Tem um pesadelo que é relativamente comum e relativamente conhecido: a pessoa se imagina entrando na sua sala de aula ou no seu escritório. Cumprimenta as pessoas. Sorri, acena. Interage superficialmente com alguns, chega na sua cadeira e... percebe que está completamente pelada.
É um terror.
Um constrangimento do tamanho do mundo.
Mais ou menos como ser colorado e assistir a um jogo do Inter.
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Os minutos da partida de ontem, quando o Sport Club Internacional enfrentou o PRINCESA DO SOLIMÕES, foram de corar qualquer um que tenha um mínimo de simpatia pelo Colorado. Era vergonhoso. A vontade era de ir se enterrando devagarinho no sofá, procurando no buraco entre almofadas alguma saída para esse sofrimento.
Tudo era sofrível. O jogo do Inter se arrasta, não se desenvolve, fica preso a um marasmo triste e sonolento. Vão se sucedendo os jogos, a temporada vai começando de fato e a marcha do time não muda, não avança.
Vamos ao passo-a-passo da aflição:
1. A bola já sai torta da zaga. Paulão atira DUAS TELHAS para a frente e torce para que algum companheiro consiga dominar (isso quando ele acerta a direção das telhas atiradas).
2. Com algum esforço, Carlinhos segura a pelota. Dois dias depois, Carlinhos ainda está com a bola presa. Quando se vê, passaram-se 50 anos e Carlinhos ainda está ali, na mesma posição, com a bola nos pés. O cometa Halley já começa a iluminar a noite quando, graças ao papai do céu, Charles aparece para roubar a bola de Carlinhos e seguir a jogada.
3. D'Alessandro, meio que sem posição, meio que perdido, rodopia pelo gramado procurando alguma chance de carimbar a bola e prolongar o modorrento ataque colorado.
4. Depois de pingueponguear entre os nossos volantes e o que deveria ser o nosso meio de campo, a redonda volta para Paulão, que utiliza o seu movimento especial: o balão mágico.
5. Milagrosamente, a bola cai nos pés de Carlinhos, já na ponta-esquerda de ataque. Quatro anos, 11e meses e 27 se passam até que Carlinhos resolva o que fazer com a jogada. Carlinhos cruza.
6. Carlos, sozinho na grande área, erra em bola. Tiro de meta para eles.
A vontade de cavar um buraco no chão e enfiar ali a cabeça só não virou de fato realidade por conta de um segundo tempo em que uma equipe profissional de futebol conseguiu, enfim, superar uma equipe praticamente amadora. E não foi na habilidade, na técnica ou no esquema tático. Foi no físico.
Só quando as pernas de RANDERSON, PELEZINHO, GELVANE, PASTOR, MICHELL PARINTINS e cia. começaram a pesar, o Inter conseguiu ter alguma vantagem em campo. Só aí o time de Antônio Carlos Zago conseguiu chutar na direção do gol. Valdívia e Brenner entraram e marcaram.
A passos de formiga e sem vontade, avançamos na Copa do Brasil mesmo que constrangidos. Para as próximas rodadas, já te digo: fazer um cooper nu pelo escritório pode ser menos constrangedor do que assistir ao Inter jogar futebol.
*ZHESPORTES