por ser o time grande jogando na Segunda Divisão. Então, a mídia e a torcida querem que o Inter ganhe todas, e de goleada, e isso gera uma cobrança elevada. Para sair desse momento, pensando na questão emocional, é necessário cuidar de dois pontos bem claros: desenvolver a autoconfiança e trabalhar a coesão de grupo. Conseguindo desenvolver bem esses dois fatores, na questão psicológica, vai conseguir lidar com a pressão e com a cobrança elevada".
Tiago Gomes, ex-técnico do time sub-23 do Inter
"A fase é delicada porque o Inter está jogando pela primeira vez a Série B. Quando o resultado não vem, a pressão aumenta. Para superar momentos assim, tem que fazer uma blindagem dos jogadores, proteger o grupo, evitar contato com as informações externas. É preciso fechar o vestiário, diminuir o entra e sai de torcedores e de amigos; e vale para o dia a dia de treinos também. Outro ponto é buscar ferramentas e estratégias para aumentar a união dos atletas até no extracampo, criar mecanismos para eles terem relação mais próxima. Isso vai ser importante para superar os momentos difíceis dentro do campo. Diretores, conselheiros e pessoas que querem ajudar devem levar palavras positivas, incentivar, passar boas informações, para não baixar a autoestima. Um psicólogo ou alguém com mais intimidade com os jogadores pode ajudar nesse momento".
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