
Aos 38 anos, Leandro Guerreiro curte os primeiros meses da aposentadoria. Tomou a decisão depois de deixar o América-MG, em dezembro. O físico, garante, ainda permitia atuar até os 40 sem resfolegar. A cabeça, não. O ex-volante se desiludiu com os dirigentes. Cansou de ouvir ordens de pessoas que "nunca haviam pisado em um campo e calçado chuteiras, que nada entendiam de vestiário". De casa, em Belo Horizonte, ele conversou com a coluna.
Como está sua vida desde que deixou o América-MG?
Me aposentei. Parei de jogar. Sempre dei minha vida nos clubes e decidi que não iria jogar meia-boca. Cansei, cara. Fisicamente, iria mais dois ou três anos. Nunca tive problemas com o físico. Foi a cabeça que pesou. Ver alguns dirigentes que nunca colocaram chuteiras e nunca pisaram no campo comandando o futebol... Isso me deixou chateado. Não entendem nada de vestiário.
Você já definiu o que vai fazer agora?
Não quero mais mexer com futebol. Minha ideia é ficar longe da bola, curtir a família. Quando parei, tinha planos de morar nos EUA, montar um negocinho lá e viver com segurança. Tenho passaporte italiano, minhas filhas também. E para a minha mulher tirar o dela é mais rápido. Mas agora essa ideia esfriou um pouco.
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O que você pode falar do América-MG?
Acompanho pelo que sai na mídia e vejo os jogos. Mudou quase tudo em relação ao time de 2016. Ficou só o goleiro, o João Ricardo, que até é gaúcho de Mariano Moro, lá perto de Erechim. O América tem uma política muito estranha. Em vez de manter, eles destroem a base de um ano para o outro. Quando subimos, tínhamos grupo muito bom para a Série A. Tu viste o que aconteceu. Subimos bem, bonito. Depois, foi muito feia a nossa Série A. Neste ano, estão montando um elenco novo para a Série B.
Isso explica a oscilação do time?
O grupo não se encaixou ainda. Está meio perdido, pelos jogos que vi. O Matheusinho, que despontou no ano passado, começou o ano jogando, mas perdeu espaço. O time tem nomes conhecidos, coo Renan Oliveira, ex-Atlético-MG. Vieram agora, o Luan, do Palmeiras, o Bill, centroavante. No Mineiro, o Cruzeiro derrubou o América-MG sem forçar na semifinal.
O que você espera no jogo de hoje?
Se o Inter jogar como vem fazendo fazendo fora de casa, vence a partida. Pela estrutura e pela camiseta. Sem falar no grupo, que é muito melhor do que o do América-MG. As condições financeiras nem se comparam. Mesmo estando na Série B, é um gigante, tem de respeitar.
O Independência não representará pressão ao Inter.
Na verdade, o América é muito gostoso de jogar. Tem muitas coisas que clubes da Série A não oferecem, como um bom e bem localizado CT, uma boa cidade para você morar e não tem pressão de Cruzeiro e Atlético-MG. O clube tem pouca torcida. Ganhamos um título, o Mineiro, em 2015, o primeiro do clube em 15 anos,. A torcida vai esfriando, é normal. A média de idade do público nos jogos é alta. O América tem uma história muito bonita. No máximo, os jogos têm média de 2 mil pessoas. Quando é decisão, vão 10 mil, 15 mil.
Você ainda mantém algum vínculo com o Inter?
Claro que sim. Saí do São Luiz, de Ijuí, com 19 anos, e me firmei aí no Inter. E ainda tenho um irmão que está aí, o Ceará. Vivemos dois anos juntos no Cruzeiro, éramos vizinhos em Nova Lima, íamos treinar juntos, as famílias ficaram amigas. Mantemos contato até hoje.
Como você viu a queda do Inter?
É difícil, a pressão em um clube gigante como o Inter é imensa, tem de disputar título sempre. Não queria estar na pele dos jogadores e dos dirigentes. Estava aí em 1999. Naquele jogo contra o Palmeiras, no Beira-Rio, estava na beira do campo para entrar no lugar do Dunga quando deu a falta que originou o gol dele. Esses dias até recebi o vídeo. Aí o Leão me disse: "Segura. segura". O Dunga fez o gol e depois foi aquela confusão, faltou luz. Não caímos, mas sofremos. E tem ainda uma história minha com o Guto.
Qual?
Foi ele que me levou para o Inter. Eu jogava no São Luiz, no profissional, e ele me convidou para jogar a Copa SP pelo Inter. Vim emprestado, joguei e fiquei. O Inter comprou meu passe. O presidente, na época, era o Paulo Rogério Amoretty.