O atacante que escrevia os seus sonhos no teto, a fim de chamar os gols nos jogos do dia seguinte, estreou com a camisa 99 do Inter, neste sábado, às 19h, contra o ABC. Boa parte dos mais de 30 mil colorados que irão ao Beira-Rio estarão curiosos para ver uma das principais contratações da temporada: William Pottker.
Artilheiro do Brasileirão do ano passado e do Campeonato Paulista de 2017, o atacante descendente de poloneses que imigraram para Foz do Iguaçu, Pottker terá a sua primeira chance em um clube de massa. Não revela quantos gols projeta marcar em sua temporada de abertura no Inter, mas deseja ser o goleador da Série B e ter em 2018 um trampolim para ser visto por Tite.
Leia mais:
Felipe Gutiérrez é convocado para a disputa da Copa das Confederações com a seleção chilena
Filho de pedreiro, Pottker e os sete irmãos se mudaram do Paraná para Florianópolis. Na capital catarinense, ainda na escola, ele ganhou o apelido do herói da gurizada na época: o bruxinho Harry Potter. Virou Harry Pottker e, quando começou a jogar pelo Figueirense, os narradores mais populares o chamavam de Mago. E ele adotou o apelido. Em suas redes sociais, costuma colocar um emoji de bola de cristal.
Nesta entrevista a ZH, o novo atacante colorado fala de seus objetivos e da certeza que em 2018 jogará a Série A uma vez mais. Ah, e Pottker não escreve mais no teto porque mora de "aluguel e não pode estragar" a casa dos outros. Agora ele guarda na memória os gols com os quais sonha na véspera dos jogos.
Confira os principais trechos da entrevista:
Por que a escolha pelo Inter?
Havia outras opções. Lá em dezembro, quase fechei com o Inter. Por conta de um projeto de Seleção – não que aqui eu não vá, mas por ser mais difícil estando na Série B –, optei pelo Corinthians. Mas enquanto havia a discussão com o Corinthians, chegaram propostas de outros clubes. Escolhi o Inter por ser o clube que queria lá atrás. Via que poderia ser bom para mim e conversei com a minha família. Por ser perto de casa (Florianópolis), pesa um pouco. De avião, 40 minutos estou ali. E não posso mentir também: financeiramente, foi muito bom. Acho que fiz uma boa escolha.
Existe ansiedade pela estreia?
É normal, né? Normal ficarmos ansiosos. Acho que não tem porque dar errado quando se trabalha forte. A margem de acerto aumenta muito. Mas se acontecer de algo não ir bem na estreia, tem o próximo jogo. Não tem esse problema. Mas existe um frio na barriga. É um frio bom, de querer estar lá o mais rápido possível.
E a ideia é jogar pelo lado, como você já externou preferir?
Até conversei com o Zago, e ele foi bem sincero comigo. Sabe que eu faço as duas funções e queria uma resposta minha, de como eu me sinto bem jogando e onde eu prefiro jogar. Me sinto bem nas duas, fiz gols nas duas. Disse a ele que tive a minha base toda jogando pelos lados. E tenho essa preferência. Mas eu me sinto bem pelo meio também, é onde eu estou mais próximo do gol, com chance maior. Expliquei isso para o Zago, e ele gostou do que ouviu, porque ele alterna bastante as posições.
Na Ponte, vocês jogavam até com três atacantes. Aqui, no Inter, pode acontecer isso?
É uma decisão do Zago, do esquema tático dele. Não cabe a mim definir isso. Para mim, não tem diferença. Lá, jogávamos também com dois atacantes e uma linha de quatro atrás.
Como surgiu o apelido de Harry Pottker?
Esse apelido ganhei no Linense, quando fiz dois gols na Arena Palmeiras. Mas o Harry Pottker também veio da escola. Meus amiguinhos me chamavam assim. Só que eu não levei esse apelido para o futebol. Mas quando eu fiz os dois gols contra o Palmeiras, virando para o Linense, que nunca tinha ganho de um time grande na Capital, foi estampado na imprensa que "Harry Pottker faz magia".
Mas o apelido foi mantido. Nas suas postagens do Instagram, vocês até usa uma bola de cristal.
Ah, sim. Pegou. Agora foi, né? (risos)
Como o Pottker virou goleador?
Eu sempre fiz muitos gols, mesmo jogando aberto na base. Eu era um dos artilheiros. Sempre tive esse poder de finalização, pedindo a bola em movimento. Mas não foi nada de agora, desses últimos dois anos. Foi lá atrás. Era muito comum o ponta se preocupar em dar passe, com jogadas de linha de fundo e cruzar. E eu coloquei na minha cabeça que o ponta poderia fazer gol também, que seria uma coisa diferente. E eu pensei que, se conseguisse marcar, seria ainda melhor do que aqueles que fazem a função. Então, procurei me especializar, treinar finalização e aprender a ter tranquilidade para fazer o gol. Claro que a gente acerta e erra. Tenho uma tranquilidade, querendo ou não, de chegar à frente do goleiro e fazer. Mas é trabalho, né?
Você é tranquilo assim normalmente?
Vou confessar para vocês, até porque todos vão ver dentro de campo. Lá (no campo), tomo duas cafeínas, e a coisa muda (risos). Mas aqui tem de ser s tranquilo, porque lidamos com todo o tipo de pessoa e temos de buscar sempre o que a gente sabe, que é jogar futebol.
Quem é a pessoa que você se inspira no futebol?
Eu sempre gostei do Adriano Imperador na fase boa, na Inter de Milão, na Seleção, finalizando de fora da área. Não esqueço aqueles dois gols dele contra a Argentina. Não é que me inspire, até porque fora de campo, não me inspiro em nada (risos).
A torcida espera muito pela sua estreia. A falta de entrosamento pode causar uma estreia abaixo do seu futebol na Ponte, por exemplo? As duas semanas treinando com o grupo ajudam?
Ajuda, claro. Tenho uma forma um pouco diferente de receber uma bola e conversamos para alertar os companheiros, para que eles entendam a maneira de jogar. Faz muita diferença. Mas, com o tempo, vamos conversando, acertando. Talvez sinta um pouco da falta de entrosamento. Só que eu já estou há duas semanas, eles me conhecem bastante. Para mim, vai ser uma honra e espero estrear bem. Até porque está todo mundo ansioso.
Teve um treino que você fez dois golaços por cobertura. É uma especialidade também?
Não, não. Não é minha especialidade fazer gol por cobertura, não. A especialidade é fazer gol de qualquer jeito. Até porque eu não sou de brincar na frente do gol.
Dadá Maravilha dizia: não existe gol feio, feio é não fazer gol.
O Dadá me deu esse conselho na Ponte Preta. Ele me entregou um prêmio e disse que eu era muito parecido com ele, mas que faltavam os gols de cabeça. E me disse que não existe gol feio.
E os gols de cabeça? Você tem de aprimorar?
Eu acho que sim, é o que eu tenho de aprimorar. Não faço muitos gols de cabeça, até porque eu me posiciono para receber a bola no espaço. Não sou aquele centroavante paradão. Se for ver, quem faz, são os atacantes que fazem pivô. Faço mais gol nas costas do zagueiro.
Pela TV, você parece mais alto.
A TV engorda também, vocês sabem disso. É complicado (risos).
Sobre o projeto Seleção, dá para sonhar jogando a Série B?
Sabemos que é mais complicado, mas nada é impossível. Não vou colocar número nem nada, mas se o Pottker fizer 50 gols na Série B, não tem como não ser convocado, né? É uma coisa muito difícil e quase impossível. Mas ano que vem, quem sabe. Eu vejo que hoje eu não estou em nível de Seleção ainda, tem muitos outros jogadores que estão na minha frente. Esses seis meses passam rápido e, logo, o Inter vai estar na Série A.
Você tem convicção de que o Inter sobe?
Cara, eu acho que tem de ser. Somos obrigados a subir. Não é possível que um clube dessa estrutura, dessa história, com esses títulos, permaneça na Série B. Não vai entrar na cabeça, assim como não entrou ainda que caiu. Isso não tem nem que ser falado. A gente vai subir e, se for possível, seremos campeões.
Vocês sentem que o Inter vai ser o time a ser batido?
Com certeza. Eu, na minha cabeça, sei que tenho que entrar em campo com vontade. Claro que vai prevalecer a técnica da nossa equipe. Mas a Série B é vontade, muita paulada e dividida. Temos de ganhar essas divididas também. Só com o nome, não vamos conseguir nem conquistar os resultados. Temos de colocar isso na cabeça para igualar na vontade, porque vamos prevalecer na técnica.
Você também esteve no centro de uma polêmica levantada pelo Corinthians, de que sua passagem seria rápida pelo Inter e que se transferiria para a China.
Sinceramente? Recebi isso na coletiva de apresentação, eu não sabia. A assessoria havia me passado que tinha surgido, mas soube ali naquele momento. Eu nem sabia disso, de China, nada. Não tem como chegar em um clube dessa grandeza e explicar para a torcida que vai sair. É meio estranho. Claro que, se chegar em dezembro e o Pottker for bem e uma possível negociação for boa para o clube, para o jogador... É dinheiro e, querendo ou não, o clube precisa para contratar e fazer novos investimentos. Claro que eu quero permanecer, tenho contrato. E se aparecer proposta, é porque eu estou fazendo um bom trabalho.
Dá para comparar a Série B com o Paulistão?
Eu estava conversando com o Zago de que a maioria dos jogadores do Paulistão é tudo da Série B. Eles se empregam na Segunda Divisão. Então, os amigos que eu enfrentei no Paulistão e os jogadores que o Inter enfrentou no Gauchão, vão estar na Série B. É um campeonato muito disputado e, muitas vezes, prevalece a vontade, e não a técnica. Vamos implantar isso.
Para o ano que vem, quais os projetos?
Eu estou torcendo muito que eles ganhem a Copa do Brasil, que nos levará para a Libertadores. Abre um leque grande de jogos e repercussão. Para nós, que estaremos representando o Inter, vai ser muito bom. Queremos competições de alto nível no ano que vem também.
Por que a escolha do número 99?
É a primeira vez que uso. Eu fui no Braga, de Portugal, o número 88. Agora, escolhi a 99. Foi bem aleatório mesmo. E até pedi para não mexer em camisa de ninguém, é uma coisa do Sasha e ele merece estar vestindo essa camisa. Então, nada mais justo que ele continuar com a 9 e eu com a minha 99.
Série B costuma ser uma competição difícil de conhecer os adversários. O que vocês sabem sobre o ABC?
Eu já joguei com dois atletas que estão lá. Por não acompanhar muito o Estadual, a gente fica sem informação. Mas a equipe do clube tem acesso a tudo, acompanham e vão passar a limpo os pontos fortes e fracos dele. Conheço o Nando, o atacante, e o Marquinho, que está machucado. Ainda não dei dicas, mas vou dar.
Você não gosta de falar em metas, mas a ideia é passar dos 14 gols no Brasileirão do ano passado?
Eu não gosto de falar das minhas metas. Isso me motiva e, mentalizando, atrai. Ano passado, coloquei meta de 10 gols na Série A e fiz 14. No Paulistão, coloquei a meta de 10 gols e fiz 9, não alcancei. Já fiz as minhas deste ano, mas vamos esperar o fim do ano. E se der certo, eu falo (risos).
Você escreve mesmo as suas metas do ano no teto do quarto? É superstição?
Não tenho superstição, não é. É uma coisa pessoal e que acho que é válido. Não significa que vai dar certo. Mas a gente planeja, estuda e vê o que a gente pode fazer na competição. Mas hoje moro de aluguel e não posso mais escrever no teto.
* ZHESPORTES