
Quantos estrangeiros são necessários para formar uma Torre de Babel? No Grêmio, 11. De sete países diferentes. Contribuição forte para o que deve ser a final de Gauchão mais internacionalizada da história. O Inter conta com sete estrangeiros. Se todos fossem utilizados ao mesmo tempo na final de sábado (8), o que é impossível, seriam 18 gringos, o equivalente a 81% dos jogadores em campo.
Além de lesionados dos dois lados, há um limite de estrangeiros em partidas de competições nacionais. O Regulamento Geral de Competições da CBF permite a utilização de, no máximo, nove jogadores nascidos fora do país por partida. A dilatação medida foi adotada desde o ano passado. Em torneios internacionais, como a Copa Sul-Americana, não há limitação.

Quando tiver todos os estrangeiros em campo, o técnico Gustavo Quinteros terá de escolher ao menos um para ficar de fora ou promover um rodízio nas partidas do Brasileirão e da Copa do Brasil. No momento, o zagueiro argentino Walter Kannemann se recupera de cirurgia no quadril. Não há previsão para o seu retorno. Com lesão muscular, Cuellar também é desfalque.
— Este é um tema importante, mas será de acordo com o jogo. Se precisarmos de mais força no ataque, poderemos usar mais estrangeiros no ataque. Se necessitamos ser mais fortes e sólidos na defesa, poderemos utilizar mais estrangeiros na defesa. O mais importante é ter os jogadores para completar o plantel e poder competir com as outras equipes grandes — resumiu Quinteros, após a vitória por 5 a 0 sobre o Pelotas, na primeira fase do Estadual.

Ineditismo
O Grêmio nunca contou com tanta gente nascida fora do Brasil em tempos modernos. Isso sem considerar o treinador, outro estrangeiro, nascido na Argentina e naturalizado boliviano, nacionalidade que o permitiu disputar a Copa do Mundo de 1994.
Os ouvidos de Quinteros escutam diversos sotaques e três línguas distintas. Os jogadores nasceram em três continentes diferentes. Além dos tradicionais sul-americanos, o elenco conta com Francis Amuzu, belga nascido em Gana, e Martin Braithwaite, da Dinamarca.
As diferentes pronúncias do espanhol ficam por conta dos argentinos Franco Cristaldo e Kannemann, do paraguaio Mathías Villasanti, os uruguaios Cristian Olivera e Matías Arezo, o chileno Alexander Aravena e os colombianos Gustavo Cuéllar e Miguel Monsalve.

Desafio do idioma
A mistura multicultural causa desafios na comunicação e trouxe uma cena inusitada. Na primeira fase da Copa do Brasil, Quinteros promoveu a estreia do recém-chegado Amuzu, apresentado oficialmente com a presença de um tradutor. O técnico não fala inglês, língua que o atacante usa para se comunicar nos primeiros dias em Porto Alegre. O belga não entende espanhol.
Em determinado momento, a partida parou, Quinteros, Amuzu e Braithwaite fizeram um bolinho. O dinamarquês fluente na língua de Shakespeare serviu de tradutor na conversa. De certo modo funcionou, o Grêmio empatou o jogo e se classificou à segunda fase nos pênaltis.
No fim das contas, a língua que realmente importa no futebol é a da bola rolando. E se dentro de campo todos falarem a mesma linguagem, nenhum gremista se importará com a variedade de sotaques gritando campeão, ou campeón ou champion.

A expressão Torre de Babel
Torre de Babel é um mito fundador bíblico, presente no livro de Gênesis (11:1-9). Ele é usado como uma explicação para o surgimento da diversidade de línguas existentes na humanidade. A Torre seria uma espécie de zigurate, uma construção religiosa erguida na Babilônia, embora acredite-se que a história tenha origem na Mesopotâmia.
A narrativa relata que após o dilúvio, algumas pessoas fixaram residência em um determinado ponto. Juntas, decidiram criar uma cidade e erguer a Torre. A intenção era fazer com que o empreendimento alcançasse o céu. A medida evitaria a dispersão dessas pessoas.
Deus desceu dos céus e foi à cidade e interveio sobre a Torre. Criou grande desordem ao inventar diferentes idiomas. A confusão pela dificuldade de comunicação impediu que a Torre fosse finalizada e aquele grupo de pessoas se espalhou pelo mundo.
