Engana-se quem pensa que o Sport de Paulo Roberto Falcão vem a Porto Alegre para jogar por uma bola. O ex-volante do Inter quer o time pernambucano organizado taticamente, compacto e com ímpeto para o ataque. O cansaço da viagem desde a Argentina, quando foi eliminado da Copa Sul-Americana na última quarta, pode ser o empecilho para isso.
Inter x Sport: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
Contudo, afirma Falcão, se o Sport almeja mais no Brasileirão e projeta um 2016 internacional, o confronto no Beira-Rio é tido como fundamental. Nesta entrevista a ZH, Falcão, 61 anos, fala sobre o novo clube - assumido há menos de 15 dias -, suas convicções sobre o futebol, o reencontro com o Inter e a estreia no remodelado Beira-Rio.
Há menos de 15 dias no comando do Sport, você sequer teve tempo para treinar.
A vitória contra a Chapecoense era importante para a sequência. Ela nos levou a 40 pontos, nos deixou perto do G-4. O que nos dá a certeza de que esse jogo contra o Inter é decisivo, pois temos os próximos dois jogos em casa (Avaí e Atlético-MG). O plano inicial do Sport, quando eu cheguei, era ficar entre os 10 primeiros. Mas eu quero chegar mais perto do G-4.
Após treinar o Bahia em 2012, você aceita novo um trabalho no Nordeste. Por que o Sport?
O que eu quero é que o torcedor do Sport tenha prazer em vir ver o time jogar. Eu não invalido ou desrespeito quem só pensa em ganhar. É bom, mas tem de se jogar bem para ganhar. Se você não joga bem, você até ganha, mas lá na frente, tropeça. Teu time vira estatística. Você tem de construir um time, que ganhe e que permaneça jogando bem. Esse é meu desafio.
É possível fazer isso em um trabalho já em final de temporada?
O ideal não existe. O que me interessa em uma situação como essa é a estrutura, filosofia de trabalho a longo prazo, capacidade e condições de trabalho, sentimento de seriedade. O Sport me deu condições de vislumbrar algo lá na frente. Eu assumi na terça e quarta tinha Sul-Americana. Comandei o time sem conhecer os jogadores. Mas prefiro não valorizar aquilo que não tenho. Valorizo o que tenho. Tenho um grupo que reagiu muito bem dentro do que é possível fazer em um período tão curto.
O Falcão evoluiu de 2011, quando voltou a ser treinador, para cá?
O Brasil ficou muitos anos dependendo do talento e nunca houve preocupação com o tático. A qualidade definia. Hoje, o trabalho do treinador é fundamental para casar as características dos jogadores. Nesse sentido, você tem de conversar com as pessoas da Europa, eles aprenderam a nos vencer taticamente. Foi o que eu fiz agora e sempre fiz até mesmo quando atuava como comentarista. Nós temos a pretensão de achar que jogamos o melhor futebol do mundo. E não jogamos faz horas. Temos de ter humildade para reconhecer isso. A humildade é um grande passo para a grandeza, você reconhece e busca as situações.
Muito se dizia que o caráter de ídolo do clube prejudicou sua passagem pelo Inter. No Sport, isso é diferente?
Eu tento passar para eles o que eu sei. Sem dizer em nenhum momento que joguei muito, por exemplo. O muito é relativo. Não me preocupo com a questão de idolatria. Mas não jogo dois toques, evito falar que "no meu tempo foi assim". Quero usar o que aprendi no meu tempo de futebol, mas em favor deles. Não como se eu fosse superior. Quero tirar o máximo que puder do Sport para fazer o time jogar bem. Se jogou mal e ganhou, não sei onde vai parar. Se jogar bem, belisca algo lá na frente.
Falcão é apresentado no Sport: "Grupo já mostrou qualidades"
O Inter poderia ser um adversário mais forte do que se apresenta hoje?
É difícil dizer. O Inter é um clube grande, investiu e quando se investe as pessoas querem resultados. Se um time não ganha, ou ganha pouco, a torcida vai cobrar. Indiretamente, o Inter acostumou "mal" o torcedor. As cobranças têm de servir de motivação para os jogadores. Elas vêm porque o grupo fez acontecer.
Será sua estreia como treinador no novo Beira-Rio.
Não é um jogo comum. Envolve muita coisa. Mas isso é algo que não quero pensar. Vou sentir algo apenas amanhã durante o jogo. Não tiro essa questão para motivação pessoal ou para motivar os jogadores. O treinador trabalha até o atleta entrar em campo. Depois, é com eles. Espero que o Sport seja mais protagonista do jogo.
Talvez os jogadores queiram lhe dar a vitória pensando nisso.
Tomara que eles dêem (risos). Mas não vou trabalhar isso. Não sou motivador de beira de campo, treinador sanguíneo, como dizem. Em alguns momentos que eu achar necessidade, até posso fazer algo diferente. Mas não acredito nisso de treinador sanguíneo. Respeito as formas de se trabalhar. Às vezes, na beira do campo, você pode gritar, se movimentar. Estou tentando passar aos jogadores que eles se cobrem naquilo que foi treinado e orientado. Não tive tempo de trabalhar.
Presidente do Sport rebate críticas sobre contratação de Falcão
Ainda há mágoa de sua parte pelo que houve com o Inter em 2011?
O que eu tinha de dizer, já disse. Não mudo nada do que disse, pois não falo nada sem pensar. O que aconteceu todos sabem, não vou voltar no assunto. Foi tudo muito pontual, faz quatro anos. As coisas acontecem quando têm de ser. Não é o Falcão que vai jogar contra o Inter. É o Sport, dirigido pelo Falcão. E será contra um clube que eu joguei 16 anos. Fui o primeiro jogador do Inter a sair para a Europa, levei o nome do Inter para a Europa. Dei minha contribuição para a história do clube. Mas a vida anda. O que aconteceu lá atrás não pode te travar, tem de servir de estímulo para você usar e buscar o que você quer.
O Sport jogará por uma bola?
De forma alguma. E se essa bola não acontecer? Na melhor das hipóteses você empata. E quando você joga pelo empate você está mais próximo de perder. O empate não é bom nem para critério. Muitas vezes é melhor ganhar um jogo em tres do que empatar três. O objetivo não é jogar para empatar, nenhum dos times quer isso.
Acompanhe o Inter através do Colorado ZH. Baixe o aplicativo:
IOS
Android
*ZHESPORTES