Quando a imensa maioria do eleitorado vermelho elegeu Vitorio Piffero em dezembro, os colorados votaram em um presidente com virtudes e defeitos bem mapeados. Acima de tudo, prevaleceu a preferência da torcida por um dirigente conhecido pela capacidade de indignação e pela ambição de formar um time em condições de brigar novamente por títulos.
Desgostosos com discursos conformistas nas últimas temporadas, os torcedores sentiam falta de uma entrevista forte no vestiário. No primeiro jogo oficial do ano, Piffero não dourou a pílula: classificou como péssima a atuação do Inter contra o Lajeadense. Foi um bálsamo para os ouvidos de muitos torcedores, já fartos com surradas desculpas para justificar más desempenhos e fracassos dentro de campo. O homem que não teme chutar portas de vestiário definitivamente estava de volta, em sua versão 2015.
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Pois o presidente sem freios avançou o sinal fechado após o empate contra o São José. Ao "sugerir" a Diego Aguirre, via imprensa, a retirada de um atacante do time para reforçar a marcação no meio-campo e apontar o dedo para Sasha, Piffero pisou feio na bola. Agora, o técnico está embretado: se bancar o camisa 31 entre os titulares, a escalação poderá soar como desafio à autoridade do presidente. E, num regime presidencialista, a afronta ao presidente nunca poderá ser considerado um ato de sensatez.
Mas se decidir sacar Sasha do time e, dessa forma, demonstrar sua suscetibilidade a carteiraços, o uruguaio corre o risco de perder o respeito dos jogadores - logo, o controle do vestiário. Invariavelmente, esse é o caminho mais curto para as derrotas.
Sempre considerei que os dirigentes podem e devem questionar decisões dos treinadores, mas jamais publicamente. Sobretudo o presidente, que deveria se resguardar no papel de moderador - em tese, é última instância do clube. E, futebolisticamente falando, Piffero cometeu uma grande injustiça com o jovem atacante (curioso que esse tipo de deslize não ocorre com veteranos ). Se algum jogador merece uma vaga hoje entre os titulares do Inter, esse cara é Eduardo Sasha.
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Confesso que não alimentava nenhuma expectativa em relação ao guri que despontou como sucessor de Pato, em 2010. Eu estava no Beira-Rio em um domingo de setembro, quando Sasha fez sua estreia nos profissionais, aos 18 anos. O atacante entrou em meio ao jogo contra o Goias pelo Brasileirão, um empate sem graça e sem gols. Sasha definitivamente não impressionou os torcedores em sua primeira oportunidade. E essa foi a regra até ser emprestado para Goiás.
Depois de duas temporadas no time goiano, Sasha voltou ao Beira-Rio justamente no pior cenário para um jogador emergente: com Abel no comando do time. É verdade que "ganhou" uma ou outra "chance" na equipe reserva no início do Gauchão 2014, mas nada que fugisse do modus operandi de nosso ex-treinador. Logo, logo, o atacante acabou empurrado para o fim de uma fila encabeçada por JH e WP (é dose ).
Vale lembrar: não fosse a lesão do craque tático contra o rebaixando Botafogo no Beira-Rio, somado ao afastamento temporário de He-Man (diga-se de passagem, para a própria preservação do "centroavante das notas oficiais"), Sasha dificilmente receberia uma oportunidade em um time que começava a naufragar no Brasileirão (o Inter vinha de quatro derrotas em cinco jogos). Foi um sopro de velocidade e contundência numa equipe que pecava pela lentidão e falta de objetividade.
Mas, no meu íntimo, lembrava de um velho adágio popular. "Em terra de cego, quem tem um olho só é rei". Sim, ainda permanecia com dúvida em relação ao potencial de Sasha. Na volta aos gramados após a fratura no pé, no entanto, Sasha vem provando seu valor jogo a jogo. Até o momento, é o atleta que mais tem demonstrado aptidões para atacar com qualidade e ajudar nas tarefas defensivas. Tem presença na área, joga pelos lados, volta para marcar, sobe alto nos cabeceios. Só precisa melhorar um pouco mais as finalizações.
Por meritocracia, hoje é Sasha e mais 10 no Colorado.
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