Um dos grandes nomes daquele Flamengo multicampeão sob o comando de Jorge Jesus, em 2019, hoje veste a camisa do Grêmio. Rafinha, 35 anos, chegou a Porto Alegre em março após uma negociação frustrada para retornar ao clube carioca a pedido do então técnico tricolor Renato Portaluppi. Nesta quarta-feira (25), no duelo pelas quartas de final da Copa do Brasil, os lados se inverteram.
Rafinha veste azul, enquanto Renato comanda o time vermelho. Eles se enfrentaram nos duelos de semifinais da Libertadores de 2019, quando o Flamengo de Rafinha goleou o Grêmio de Renato por 5 a 0 no jogo de volta, no Maracanã. Tanta coisa mudou de lá para cá que, além da troca de times dos dois, o lateral é cotado para jogar pela esquerda, e não na direita onde fez tanto sucesso no Rio.
— Enfrentei ele quando jogava no Hertha Berlim e o Rafinha estava no Schalke 04, na Alemanha. É muito bom jogador, já demonstrou isso na carreira. Mas jogar no lado contrário é complicado pelo gestual, a maneira de dominar a bola, de marcar. Quando fica com a perna invertida, sempre trabalha a bola para dentro, e isso pode prejudicar muito — relata Gilberto, ex-lateral-esquerdo de Grêmio e Flamengo, que teve essa experiência invertido pelo lado direito.
— Em 1997, em um jogo pelo Flamengo contra o próprio Grêmio, o Joel Santana me colocou pela direita e o Athirson na esquerda. Senti muita dificuldade, mas tem atleta que consegue se adaptar mais fácil. Júnior teve sucesso na esquerda mesmo sendo destro, mas não foi da noite pro dia. Teve tempo. Mas é difícil essa adaptação — complementou o ex-lateral, que há quatro meses é coordenador do Projeto de Desenvolvimento Individual (PDI) do Flamengo, que serve para lapidar as promessas da base do clube.
Histórico lateral-direito do Grêmio, campeão da América e do Mundo pelo clube em 1983, Paulo Roberto acha arriscado colocar Rafinha pela esquerda em um jogo decisivo como o desta quarta-feira. Além disso, considera uma situação delicada improvisar um jogador na posição tendo duas opções como Diogo Barbosa e Bruno Cortez à disposição.
— Sou contra, não gosto de improvisações. Se eu fosse treinador, não faria, até porque tem dois laterais em condições de jogar. Acho humilhante para os laterais-esquerdos ficarem no banco para um lateral-direito jogar improvisado pela esquerda. É uma situação delicada e eu jamais faria isso só para o Rafinha estar no time titular. Independentemente de eles estarem rendendo ou não, acho importante ter um jogador da posição ali, sem improvisar. Acho que o Rafinha do lado esquerdo não rende o esperado. Uma coisa é improvisar contra o Cuiabá e outra contra o Flamengo, acho temerário — destaca "Coelhinho".
Inicialmente, ao ser questionado em uma entrevista sobre a possibilidade de utilizar Rafinha pela esquerda, Felipão garantiu que não faria essa troca de lado do veterano. Porém, na vitória por 1 a 0 sobre o Cuiabá na quarta-feira da semana passada, ele foi escalado pela esquerda, sob a justificativa de que daria experiência a um setor com vários atletas jovens, como Vanderson, Ruan e Rodrigues. Essa explicação, no entanto, não convenceu o jornalista Sérgio Xavier Filho, comentarista dos canais SporTV, que entende que a escalação de Rafinha se deve por uma questão de gestão de grupo.
— Uma coisa é o discurso, outra bem diferente é a vida real. Essa fala do Felipão de que queria dar experiência à defesa não faz o menor sentido, porque o Rodrigues e o Ruan estão jogando sem nenhum problema. A questão não é essa, é como acomodar o Rafinha no time. Colocar ele na esquerda é uma forma de resolver uma questão de vestiário, porque é um jogador caro, importante para o ambiente do time. Já teve experiência lá fora jogando nessa posição, acho bem possível que o Felipão use ele de novo pela esquerda. Só não caio nessa conversa de que foi porque Kannemann e Geromel não estavam — diz o jornalista.
No Bayern de Munique, Rafinha jogou na lateral esquerda tanto com Pep Guardiola quanto sob o comando de Jupp Heynckes. Fez, inclusive, algumas de suas melhores partidas na Alemanha jogando pelo lado contrário. É baseado nisso que o Grêmio espera que o jogador possa ajudar não apenas diante do Flamengo, mas resolvendo um problema do elenco, que tem Cortez e Diogo Barbosa atuando abaixo das expectativas na posição. Quem sabe neste duelo de mata-mata Rafinha acabe de vez com a dúvida se pode jogar em alto nível pela esquerda. Para ele, mais do que nunca, é importante que funcione a lei do ex.